O Pentágono deu um passo na modernização de sua rede de defesa ao lançar 21 satélites militares na -manhã desta quarta-feira (10) a bordo de um foguete SpaceX Falcon 9. A missão decolou da base da Força Espacial dos EUA em Vandenberg, Califórnia, às 10h12 (horário de Brasília), com destino a uma órbita polar para iniciar semanas de ativação e testes.
Esses satélites fazem parte da primeira geração de uma constelação de rastreamento de mísseis e retransmissão de dados, conhecida como Tranche 1, da Space Development Agency (SDA). O objetivo é criar uma rede mais resiliente e de menor custo em comparação com os satélites geossíncronos tradicionais, utilizados historicamente pelo Exército dos EUA.

Uma nova arquitetura espacial
Historicamente, as redes militares de comunicação e alerta de mísseis dependiam de poucos satélites caros, em órbita geossíncrona, a cerca de 36 mil quilômetros da Terra. Esses sistemas eram projetados para cenários de guerra nuclear e mísseis intercontinentais. Cada um desse tipo chega a custar mais de US$ 1 bilhão, além de ser vulnerável a ataques.
Em contraste, a constelação da SDA, chamada oficialmente de Proliferated Warfighter Space Architecture, é composta por satélites de órbita baixa (LEO), mais baratos — entre US$ 14 e 15 milhões cada — e com capacidade de operar mesmo com perdas pontuais de unidades. O primeiro conjunto de 21 foi fabricado pela York Space Systems, do Colorado, e faz parte de um total de 154 satélites operacionais da Tranche 1, com um custo estimado em US$ 3,1 bilhões.
Satélites multiuso para comunicação e defesa
Além de rastrear lançamentos de mísseis balísticos e hipersônicos, os satélites funcionam como retransmissores de sinais entre forças dos EUA, usando a rede tática criptografada Link 16, que permite troca de informações em quase tempo real entre aeronaves, navios e unidades terrestres. Diferente dos rádios Link 16 tradicionais, que exigem linha de visada, os satélites da SDA proporcionam conectividade direta de sensores para armas, ampliando o alcance de comunicação global.
Os satélites também estão equipados com terminais de comunicação Ka-band e laser, permitindo maior largura de banda. “O que a camada de transporte faz é estender a comunicação além da linha de visada. Agora é possível conectar, por exemplo, o Havaí a Guam usando essa rede espacial”, explicou Gurpartap “GP” Sandhoo, diretor interino da SDA.
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Expansão da rede e integração com defesa nacional
O Pentágono planeja mais dez lançamentos para completar a Tranche 1, com seis missões carregando satélites de retransmissão e quatro satélites sensores de mísseis. Entre os fabricantes, estão Lockheed Martin, Northrop Grumman e L3Harris, garantindo diversidade industrial e redução de riscos.
A constelação criará uma rede em malha, com interconexões a laser entre satélites, oferecendo cobertura regional, alerta de mísseis e direcionamento de armas sobre o Pacífico Ocidental a partir de 2027. O Comando Indo-Pacífico dos EUA será o primeiro a utilizar a constelação em operações militares, alinhado à prioridade estratégica dos EUA em monitorar ameaças chinesas.
Esses satélites também pavimentam o caminho para o Domo de Ouro, sistema de defesa antimísseis proposto pelo governo Trump, que deve utilizar milhares de satélites em LEO e interceptadores espaciais. Segundo especialistas militares, a SDA fornecerá a base tecnológica necessária para a integração dessa rede de múltiplas camadas, combinando satélites em órbitas baixas, médias e geossíncronas.
“Esta é a primeira vez que teremos uma camada espacial totalmente integrada às operações de combate”, afirmou Sandhoo, destacando o treinamento de imersão que soldados, marinheiros e aviadores passarão para operar a nova arquitetura.