Juruá Informativo

“Lobo” das Ilhas Malvinas era raposa domesticada na América do Sul

“Lobo” das Ilhas Malvinas era raposa domesticada na América do Sul

Um novo estudo publicado no Biological Journal of the Linnean Society revelou que o chamado lobo” das Ilhas Malvinas – considerado o único mamífero nativo do arquipélagonão era um lobo, mas, sim, a última população sobrevivente de uma espécie de raposa domesticada na América do Sul.

Por muito tempo, acreditava-se que o animal, conhecido cientificamente como Dusicyon australis, fosse uma espécie própria, que teria se separado das raposas sul-americanas há cerca de 16 mil anos. No entanto, novas análises genéticas e arqueológicas indicam que ele era descendente direto do Dusicyon avus, uma espécie domesticada por caçadores-coletores sul-americanos antes mesmo da domesticação dos cães.

Ilhas Malvinas
Espécie desembarcou nas Ilhas Malvinas há anos (Imagem: Juergen Brand/Shutterstock)

Raposa sul-americana? Qual é a história dela, então?

Leia mais:

“Quando colonos europeus chegaram às praias das Malvinas, encontraram uma criatura de pelagem castanha, semelhante a um lobo, do tamanho de um pequeno labrador”, afirmou o professor Samuel Turvey, pesquisador do Instituto de Zoologia da ZSL e autor principal do estudo, ao IFLScience.

Desenho do lobo das Ilhas Malvinas por JG Keulemans, publicado em 1890 em “Dogs, jackals, wolves, and foxes”, monografia dos canídeos (Imagem: Bilblioteca ZSL)

“Assim como o famoso dodô, acreditava-se que milênios de evolução sem predadores haviam gerado um animal completamente destemido diante das pessoas, mas a realidade era mais complexa – e mais trágica.”

Segundo Turvey, “a simpatia que tornou esse canídeo um alvo fácil para caçadores não se devia à falta de contato com humanos, mas ao fato de que ele um dia viveu ao nosso lado”.

O pesquisador destacou ainda que essa descoberta “não é apenas um desfecho comovente para uma história trágica”, mas, também, “muda fundamentalmente nossa compreensão sobre o que levou essa espécie à extinção e tem implicações mais amplas para o estudo de extinções causadas por humanos hoje”.

Renomear a espécie?

Com a nova descoberta, os cientistas recomendam que a espécie D. avus passe a ser oficialmente chamada de D. australis, reconhecendo que se trata do mesmo animal. O entendimento revisado de sua história evolutiva pode ajudar a refinar estratégias de conservação de espécies atuais.

Reconstrução artística de um Dusicyon avus (Imagem: Juandertal/CC BY-SA 4.0)

“Não podemos trazer o lobo das Malvinas de volta, mas sua história nos ajuda a proteger a vida selvagem que ainda temos hoje”, disse Turvey. “Ao aprimorar nossa base de conhecimento sobre a vulnerabilidade das espécies, podemos prever melhor como elas respondem à pressão humana e planejar ações de conservação de forma mais eficaz.”

Sair da versão mobile