O líder indígena Isaka Ruy Huni Kuî, investigado por suposto abuso sexual contra a chilena Loreto Belen, foi detido após se entregar espontaneamente à Polícia Civil em Feijó, interior do Acre, na quarta-feira (9). Ele compareceu à delegacia acompanhado por sua equipe de defesa, prestou depoimento ao delegado Dione Lucas e negou todas as acusações. Após o interrogatório, foi executada a ordem de prisão preventiva emitida em 27 de junho.

Isaka Ruy Huni Kuî, acusado de abusar sexualmente da turista chilena Loreto Belen, foi preso após se apresentar voluntariamente à Polícia Civil
Na manhã desta quinta-feira (10), Isaka foi submetido à audiência de custódia e recebeu autorização judicial para responder ao processo em liberdade. Conforme relatado pelo delegado responsável, o líder indígena teria declarado que só tomou conhecimento da denúncia ao deixar a aldeia, após concluir atividades com turistas na floresta. Assim que soube do caso, afirmou ter contratado advogados e articulado sua apresentação voluntária às autoridades.
Durante o depoimento, o investigado reconheceu que teve uma conversa com Loreto em uma parte isolada da comunidade, mas rejeitou qualquer conduta abusiva. O delegado explicou que, de acordo com o relato de Isaka, a turista teria tentado se aproximar dele, e ele não teria correspondido. Essa situação teria chegado ao conhecimento de sua esposa, provocando um clima de tensão na aldeia. “Segundo ele, a esposa não chegou a agredir a turista, pois foi contida por outras pessoas. O exame de corpo de delito, no entanto, apontou vermelhidões no corpo da vítima”, detalhou o delegado.
O caso segue sob investigação, com depoimentos já colhidos de pelo menos cinco pessoas, entre elas turistas e o próprio suspeito. Outras testemunhas ainda serão chamadas para esclarecer os fatos. Um dos pontos ainda em apuração é o desaparecimento do celular de Loreto, que ainda não foi recuperado. A polícia tenta rastreá-lo por meio do iCloud, aguardando, porém, dados que devem ser fornecidos pela própria denunciante.

O celular da turista, que desapareceu após o episódio, ainda não foi localizado / Foto: Reprodução
A denúncia foi formalizada em 23 de junho. Loreto afirma ter sido vítima de ao menos três episódios de abuso sexual enquanto esteve na aldeia, sendo o último registrado em 17 de junho. A turista chegou ao local em 15 de maio após adquirir um pacote de imersão na floresta pelo valor de R$ 5,5 mil. Segundo ela, a experiência prometida como espiritual e transformadora se tornou um verdadeiro trauma.
Além de registrar o caso formalmente, Loreto também divulgou seu relato nas redes sociais. Em vídeo publicado, ela afirmou: “Não quero difamar ninguém, mas quero que outras pessoas não passem pelo que passei. Acho que tive coragem e força espiritual para enfrentar isso. Que outras mulheres também possam levantar a voz.”
A Polícia Civil confirmou que a mulher foi submetida a exames no hospital de Feijó, incluindo avaliação clínica de lesões corporais e perícia sexológica. Ela também recebeu apoio institucional de órgãos especializados no acolhimento de mulheres em situação de violência, como o Departamento Bem Me Quer e o Organismo de Políticas Públicas para Mulheres (OPM). A conclusão do inquérito deve contar com uma nova oitiva da vítima.
