Com dados do satélite Gaia, da Agência Espacial Europeia (ESA), astrônomos descobriram que há dois grandes grupos de asteroides: os que giram sobre seu eixo e os que rodam caoticamente. Entender essas classificações podem ajudar na defesa da Terra contra potenciais colisões.
Os pesquisadores notaram que nas informações coletadas pelo satélite há um intervalo. Durante seu levantamento do céu, que gerou o mapa mais preciso da Via Láctea, Gaia coletou informações sobre como a luz refletida por um asteroide muda conforme ele gira. Quando esses dados são inseridos em um gráfico, surge uma lacuna, que parece separar duas populações distintas.

De um lado da “fronteira” estão os que giram lentamente, com períodos de rotação de cerca de 30 horas, enquanto do outro estão os asteroides “puros”, que rodam rapidamente sobre seu eixo. O comportamento de rotação desses corpos intrigou astrônomos por décadas. Em seu novo estudo, o grupo foi em busca de resolver esse mistério.
“Desenvolvemos um novo modelo de evolução do giro dos asteroides, que equilibra dois processos: colisões no Cinturão de Asteroides, que podem desestabilizar sua rotação, e o atrito interno, que a estabiliza novamente. O equilíbrio entre ambos define uma linha divisória na população de asteroides”, explicou Wen-Han Zhou, líder do estudo e pesquisador da Universidade de Tóquio, em um comunicado.
Zhou apresentou a descoberta na Reunião Conjunta do Congresso Científico Europlanet (EPSC) e da Divisão de Ciências Planetárias (DPS), realizada em Helsinque, Finlândia, em setembro. Os resultados também foram publicados na revista científica Nature Astronomy.
Luz solar é um dos fatores para a rotação dos asteroides
Os pesquisadores descobriram que as colisões e a influencia da luz solar são a chave para entender a rotação dos asteroides. O movimento caótico, também chamado de tombamento ou queda, começa lentamente e, caso seja perturbado por colisões, acelera de forma desordenada.
Em asteroides comuns, a superfície da rocha absorve o calor do Sol e o reemite em várias direções. Cada fóton liberado exerce um leve empurrão sobre o corpo, e esse efeito, ao se acumular com o tempo, pode acelerar ou desacelerar sua rotação. Quando o asteroide gira de forma estável em torno de seu eixo, as direções de absorção da luz permanecem constantes, e o efeito se intensifica.

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Em asteroides de movimento caótico, no entanto, o efeito da luz solar é mais fraco. Como seu giro é desordenado, diferentes partes da superfície absorvem o calor a qualquer momento, então a força do empurrão não se acumula. Esses objetos tendem a manter sua rotação lenta, exceto se forem perturbados por colisões.
Padrão de giro pode revelar a composição dos asteroides
A equipe acredita que compreender como a estrutura dos asteroides se relaciona com sua rotação é o próximo passo para desvendar as propriedades internas desses corpos. O novo estudo colabora com a ideia de que os asteroides são grandes pilhas de entulho unidas, com buracos e cavidades cobertos por regolito (material fragmentado) espesso.
Entender a composição dos asteroides também é essencial para a defesa da Terra. Segundo o grupo, uma pilha de entulho reagiria de modo diferente a um impacto cinético em comparação a um corpo sólido e rígido. Com as novas descobertas, astrônomos poderão catalogar a estrutura interna de asteroides potencialmente perigosos, um conhecimento chave para desviá-los em casos futuros.
“Com pesquisas futuras como o Levantamento de Legado do Espaço e do Tempo do Observatório Vera C. Rubin (LSST), poderemos aplicar esse método a milhões de asteroides, refinando nossa compreensão de sua evolução e composição”, concluiu Zhou.