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Israel usa nuvem da Microsoft para espionar palestinos, diz jornal

Israel usa nuvem da Microsoft para espionar palestinos, diz jornal

Uma investigação conjunta do The Guardian com as publicações israelenses +972 Magazine e Local Call revelou que a elite de inteligência militar de Israel, a Unidade 8200, utiliza a plataforma de nuvem Azure da Microsoft para armazenar e analisar um vasto volume de chamadas telefônicas feitas por palestinos na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

O projeto, que se tornou operacional em 2022, permite a coleta e armazenamento de até um milhão de chamadas por hora, criando um dos maiores e mais abrangentes sistemas de vigilância sobre uma população específica no mundo.

Parceria estratégica entre Microsoft e o setor de inteligência israelense

Sede da Microsoft em Bucareste, Romênia
Sede da Microsoft em Bucareste, Romênia (Créditos: lcva2 / iStock)

Segundo a reportagem, em 2021, Satya Nadella, CEO da Microsoft, teve uma reunião com Yossi Sariel, comandante da Unidade 8200, para viabilizar a migração de enormes quantidades de dados de inteligência para a nuvem da empresa. Sariel obteve apoio para criar uma área personalizada e segregada na nuvem Azure, garantindo capacidade praticamente ilimitada para armazenar chamadas telefônicas e outros dados sigilosos.

Documentos internos vazados e fontes próximas confirmam que engenheiros da Microsoft trabalharam diretamente sob orientação da Unidade 8200 para implementar medidas avançadas de segurança que permitiram a transferência e o armazenamento massivo dessas informações sensíveis em datacenters localizados principalmente na Holanda e Irlanda.

O papel da nuvem Azure na vigilância e operações militares

Segundo diversas fontes da Unidade 8200 ouvidas pelo The Guardian, os dados armazenados no Azure foram usados para planejar ataques aéreos e operações militares na região. A tecnologia possibilita que oficiais de inteligência analisem o conteúdo de chamadas telefônicas feitas por pessoas na faixa de Gaza e nas proximidades de alvos militares.

Palestinos inspecionam suas casas destruídas, após um ataque aéreo israelense, em meio a intensos combates entre Israel e o Hamas, no centro da Faixa de Gaza, em 7 de agosto de 2024. Imagem: Anas-Mohammed / Shutterstock

Isso inclui a análise massiva do que era antes um espaço restrito a suspeitos específicos, passando para uma vigilância indiscriminada de milhões de cidadãos palestinos. O uso deste sistema aumentou durante a campanha militar que matou dezenas de milhares de civis, incluindo crianças.

Principais características do sistema de vigilância baseado na nuvem Microsoft Azure:

Impactos e controvérsias éticas

O projeto, idealizado pelo então comandante Yossi Sariel, foi apresentado como uma revolução na inteligência militar israelense, estimulando o monitoramento massivo da população palestina – relata o The Guardian. A abordagem mudou de monitorar alvos específicos para vigiar “todos, o tempo todo”, ampliando o escopo da vigilância e levantando sérias questões de direitos humanos. Algumas fontes internas da própria Unidade 8200 apontam que informações extraídas podem ter sido usadas para justificar prisões arbitrárias, chantagem e até execuções.

Microsoft diz que se limita a fortalecer a cibersegurança de Israel (Créditos: Alexander Sikov / iStock)

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A Microsoft, por sua vez, afirma não ter conhecimento do uso da plataforma para vigilância de civis ou armazenamento de tais dados, enfatizando que seu relacionamento com a Unidade 8200 limita-se a fortalecer a cibersegurança de Israel. Um porta-voz da empresa disse que Satya Nadella esteve apenas brevemente na reunião e não discutiu detalhes do conteúdo armazenado no Azure.

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