Já viu ouro nascer em árvore? Na Lapônia, isso acontece

Já sabemos que dinheiro não nasce em árvores, como o velho dito nos conta. O mesmo não podemos dizer do ouro — que cresce, especificamente, nas árvores que ficam na Lapônia.

Um novo estudo descobriu uma ligação entre bactérias que vivem em agulhas de abeto norueguesas com a formação de nanopartículas de ouro. A novidade, se for bem aproveitada, poderá guiar caçadores a verdadeiras minas escondidas.

Barras de ouro
Nanopartículas do metal podem, sim, ter potencial de enriquecimento (Imagem: TSViPhoto/Shutterstock)

O processo que caracteriza isso é a biomineralização, no qual micróbios e oxidação ajudam os íons de metal a viajar por solo, caules e folhas. Ele faz com que traços de metais se acumulem em tecidos vegetais.

É sabido que, com o ouro, a coisa também acontece. Por exemplo, algumas espécies de eucaliptos da Austrália contêm quantidades microscópicas do metal em suas folhas graças a suas raízes ultra-flexíveis que crescem bem fundo em solos ricos de sedimentos de ouro, lembra o IFLScience.

Mas o processo exato da biomineralização não está totalmente claro e é incerto por que isso ocorre em algumas árvores individuais, mas não em outras.

Pesquisa que aponta “minas” de ouro em árvores

  • Os pesquisadores da Universidade de Oulu (Finlândia) foram fundo no mistério e coletaram 138 amostras de agulhas de 23 abetos da Noruega (Picea abies);
  • Elas foram encontradas próximas à mina de ouro Kittilä, a maior da Europa, localizada na região da Lapônia, norte da Finlândia;
  • Mas somente em quatro dessas árvores foram encontradas nanopartículas de ouro, cercadas por biofilmes bacterianos;
  • O sequenciamento do DNA desses biofilmes revelou que as agulhas recheadas do metal são abundantes especialmente em grupos de bactérias, como o P3OB-42, Cutibacterium e Corynebacterium;
  • Segundo os pesquisadores, essas bactérias seriam cruciais para o processo;
  • A pesquisa está publicada no Environmental Microbiome.
Mina de ouro
Exemplo de mina de ouro; os abetos alvos do estudo foram encontrados próximas à mina de ouro Kittilä, a maior mina da Europa (Imagem: WILLIAM LUQUE/Shutterstock)

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Segundo a doutora Kaisa Lehosmaa, autora principal do estudo e pesquisadora de pós-doutorado na Universidade de Oulu, “nossos resultados sugerem que bactérias e outros micróbios vivendo em plantas podem influenciar a acumulação de ouro em árvores”.

Ela prossegue, explicando que “nosso recente estudo traz evidências preliminares de como o ouro se move em brotos de plantas e como suas nanopartículas se formam dentro das agulhas”.

“No solo, o ouro está presente em forma líquida e solúvel. Levado pela água, o ouro se move nas agulhas de abeto. Os micróbios das árvores, então, podem precipitar o ouro solúvel em nanopartículas sólidas“, afirma.

É importante frisar que, apesar de essas partículas terem poucos nanômetros em tamanho, são grandes o bastante para constituir o que a bactéria necessita. Mesmo em grande quantidade, as nanopartículas não serão suficientes para se transformar em uma boa quantia de dinheiro. Dito isto, as habilidades de lixiviação do metal em árvores pode, potencialmente, levá-lo a uma boa fortuna, segundo o IFLScience.

Em 2019, uma empresa de exploração mineral chamada Marmota usou pequenas folhas para avisá-los que as árvores estavam acima de um depósito de ouro. Segundo a New Scientist, os esforços os levaram a uma veia subterrânea, de seis metros de espessura, com 3,4 gramas de ouro por tonelada.

Os abetos desse último estudo estão em região conhecida por ser um depósito do metal, mas os pesquisadores acreditam que seu trabalho pode ser usado para guiar futuros esforços de exploração.

Representação de ouro líquido
No solo, o metal mais cobiçado do mundo é encontrado na forma líquida e solúvel (Imagem: Yaran
/Shutterstock)

“Isso sugere que essa bactéria associada ao abeto em específico por ajudar a transformar ouro solúvel em partículas sólidas dentro das agulhas. Esse conhecimento é útil, visto que a triagem dessa bactéria nas folhas pode melhorar a exploração de ouro”, finaliza Lehosmaa.