Olhar Digital > Pro > Projeto brasileiro usa hidrogênio verde para reduzir emissões da indústria

Solução pode tornar as indústrias siderúrgicas mais eficientes e menos poluidoras, ajudando na luta contra as mudanças climáticas

Imagem: MT.PHOTOSTOCK/Shutterstock

O hidrogênio verde é a aposta dos cientistas para acelerar a transição energética, reduzindo as emissões de gases de efeito estufa em todo o planeta e ajudando na luta contra as mudanças climáticas. E neste cenário, o Brasil pode ter um importante papel.

Um projeto desenvolvido pela engenheira química Patrícia Metolina prevê o uso da substância no processo de extração do minério de ferro. Essa pode ser uma solução para tornar as indústrias siderúrgicas mais eficientes e menos poluidoras.

Indústria siderúrgica tem grande impacto nas emissões de gases de efeito estufa (Imagem: Quality Stock Arts/Shutterstock)

Método é benéfico para o meio ambiente

A indústria siderúrgica é responsável por cerca de um terço das emissões industriais de CO₂. Isso acontece devido ao processo de extração do minério de ferro da natureza. Ele pode se apresentar na forma de hematita (Fe2O3) ou magnetita (Fe3O4), sendo necessário retirar as moléculas de oxigênio.

No modo tradicional, o minério de ferro é inserido em fornos de alta temperatura que usam coque de carvão. O resultado é a emissão de grandes quantidades de CO₂. Já o método pesquisado por Patrícia envolve o hidrogênio verde em um tipo de reação química que dispensa o coque de carvão e a fusão do minério de ferro. O subproduto do processo deixa de ser o CO₂ para ser apenas vapor de água.

No Brasil, a gente não tem ainda essa tecnologia sendo desenvolvida nas nossas siderúrgicas. Mas nossas pesquisas mostram o potencial desse processo. Na Suécia, por exemplo, eles têm projeto piloto e conseguiram validar que ele pode ser usado industrialmente e ser comercializado. Há grandes siderúrgicas que estão investindo muito nessa tecnologia para conseguir produzir esse aço verde e conseguir abater as emissões de CO₂.

Patrícia Metolina, pesquisadora responsável pelo projeto

Ilustração de visão aérea de sigla de hidrogênio na cor verde em floresta
Projeto defende uso de hidrogênio verde no processo de extração do ferro (Imagem: chayanuphol/Shutterstock)

Segundo informações da Agência Brasil, o trabalho venceu o prêmio de teses da Universidade de São Paulo (USP). Ele é considerado um dos exemplos de como o hidrogênio pode ser estratégico na transição energética.

O Brasil tem um conjunto de vantagens que pode favorecer a produção de hidrogênio, porque na Europa ainda é muito caro. Eles não têm as mesmas condições naturais, como painéis solares e turbinas eólicas como a gente tem. Aqui, a gente poderia produzir o hidrogênio no Nordeste, por exemplo, onde há as eólicas e ter uma siderúrgica próxima para consumir esse hidrogênio e fabricar um aço verde.

Patrícia Metolina, pesquisadora responsável pelo projeto

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Método pode ajudar a combater as mudanças climáticas (Imagem: Aphelleon/Shutterstock)

Brasil tem enorme potencial

  • Estimativas da Hydrogen Council, consórcio de multinacionais interessadas na expansão do hidrogênio, apontam que a demanda global por hidrogênio deve aumentar cinco vezes até 2050.
  • Em todo o mundo, são mais de 1.500 iniciativas envolvendo o hidrogênio verde.
  • Dos investimentos anunciados, a América Latina é a que concentra o segundo maior volume: US$ 107 bilhões.
  • Atualmente, os países com maiores projetos de produção de hidrogênio verde no mundo são Alemanha, Arábia Saudita, Austrália, China, Chile, Espanha e Holanda.
  • Apesar de todo o potencial e do avanço das pesquisas, a implantação desta tecnologia ainda tem uma série de desafios pela frente.
  • Entre os principais estão os custos altos de produção, falta de infraestrutura logística para transporte e armazenamento, necessidade de marco regulatório e tributário para atrair investimentos e a dependência do acesso à água para o processo de eletrólise.

Alessandro Di Lorenzo

Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Bruno Capozzi

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.