Um novo estudo publicado no Biological Journal of the Linnean Society revelou que o chamado “lobo” das Ilhas Malvinas – considerado o único mamífero nativo do arquipélago – não era um lobo, mas, sim, a última população sobrevivente de uma espécie de raposa domesticada na América do Sul.
Por muito tempo, acreditava-se que o animal, conhecido cientificamente como Dusicyon australis, fosse uma espécie própria, que teria se separado das raposas sul-americanas há cerca de 16 mil anos. No entanto, novas análises genéticas e arqueológicas indicam que ele era descendente direto do Dusicyon avus, uma espécie domesticada por caçadores-coletores sul-americanos antes mesmo da domesticação dos cães.

Raposa sul-americana? Qual é a história dela, então?
- Essas raposas foram encontradas em tumbas humanas, sugerindo que viviam como animais de estimação;
- Quando parte dessa população se estabeleceu nas Ilhas Malvinas, manteve o comportamento domesticado e a ausência de medo dos humanos – o que acabou se tornando fatal com a chegada dos colonizadores europeus no século XVII;
- Charles Darwin foi um dos poucos humanos a observar o chamado lobo-das-Malvinas em vida;
- Ele acreditava que o isolamento do animal o havia tornado destemido diante de pessoas e previu que essa característica levaria à sua extinção, o que, de fato, ocorreu;
- O que Darwin não sabia é que a docilidade do animal não era fruto do isolamento, mas de um passado de convivência com os humanos.
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“Quando colonos europeus chegaram às praias das Malvinas, encontraram uma criatura de pelagem castanha, semelhante a um lobo, do tamanho de um pequeno labrador”, afirmou o professor Samuel Turvey, pesquisador do Instituto de Zoologia da ZSL e autor principal do estudo, ao IFLScience.
“Assim como o famoso dodô, acreditava-se que milênios de evolução sem predadores haviam gerado um animal completamente destemido diante das pessoas, mas a realidade era mais complexa – e mais trágica.”
Segundo Turvey, “a simpatia que tornou esse canídeo um alvo fácil para caçadores não se devia à falta de contato com humanos, mas ao fato de que ele um dia viveu ao nosso lado”.
O pesquisador destacou ainda que essa descoberta “não é apenas um desfecho comovente para uma história trágica”, mas, também, “muda fundamentalmente nossa compreensão sobre o que levou essa espécie à extinção e tem implicações mais amplas para o estudo de extinções causadas por humanos hoje”.
Renomear a espécie?
Com a nova descoberta, os cientistas recomendam que a espécie D. avus passe a ser oficialmente chamada de D. australis, reconhecendo que se trata do mesmo animal. O entendimento revisado de sua história evolutiva pode ajudar a refinar estratégias de conservação de espécies atuais.
“Não podemos trazer o lobo das Malvinas de volta, mas sua história nos ajuda a proteger a vida selvagem que ainda temos hoje”, disse Turvey. “Ao aprimorar nossa base de conhecimento sobre a vulnerabilidade das espécies, podemos prever melhor como elas respondem à pressão humana e planejar ações de conservação de forma mais eficaz.”