Revisão de oito estudos internacionais revela ligação consistente entre finasterida e riscos psiquiátricos graves

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Atenção: a matéria a seguir inclui uma discussão sobre suicídio. Se você ou alguém que você conhece precisar de ajuda, procure ajuda especializada. O Centro de Valorização da Vida (CVV) funciona 24h por dia pelo telefone 188. Também é possível conversar por chat ou e-mail.

Uma revisão do Prof. Mayer Brezis, da Universidade Hebraica de Jerusalém, aponta que a comunidade médica e órgãos reguladores falharam ao ignorar sinais claros de que a finasterida, usada para tratar calvície, pode causar depressão, ansiedade e risco aumentado de suicídio.

O estudo, publicado no Journal of Clinical Psychiatry, analisou oito grandes pesquisas de 2017 a 2023 e identificou um padrão consistente: usuários do medicamento apresentaram maior incidência de transtornos de humor e ideação suicida.

Segundo Brezis, “as evidências não são mais anedóticas. Agora vemos padrões consistentes em diversas populações”.

Estudo diz que finasterida pode causar depressão, e especialistas acusam reguladores de ignorar sinais por anos – Imagem: Aonprom Photo/Shutterstock

Demora na resposta regulatória

  • Embora a FDA tenha adicionado avisos sobre depressão em 2011 e sobre risco de suicídio em 2022, alertas já existiam desde 2002.
  • Documentos internos mostram que estimativas de impacto foram mantidas em sigilo, e a farmacovigilância foi considerada “falha sistêmica”.
  • A Merck, fabricante original, não conduziu estudos de segurança independentes, e a ausência de escrutínio pode ter sido favorecida pelo caráter cosmético do medicamento, que não é essencial para a saúde.

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Pesquisador pede suspensão do uso cosmético da finasterida, receitada para tratar queda de cabelo, e maior rigor na farmacovigilância. – Imagem: Towfiqu barbhuiya/Unsplash

Mecanismo biológico e consequências duradouras

A finasterida bloqueia a produção de DHT, mas também afeta neuroesteroides ligados à regulação do humor, podendo causar alterações permanentes no cérebro. Há relatos de uma “síndrome pós-finasterida”, com sintomas que persistem meses ou anos após a suspensão do uso — incluindo insônia, ataques de pânico e disfunção cognitiva.

Brezis defende mudanças urgentes: suspensão da comercialização para fins estéticos, estudos pós-aprovação obrigatórios e investigação sistemática do uso de finasterida em casos de suicídio.

O artigo é dedicado a um paciente que, após iniciar o medicamento, desenvolveu sofrimento psiquiátrico grave e acabou tirando a própria vida — um caso que, segundo Brezis, representa muitas histórias semelhantes ignoradas ao longo dos anos.

Remédio usado por milhões de homens para tratar a calvície pode aumentar risco de depressão e ideação suicida, segundo pesquisadores (Reprodução: Motortion Films/Shutterstock)

Colaboração para o Olhar Digital

Leandro Criscuolo é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Já atuou como copywriter, analista de marketing digital e gestor de redes sociais. Atualmente, escreve para o Olhar Digital.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.