Produtores do Acre enfrentam falta de água e comida durante seca histórica, diz secretário

A análise foi feita pelo secretário estadual de Agricultura (Seagri), Luis Tchê, durante entrevista ao podcast Em Cena

No Acre, o mesmo ano registrou extremos climáticos opostos: uma enchente de grandes proporções e, poucos meses depois, uma seca tão intensa que praticamente fez a água desaparecer. Essa situação afeta tanto as áreas urbanas quanto a zona rural, impactando diretamente os produtores. A análise foi feita pelo secretário estadual de Agricultura (Seagri), Luis Tchê, durante entrevista ao podcast Em Cena, do ContilNet, nesta segunda-feira (12).

Seca severa deixa produtores rurais sem água e comida no Acre, alerta secretário/Foto: Reprodução

Ao ser questionado sobre como a Seagri pretende atuar diante da estiagem que ameaça reduzir o nível do Rio Acre aos patamares mais baixos das últimas décadas, Tchê citou projeções da Defesa Civil que indicam a possibilidade de o rio atingir a chamada cota zero até 2030.

“Esse é um ponto extremamente importante. Se precisamos produzir mais em menos espaço, temos que buscar tecnologia — e estamos atrás disso. Mas enfrentamos uma enchente enorme que fez nossos produtores perderem tudo. Decidimos comprar a produção da agricultura familiar, o que deu uma amenizada, mas não resolveu o problema”, afirmou, ao relembrar o período de cheia.

Sobre a seca, o secretário destacou que os tanques construídos pela Seagri em comunidades rurais no ano anterior estão atualmente secos devido à falta prolongada de chuvas, comprometendo severamente a produção agrícola.

“Tem uma produtora na zona rural que, num verão como esse, pega um carrinho de mão, coloca uma bomba de 20 litros e vai até a beira do asfalto comprar água. Ela empurra o carrinho por dois quilômetros. Os tanques que fizemos no ano passado, quando você olha, estão secos. Dá até para jogar peteca dentro. É um desafio enorme”, relatou.

Segundo Tchê, a secretaria pretende implantar em breve uma tecnologia de geomembrana nos reservatórios, evitando a infiltração e reduzindo perdas — uma ação considerada urgente, pois “o produtor não pode esperar”. Ele reforçou o pedido de maior atenção do Governo Federal para a realidade acreana.

“Hoje, os açudes estão secos, só o barro. Estamos conversando com nossos parlamentares para instalar geomembranas, que forram o tanque e impedem que a água filtre para o solo. Caso contrário, vamos enfrentar sérios problemas. A estrutura da Seagri é pequena para a quantidade de pedidos que recebemos. O produtor não pode esperar. Precisamos de um olhar diferenciado do Governo Federal, pois nossos agricultores lutam, inclusive, para preservar a floresta — e isso tem um custo”, salientou.

O secretário alertou que uma das consequências mais graves da estiagem já é realidade: muitos produtores não têm acesso à água e à comida.

“Parece brincadeira, mas nesta seca estamos levando água e até sacolões para o produtor rural poder sobreviver e continuar no campo. As dificuldades são muitas e ainda estamos em agosto. Temos agosto inteiro e setembro inteiro pela frente, e a previsão é de chuva só no final de outubro ou novembro. Imagine o que o produtor está enfrentando agora. Tem gente sem comida e sem água. Não é fácil. É o desafio que temos”, concluiu.

Na quarta-feira (6), o governador Gladson Cameli assinou o Decreto nº 11.733, que declarou situação de emergência em todo o estado em razão da estiagem e do aumento das temperaturas. A medida, publicada no Diário Oficial do Estado, terá validade de 180 dias.