A Europa deu um passo importante na corrida espacial. A Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) apresentou nesta sexta-feira (19) o Themis, seu primeiro protótipo de foguete reutilizável em escala real. Com 30 metros de altura, ele está instalado na base de testes em Kiruna, na Suécia.
O protótipo vai passar por ensaios de decolagem e pouso vertical controlado – manobras que podem tornar os lançamentos orbitais mais baratos e sustentáveis no futuro.
A iniciativa coloca o continente num campo até aqui dominado pela SpaceX, de Elon Musk. Enquanto a ESA inicia seus primeiros testes, a empresa norte-americana se prepara para o 11º voo da Starship, o foguete mais poderoso do mundo e peça central dos planos de Musk para colonizar Marte.
Europa aposta em foguete reutilizável para deixar lançamentos mais baratos e sustentáveis
O Themis é o primeiro grande ensaio europeu de recuperação de estágios de foguete – as partes que normalmente se perdem após o lançamento. O protótipo usa o motor Prometheus, capaz de reiniciar em voo e ajustar a potência para garantir um pouso suave.

Se os testes correrem bem, a ESA pode abrir caminho para lançamentos mais baratos e sustentáveis. Isso reduziria a dependência de foguetes descartáveis e aproximaria a Europa ao padrão já adotado por empresas como a SpaceX.
Como será o teste do Themis
O Themis foi projetado para decolagens e pousos de baixa altitude, semelhantes a “saltos” controlados. A ideia é verificar se o protótipo consegue subir alguns quilômetros, desligar os motores e depois retornar em segurança à base.
Para isso, ele conta com o motor Prometheus. Ele é quase tão potente quanto o principal motor do Ariane 6 – o principal foguete europeu atual, dedicado a colocar satélites em órbita, mas que não é reutilizável. A vantagem do Prometheus é reiniciar em voo e reduzir o empuxo quando necessário.
Esses testes são chamados de “hops” e servem para validar tecnologias que mais tarde poderão ser aplicadas em lançadores maiores. Caso os ensaios sejam bem-sucedidos, a ESA terá em mãos a base para um sistema de foguetes reutilizáveis, capaz de cortar custos e diminuir o impacto ambiental.
A construção do protótipo europeu
O Themis tem 30 metros de altura e 3,5 metros de largura, segundo a ESA. Ele foi desenvolvido pela agência espacial em parceria com a ArianeGroup e outros 25 parceiros de 12 países da União Europeia.
O protótipo foi montado inicialmente na França e percorreu mais de três mil quilômetros até chegar ao Esrange Space Center, no norte da Suécia, onde recebeu as quatro pernas de pouso que permitem o retorno controlado. A instalação das pernas marca a primeira vez que o foguete ficou totalmente montado.
Agora, ele está pronto para os ensaios de abastecimento e para testes nos quais os tanques são preenchidos com combustível criogênico para simular as condições reais de um lançamento. Esse processo é o passo final antes das tentativas de voo e pouso controlado.
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O desafio de alcançar a SpaceX e o que vem a seguir
A SpaceX já domina a tecnologia de pouso de foguetes desde meados da década de 2010. Hoje, a empresa norte-americana realiza rotineiramente lançamentos com recuperação dos propulsores, o que reduz custos e acelera o ritmo das missões. Mais recentemente, ela avançou para a Starship, que se prepara para o seu 11º voo de teste no Texas (EUA).
O contraste é grande: enquanto o Themis ainda vai ensaiar seus primeiros saltos de baixa altitude, a Starship já realiza voos completos e chegou até a lançar protótipos de satélites Starlink em órbita. Segundo Musk, esse 11º voo será o último da versão atual, o que deve abrir caminho para a Starship V3, ainda maior e que pode dar início a missões rumo a Marte já em 2026.
Mesmo em estágios diferentes, a comparação mostra a importância do passo europeu. Se os testes do Themis correrem bem, a ESA terá iniciado uma tecnologia essencial para manter a Europa competitiva no setor espacial. O protótipo é apenas o começo de um longo caminho na corrida global pelo espaço.