Conforme noticiado pelo Olhar Digital, rajadas de vento solar em altíssima velocidade foram lançadas em direção à Terra por um buraco gigantesco que se abriu no astro. Como resultado, tempestades geomagnéticas de grau forte produziram auroras espetaculares no norte do globo entre segunda (15) e terça-feira (16). Mas não é apenas o planeta que está sentindo os efeitos da “fúria” do Sol – o cometa SWAN (C/2025 R2) também foi atingido.
Uma imagem divulgada na plataforma de meteorologia e climatologia espacial Spaceweather.com mostra a perturbação causada pelo material solar na extensa cauda do corpo celeste recém-descoberto. “A cauda do cometa está extremamente ativa”, relatou o astrônomo Gerald Rhemann, que registrou o objeto na terça. “Essas mudanças são impulsionadas pelo vento solar”.

O cometa está sentindo toda a força do vento solar enquanto desliza pelo espaço, próximo à órbita de Mercúrio. Cada torção, filamento e nó em sua cauda é estimulado e moldado pela ação do Sol.
O especialista em cometas Michael Mattiazzo, da Austrália, capturou uma visão de campo mais amplo do objeto. “A cauda iônica do cometa SWAN apresentou uma grande perturbação ontem à noite”, diz ele. “Há um saca-rolhas descontrolado com mais de 5 graus de comprimento. Deve estar sendo atingido por uma ejeção de massa coronal (CME)”.

Às vezes, ventos solares e jatos de plasma (as CMEs) podem arrancar completamente a cauda de um cometa. Isso aconteceu, por exemplo, com o Nishimura (C/2023 P1), em setembro de 2023. Na ocasião, no entanto, ele deu uma de “lagartixa” e regenerou o “rabo”. Poucos meses antes, o cometa C/2022 E3 (ZTF) também passou por uma desconexão semelhante.
Como o SWAN R2 está bem próximo do Sol, que está em atividade acentuada por esses dias, as chances de uma ruptura na cauda desse cometa são bem consideráveis. É aguardar para conferir – por enquanto, vamos relembrar a história do “acidentado”.
Descoberto na última sexta-feira (12), o objeto, que foi temporariamente chamado de SWAN25B, foi visto pela primeira vez pelo ucraniano Vladimir Bezugly em imagens online do Observatório Solar e Heliosférico (SOHO, na sigla em inglês), que é administrado pela NASA e pela Agência Espacial Europeia (ESA).
Mais precisamente, ele foi capturado pelo instrumento Solar Wind ANisotropies (Anisotropias do Vento Solar) a bordo da sonda, uma câmera especial que mapeia o hidrogênio no vento solar. Isso sugere que esse cometa pode ser rico em tal elemento.
Ao longo das horas e dias que se seguiram após a primeira detecção, ele foi confirmado a partir de observações terrestres por diversos astrônomos, entrando para o catálogo do Minor Planet Center (MPC) na segunda, quando recebeu a nova designação.
O MPC é o órgão oficial da União Astronômica Internacional (IAU) responsável por reunir, verificar e divulgar todas as observações de pequenos corpos do Sistema Solar – como asteroides, cometas e quase-luas.

Normalmente, depois que astrônomos definem a órbita de um cometa com observações adicionais, o MPC atribui uma designação provisória do tipo “C/ano letra-número” – ou “P/ano letra-número”, se for um cometa com período inferior a 200 anos. Em seguida, o objeto recebe o nome definitivo. Por exemplo: o cometa interestelar 3I/ATLAS, quando detectado, era referido como A11pl3Z, recebendo em seguida a designação provisória de C/2025 N1 (ATLAS) e, por fim, seu nome oficial.
Segundo dados do “Small Body Database” da NASA, trata-se de um cometa de longo período, que completa uma volta ao redor do Sol aproximadamente a cada 22 mil anos. “As incertezas ainda são grandes, principalmente em relação ao período orbital, mas já é possível afirmar que esta será a nossa única oportunidade em vida de observar esse objeto, já que ele só voltará a aparecer por essas bandas do Sistema Solar quando nenhum de nós estivermos mais por aqui”, disse Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) e colunista do Olhar Digital.
No momento, ele viaja entre as estrelas de fundo da constelação de Virgem, com melhor visibilidade para observadores no Hemisfério Sul. Como o objeto ainda está muito perto do Sol, provavelmente tendo acabado de passar pelo periélio (ponto mais próximo da nossa estrela), ainda há certa dificuldade em avistá-lo.
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Atualmente, o cometa C/2025 R2 (SWAN) está próximo da magnitude 6 (tendo triplicado sua luminosidade desde a primeira observação), e estimativas preliminares apontam que ele poderá atingir magnitude 5.8.
Quanto menor esse número, mais brilhante é o objeto. Para um corpo celeste poder ser visto a olho nu, ele deve ter magnitude abaixo de 6 (em céus totalmente escuros) ou inferior a 2 (em céus com poluição luminosa, como de grandes centros urbanos).

Isso significa que o novo cometa SWAN R2 está quase podendo ser observado sem a necessidade de qualquer instrumento, como binóculos ou telescópio.
A IAU estima que a aproximação máxima com a Terra seja por volta de 12 de outubro, quando o objeto deve chegar a 0,25 unidades astronômicas (UA) do planeta – algo em torno de 37,5 milhões de km. Mas isso só o tempo dirá, considerando que o comportamento dos cometas costuma ser bastante imprevisível.
Uma imagem do objeto registrada por Mattiazzo no domingo (14) mostra uma cauda de 2,5 graus de comprimento, o que equivale a cerca de cinco luas cheias lado a lado. No entanto, como uma câmera é mais sensível que o olho humano, é provável que ela não seja tão longa se observada diretamente, sem auxílio de equipamentos ópticos.

Como observar o objeto no céu
Até o fim deste mês, o cometa é visível no céu noturno próximo de Marte e Espiga, a estrela mais brilhante de Virgem. Quem quiser observá-lo, a princípio, ainda precisa da ajuda de binóculos ou telescópios de abertura entre 150 e 200 mm.
Olhe para oeste após o anoitecer, na direção onde o Sol tiver acabado de se pôr, e tente encontrar Marte ou Espiga – ele deverá passar logo abaixo desses corpos celestes. Utilizar aplicativos de observação, como Stellarium, Star Walk ou Sky Safari, pode facilitar bastante.