Pesquisadores descobriram que munições da Segunda Guerra Mundial, afundadas no Mar Báltico, abrigam mais vida selvagem do que os sedimentos ao redor. O achado destaca como restos de conflitos humanos podem, inesperadamente, se tornar refúgio para organismos marinhos.
Publicado nesta quinta-feira (25) na revista Communications Earth & Environment, o estudo relata que algumas espécies conseguem sobreviver a compostos tóxicos quando encontram superfícies sólidas para se fixar.
Antes da Convenção de Londres para a Prevenção da Poluição Marinha de 1972, era comum descartar explosivos em alto-mar. Essas munições carregam produtos químicos perigosos para a fauna, mas seus invólucros metálicos criam estruturas rígidas ideais para a fixação de algas, moluscos e pequenos crustáceos. Assim, áreas de risco químico acabam funcionando como recifes artificiais.

Uma verdadeira ‘cidade perdida’ em meio aos destroços de guerra
Em outubro de 2024, uma equipe liderada pelo cientista Andrey Vedenin usou um submersível remoto para analisar um novo depósito de munições na Baía de Lübeck, no Mar Báltico. Eles filmaram as ogivas e coletaram amostras de água, comparando a vida marinha presente nas bombas com a dos sedimentos vizinhos.

As munições foram identificadas como ogivas de bombas voadoras V-1, usadas pela Alemanha nazista no fim da guerra. Os pesquisadores registraram cerca de 43 mil organismos por metro quadrado vivendo sobre essas bombas, em contraste com 8,2 mil nos sedimentos próximos. A água continha traços de explosivos como TNT e RDX, com variação de 30 nanogramas a 2,7 miligramas por litro, níveis que podem ser tóxicos para muitas espécies.
Mesmo assim, os cientistas concluíram que as superfícies duras das ogivas oferecem vantagens que compensam a exposição química. A maioria dos organismos se concentra nas cápsulas externas, evitando contato direto com o material explosivo. Os autores sugerem que substituir essas munições por estruturas artificiais seguras poderia beneficiar ainda mais o ecossistema local.
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Drones mapeiam vida em “frota fantasma” submersa
Outro estudo, publicado no mesmo dia na revista Scientific Data, mapeou 147 navios da chamada “Frota Fantasma” em Mallows Bay, no rio Potomac, EUA. Construídos na Primeira Guerra Mundial e afundados nos anos 1920, esses destroços abrigam hoje águias-pesqueiras, esturjões e outras espécies. O mapa, feito com drones e imagens de alta resolução, deve apoiar futuras pesquisas arqueológicas e ambientais.

As duas pesquisas mostram que materiais bélicos abandonados atuam como verdadeiros laboratórios naturais. Ao mesmo tempo em que oferecem abrigo para diversas espécies, também expõem os ecossistemas a substâncias tóxicas de longa duração.
Esses achados fornecem dados essenciais para políticas de limpeza e manejo de áreas contaminadas, revelando que a herança das guerras continua influenciando a vida marinha quase um século depois.