Os casos recentes de intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas no estado de São Paulo podem estar relacionados a uma operação que desmantelou um esquema de falsificação no setor de combustíveis envolvendo o PCC. O metanol importado pelo crime organizado teria sido redirecionado para distribuidoras clandestinas de bebidas após a ação da Receita Federal, deflagrada em agosto. A suspeita foi levantada pela Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF).
“Você tem as empresas interditadas, a transportadora dos caras, do PCC, fica parada [em razão da operação Carbono]. Os tanques, que não estavam dentro dos pátios dessas empresas começam a ser desovados em outras empresas. Eles começam a vender isso para empresa química, começam a vender isso também para destilarias clandestinas. Os caras fazem isso para ganhar volume, ganhar a escala, eles não estão nem aí com a saúde de ninguém”, disse Rodolpho Heck Ramazzinio, diretor de comunicação da ABCF, à Agência Brasil.
A Operação Carbono Oculto é considerada a maior ofensiva já realizada contra a estrutura financeira do Primeiro Comando da Capital (PCC). A ação atingiu centenas de postos que adulteravam combustíveis com metanol, como noticiamos aqui no Olhar Digital. O esquema movimentou R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024.

Bares suspeitos
Uma força-tarefa do governo paulista realizou nesta segunda-feira (29) ações de fiscalização e investigação em três bares e adegas nas regiões dos Jardins e Mooca, na capital paulista. Os locais estão listados entre os suspeitos de comercializar bebidas que causaram a intoxicação por metanol.
No total, foram apreendidas 117 garrafas de bebidas sem rótulos e sem comprovação de procedência, que serão encaminhadas à perícia no Instituto de Criminalística (IC) da Polícia Técnico-Científica, e dois estabelecimentos foram autuados por irregularidades sanitárias. A ação foi realizada pelas secretarias estaduais da Saúde (SES) e da Segurança Pública (SSP), em parceria com o Centro de Vigilância Sanitária (CVS) do município de São Paulo.
Desde junho, foram confirmados dez casos de intoxicação por consumo de bebida adulterada, dos quais três resultaram em óbito: um homem de 58 anos em São Bernardo do Campo, um homem de 54 anos na capital e o terceiro de 45 anos em investigação do local de residência. Um caso foi descartado.
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Situação inédita
O Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que os casos apresentam padrão inédito e diverso aos que eram, até então, registrados. As ocorrências de intoxicação por metanol estavam, majoritariamente, associadas a pessoas em extrema vulnerabilidade ou população em situação de rua, ambos a partir de ingestão de álcool em postos de gasolina adulterados com a substância.
No entanto, a partir do início do mês de setembro, em um curto intervalo de tempo, os pacientes intoxicados apresentaram histórico de ingestão recente de bebidas alcoólicas destiladas em cenas sociais de consumo alcoólico, incluindo bares, e com diferentes tipos de bebida, como gin, whisky, vodka, entre outros. Por isso, há possibilidade de existirem casos ainda não notificados.
(Imagem: Governo de São Paulo)
A intoxicação por metanol é uma emergência médica de extrema gravidade. A substância, quando ingerida, é metabolizada no organismo em produtos tóxicos (como formaldeído e ácido fórmico), que podem levar ao óbito. Os principais sintomas incluem visão turva ou perda de visão (podendo chegar à cegueira) e mal-estar generalizado (náuseas, vômitos, dores abdominais, sudorese).