A condenação de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal não é apenas um divisor de águas na política nacional. No Acre, onde o ex-presidente obteve uma das maiores votações proporcionais do país nas duas últimas eleições presidenciais, o impacto será ainda mais profundo. A direita local, que sempre bebeu da fonte bolsonarista, entra em 2026 diante de uma encruzilhada.
De um lado, está Mailza Assis. A ex-senadora e atual vice-governadora de Gladson Cameli é vista como o nome mais próximo de uma direita moderada, de diálogo, que evita discursos extremados e tenta se posicionar como herdeira da estratégia de Cameli: um projeto mais pragmático do que ideológico.
Do outro lado, o senador Alan Rick, que encarna a ala fiel do bolsonarismo. Ele não esconde suas posições: defende a anistia dos presos do 8 de janeiro, flerta com a ideia de impeachment de Moraes e, em cada discurso, mantém a chama de Bolsonaro acesa no estado. Rick representa o núcleo duro da direita que ainda se guia pelo ex-presidente, mesmo após a condenação.
Mas há um terceiro nome que pode embaralhar o jogo: o prefeito de Rio Branco, Tião Bocalom. Se confirmar candidatura, Bocalom tende a ser o mais competitivo entre os bolsonaristas. Ele é do PL, partido de Bolsonaro, e tem com o ex-presidente uma ligação direta — tanto que o próprio Bolsonaro e Michelle Bolsonaro vieram pessoalmente ao Acre para oficializar sua filiação. Essa chancela, caso convertida em palanque estadual, pode atrair de maneira mais natural o voto fiel ao bolsonarismo, reduzindo o espaço de Alan Rick e fortalecendo a presença do PL no estado.
Aqui está o ponto curioso — e que escancara a divisão interna. Mesmo entre os mais ferrenhos bolsonaristas do Acre, Alan Rick não terá a adesão automática. O senador Márcio Bittar, o próprio Bocalom e o deputado Coronel Ulysses são três exemplos de políticos que defendem Bolsonaro até o fim, mas dificilmente estarão juntos em torno de Rick em 2026. Essa fragmentação revela que a direita acreana, antes unificada pelo fenômeno eleitoral Bolsonaro, agora busca novos rumos — e não fala mais a mesma língua.
O maior desafio será entender para onde vai o eleitor bolsonarista acreano, que foi determinante em 2018 e 2022 para eleger deputados, senadores e até prefeitos sob o guarda-chuva da “onda Bolsonaro”. Sem o ex-presidente na disputa, os candidatos terão que provar se têm fôlego próprio ou se eram apenas coadjuvantes da sua popularidade.
Mailza pode conquistar parte desse eleitorado caso consiga se apresentar como uma gestora conservadora sem radicalismos, repetindo a cartilha de Gladson Cameli. Já Alan aposta que a lealdade ao bolsonarismo raiz ainda terá peso suficiente para levá-lo ao segundo turno. Mas, se Bocalom de fato entrar na corrida, a tendência é que ele roube a dianteira desse público, já que reúne a combinação de partido, chancela direta e estilo político que mais dialoga com a base bolsonarista.
No fim das contas, a pergunta que vai definir 2026 no Acre é simples: o estado continuará votando no bolsonarismo, ainda que sem Bolsonaro na urna, ou abrirá espaço para uma direita mais palatável, de centro, como a de Mailza Assis? O resultado vai mostrar se o bolsonarismo é apenas um fenômeno colado à figura do ex-presidente ou se já virou, de fato, uma identidade política independente no Acre.

