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Pequenos buracos negros comem de forma caótica, revela estudo

Pequenos buracos negros comem de forma caótica, revela estudo

Astrônomos descobriram que pequenos buracos negros “fazem bagunça” quando consomem outros astros. As informações coletadas podem ajudar a explicar como buracos negros supermassivos, que também deixam escapar parte da matéria quando comem, influenciam a evolução de suas galáxias hospedeiras.

Com os sensores de raio-x da Missão de Imagem e Espectroscopia de Raios X (XRISM), uma parceria entre a Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA), a NASA e a Agência Espacial Europeia (ESA), os pesquisadores coletaram dados do sistema 4U 1630-472.

Localizado a 26 mil anos-luz da Terra, ele é um binário de raios-x, sendo constituído de um buraco negro com massa estelar e uma estrela de tamanho similar à do Sol, que está sendo devorada aos poucos. A descoberta foi publicada na revista cientifica The Astrophysical Journal Letters, edição de julho de 2025.

Representação artística de um sistema binário com um buraco negro e uma estrela. (Imagem: NASA/Esa L. Hustak (STScI)

Pico de brilho revelou atividade intensa no pequeno buraco negro

Estudos anteriores mostraram que, quando buracos negros supermassivos, com bilhões de vezes a massa do Sol, devoram matéria, como gases ao redor ou estrelas, parte desse material escapa. Na nova pesquisa, o grupo demonstrou que esse fenômeno também ocorre em exemplares menores.

Em 4U 1630-472, o buraco negro está destruindo sua estrela vizinha aos poucos. A matéria liberada nesse processo não é sugada diretamente, mas forma uma nuvem conhecida como disco de acreção, de onde futuramente será sugada para o interior.

Ilustração de um buraco negro consumindo uma estrela e liberando matéria. (Imagem: NASA / JPL-Caltech / Goddard)

A influência gravitacional do buraco negro afeta esse disco, criando fricção e esquentando a matéria acima dos 10 milhões de graus célsius. Esse cenário emite brilho intenso e raios-x.

Os pesquisadores conseguem captar as variações da luminosidade de 4U 1630-472. Há períodos em que o sistema emite luz em intensidades parecidas com a do Sol, o que indica que ele está em repouso, sem se alimentar.

A cada dois anos, no entanto, o brilho aumenta em mais de 10 mil vezes por um período de sete dias. Foi em um desses momentos, ocorrido em fevereiro de 2024, que a equipe aproveitou para captar dados sobre o sistema.

Buracos negros “derramam” matéria independente do tamanho

Os astrônomos descobriram que 4U 1630-472 está ejetando material a 32 milhões km/h, cerca de 3% da velocidade da luz. “Conseguimos observar uma gama de taxas de fluxo de gás que nunca conseguiríamos observar em buracos negros massivos no centro das galáxias”, relatou Jon Miller, pesquisador na Universidade de Michigan e líder do estudo, em uma entrevista ao portal Space.com.

Segundo o cientista, a escala de tempo para ver um fenômeno como esse no buraco negro no centro da Via Láctea seria de centenas de milhões de anos. Então, ao estudarem espécimes menores, astrônomos podem ter pistas de como o fluxo de gás liberado pelos supermassivos influencia a evolução de suas galáxias.

Imagem do buraco negro supermassivo Sagittarius A* (Sgr A*) localizado no centro da Via Láctea (Imagem: NASA)

O cenário de 4U 1630-472 intrigou a equipe. “Você espera derramar muita coisa ao tentar despejar um balde de água em um copo, mas não quando está despejando um copo de água em um balde. Buracos negros parecem derramar em ambos os extremos”, disse o cientista.

Agora, o grupo pretende seguir estudando como buracos negros se alimentam e os efeitos desses eventos. Os pesquisadores estão no que a NASA chama de fase principal da missão, os dois primeiros anos em que a equipe encontra fenômenos inovadores. Depois, o restante do projeto é reservado para um mergulho profundo no estudo desses temas.

“Ser surpreendido é bom. Ver expectativas se comprovarem ingênuas significa progresso e ter caminhos inteiramente novos para explorar é extraordinário. A astronomia é cheia de surpresas e nunca é entediante”, concluiu Miller.

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