Diplomacia em xeque: EUA, China e México
A ofensiva tarifária dos Estados Unidos contra o Brasil — com sobretaxa de 50% sobre produtos estratégicos — recoloca a política externa no centro da disputa econômica global. O governo Lula reagiu em três frentes: Defensiva: acionou a Camex para estudar medidas de reciprocidade.
Judicial: Haddad cogita recorrer à Justiça norte-americana, evitando o desgaste de negociações políticas que poderiam parecer submissão. Diversificação: Alckmin avança com o México em acordos que podem reduzir a dependência de Washington, enquanto a China reforça o discurso de apoio mútuo no BRICS. Essa triangulação mostra um Brasil tentando se equilibrar entre três polos: resistir aos EUA, aproximar-se da China e construir uma alternativa regional com o México. Não é simples: qualquer passo mal dado pode comprometer mercados bilionários, mas o Planalto enxerga a crise também como oportunidade de reposicionar o país como potência do Sul Global.
Bolsonaro na corda bamba
No campo interno, o cerco a Jair Bolsonaro se fechou mais. Alexandre de Moraes determinou vigilância 24 horas, considerando concreto o risco de fuga. A PF reforçou essa percepção ao revelar um rascunho de pedido de asilo político à Argentina, datado de 2024. Para a oposição, trata-se de ‘perseguição judicial’. Para o Supremo, é a confirmação de que Bolsonaro não mede esforços para escapar de responsabilizações. O julgamento sobre a tentativa de golpe de 2023, que se aproxima, pode não apenas consolidar sua inelegibilidade, mas abrir caminho para uma condenação criminal. Nos bastidores, aliados já cogitam novas lideranças para manter viva a pauta bolsonarista. Enquanto isso, a estratégia jurídica da defesa é postergar, mas a narrativa pública está fragilizada diante da imagem de um ex-presidente que queria bater em retirada.
A moratória da soja como cartão de visitas ambiental
A liminar que manteve a moratória da soja em vigor vai além de uma disputa entre produtores e ambientalistas. Na prática, significa que o Brasil preserva um instrumento importante de credibilidade internacional em matéria ambiental. Exportadores, especialmente para a Europa, respiraram aliviados: sem a moratória, haveria risco de barreiras comerciais adicionais.
Ambientalistas celebraram a sobrevida de um pacto que já dura 16 anos e ajudou a reduzir o desmatamento ilegal. Ruralistas, por sua vez, acusam ‘cartelização’ e defendem que a decisão fere a liberdade de mercado. O tema será julgado pelo CADE, mas o embate evidencia como meio ambiente e comércio exterior se tornaram dimensões inseparáveis da política brasileira.
Faria Lima sob a mira da PF
A megaoperação desta semana contra o cartel dos combustíveis escancarou como o crime organizado já não se limita às periferias: ele também ocupa as avenidas mais ricas do país. Esquema: adulteração de combustíveis, sonegação estimada em R$ 7,6 bilhões e lavagem de até R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024. Estrutura: uso de fintechs, corretoras e fundos de investimento na Faria Lima, transformados em ‘bancos paralelos’ do PCC. Impacto: pelo menos 30 bilhões em ativos foram identificados, mostrando que o crime conseguiu se infiltrar no coração do sistema financeiro. A operação, que mobilizou 1.400 agentes em 10 estados, teve repercussão imediata: investidores pressionam por mais transparência no mercado financeiro e o governo promete endurecer a regulação das fintechs, para evitar que funcionem como lavanderias de dinheiro ilícito.
Política e crime organizado: as repercussões
O efeito político da operação vai muito além da pauta policial. Parlamentares da base e da oposição já falam em criar comissões especiais no Congresso para debater a regulação do setor de combustíveis e das plataformas financeiras. O caso atingiu a avenida símbolo da elite econômica brasileira e expôs a vulnerabilidade do sistema a infiltrações criminosas sofisticadas. A narrativa que se desenha é perigosa para o mercado: se o Estado não reagir com firmeza, a imagem internacional de São Paulo como ‘hub financeiro seguro’ pode se deteriorar. Nesse ponto, a pressão política por regulação não vem apenas da esquerda — mas também de setores liberais preocupados com a credibilidade do sistema.
Entre diplomacia, Justiça e economia
A semana política brasileira terminou com três tabuleiros abertos: Diplomático, com o Brasil tentando se equilibrar entre EUA, China e México. Judicial, com Bolsonaro cada vez mais vulnerável às investigações. Econômico-policial, com a PF expondo a simbiose entre crime organizado e economia formal. O saldo é de tensão, mas também de oportunidade: se souber administrar a crise, o governo pode transformar vulnerabilidades em ativos políticos e diplomáticos

