COP30 vai ser ‘momento da verdade’, diz Lula na ONU

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse que a COP30, agendada para novembro de 2025 em Belém (PA), vai ser “a COP da verdade“. A fala ocorreu durante seu discurso na abertura da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada nesta terça-feira (23).

“Será o momento de os líderes mundiais provarem a seriedade de seu compromisso com o planeta”, acrescentou o presidente. Em seu discurso, Lula também citou mudanças climáticas e a “corrida por minerais críticos”. Antes, o presidente falou sobre inteligência artificial (IA) e regulação de plataformas digitais.

Na ONU, presidente Lula cobra ação climática e alerta para exploração predatória

O presidente usou a tribuna da ONU para reforçar que a COP30, em Belém, deve marcar um ponto de virada na luta contra a crise climática. Lula destacou que países ricos têm responsabilidade histórica nas emissões e não podem repetir, na “corrida por minerais críticos da transição energética”, a lógica de exploração que marcou os últimos séculos.

‘A COP da verdade’

Para Lula, a COP30 será o momento para líderes mundiais demonstrarem, de forma concreta, a seriedade de seus compromissos com o planeta. O presidente lembrou que 2024 foi o ano mais quente já registrado, o que reforça a urgência de decisões efetivas contra a crise climática.

COP30
COP30 será o momento para líderes mundiais demonstrarem, de forma concreta, a seriedade de seus compromissos com o planeta, diz Lula na ONU (Imagem: Poetra.RH/Shutterstock)

Segundo Lula, não é possível avançar sem clareza sobre as metas nacionais de redução de emissões, conhecidas como Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs). Sem esse quadro completo, alertou, a humanidade seguirá “de olhos vendados para o abismo”, em referência ao risco de colapso ambiental caso os países não cumpram o que prometeram.

Brasil promete reduzir emissões até 2030

No discurso, Lula reafirmou que o Brasil se comprometeu a reduzir entre 59% e 67% de suas emissões de gases de efeito estufa até 2030, abrangendo todos os setores da economia.

O presidente destacou que o país já apresentou avanços recentes, mas que a meta depende de cooperação internacional para garantir acesso a recursos e tecnologias que viabilizem a transição sustentável.

Países ricos e ‘minerais críticos’

Lula cobrou maior responsabilidade dos países desenvolvidos na agenda climática, lembrando que eles construíram seu padrão de vida às custas de dois séculos de emissões.

Segundo o presidente, não se trata de caridade, mas de justiça: enquanto nações em desenvolvimento enfrentam simultaneamente a mudança do clima e outros desafios sociais, as economias ricas precisam garantir mais ambição, recursos e transferência de tecnologia para que a transição energética seja viável.

Lula discursa na ONU
Na ONU, Lula cobrou maior responsabilidade dos países desenvolvidos na agenda climática (Imagem: Reprodução/ONU)

O político também alertou para os riscos da corrida global por “minerais críticos” – insumos fundamentais para tecnologias limpas, como baterias e turbinas eólicas.

Lula defendeu que essa disputa não pode repetir a lógica predatória de exploração que marcou a história da colonização e do extrativismo. Para ele, o processo deve estar baseado em critérios de sustentabilidade e respeito aos povos que vivem em regiões ricas nesses recursos.

Amazônia, desmatamento e fundo florestal

Lula afirmou que, em Belém, o mundo terá a chance de conhecer de perto a realidade da Amazônia. Segundo ele, o Brasil conseguiu reduzir pela metade o desmatamento na região nos últimos dois anos.

No entanto, o presidente disse que erradicar a devastação depende de garantir condições dignas de vida para os milhões de habitantes que vivem na floresta. O político reforçou que a preservação precisa estar ligada a políticas de desenvolvimento sustentável e inclusão social.

Para avançar nessa direção, ele anunciou a criação do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, iniciativa destinada a remunerar países que mantêm suas florestas em pé.

A proposta, segundo Lula, busca estimular um modelo de cooperação internacional que reconheça o papel das nações detentoras de grandes áreas de biodiversidade e crie mecanismos de financiamento contínuo para proteger esses ecossistemas vitais.

Incentivo a data centers sustentáveis

No campo da tecnologia, Lula destacou que o Brasil quer alinhar inovação digital e preservação ambiental.

data centers no Brasil
O presidente lembrou que o governo enviou ao Congresso projetos de lei para incentivar a instalação de data centers sustentáveis no Brasil (Imagem: AlexLMX/Shutterstock)

O presidente lembrou que o governo enviou ao Congresso projetos de lei para incentivar a instalação de data centers sustentáveis. Os objetivos, segundo Lula, são reduzir o impacto ambiental da infraestrutura tecnológica e apoiar o crescimento do setor com base em critérios de eficiência energética e uso responsável de recursos.

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Proposta de Conselho climático na ONU

Lula também defendeu que a crise climática seja trazida para o coração das Nações Unidas. Ele propôs a criação de um Conselho vinculado à Assembleia Geral da ONU, com legitimidade para monitorar compromissos e dar mais coerência à ação climática global.

Para o presidente, o atual regime internacional, construído a partir da Convenção do Clima, já mostrou avanços, mas precisa de um reforço institucional para garantir que promessas não fiquem apenas no papel.

Ao encerrar este trecho de seu discurso, Lula afirmou que é hora de passar da fase de negociações para a etapa de implementação. A COP30, em Belém, seria o espaço ideal para essa virada, com a expectativa de transformar compromissos em ações concretas.

Segundo o político, a humanidade está diante de uma encruzilhada. E a resposta dependerá da coragem política dos líderes em colocar o clima no centro das decisões multilaterais.

(Você pode conferir o discurso do presidente Lula na íntegra no site do governo federal.)