Com quase 5 mil anos, o DNA sobreviveu desde a construção das primeiras pirâmides do Egito e foi completamente sequenciado
Pela primeira vez, cientistas conseguiram sequenciar o genoma de um morador do Antigo Egito. Com 4.800 anos, o DNA sobreviveu desde a construção das primeiras pirâmides e mostra que o habitante egípcio tinha ancestrais no Oriente Médio e na África. Os resultados foram divulgados nesta quarta-feira (2) na revista Nature.
O estudo foi feito por pesquisadores do Instituto Francis Crick e da Universidade Liverpool John Moores (LJMU). O grupo extraiu a amostra de DNA usada para o sequenciamento do genoma de um indivíduo enterrado na vila de Nuwayrat, localizada a pouco mais de 200 quilômetros do Cairo.

Sequenciamento do genoma traz insights inéditos sobre a vida do morador
A análise feita do esqueleto indica que ele morreu entre os anos 2855 a.C. e 2570 a.C. Apesar de a mumificação manter a estrutura dos corpos, ela não costuma preservar o DNA. Por isso, apesar dos diversos cadáveres do período encontrados até hoje, nunca houve uma amostra de material genético grande o suficiente para um sequenciamento.
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Os resultados mostram que a maior parte da ancestralidade do homem vem do norte da África. Entretanto, cerca de 20% do seu DNA vem de regiões orientais, como a Mesopotâmia. De acordo com o estudo, embora mais genomas sejam necessários para compreender completamente a diversidade genômica dos primeiros egípcios, os resultados indicam que os contatos entre o Egito e a região conhecida como Crescente Fértil (que corresponde aos atuais estados da Palestina, Israel, Jordânia, Kuwait, Líbano e Chipre, bem como partes da Síria, do Iraque, da Turquia e do próprio Egito) não se limitavam à troca de objetos e imagens, mas incluíam também a imigração.

A análise revela também que o indivíduo de Nuwayrat provavelmente tinha olhos castanhos, cabelos castanhos e pigmentação da pele variando de escura a preta. Ele viveu até uma idade avançada para a época (entre 44 e 64 anos), e as características ósseas indicam que ele ficava muito tempo sentado com os braços estendidos, condição compatível com a de um artesão.

“É a primeira evidência genética em favor de potenciais movimentos de populações chegando ao Egito nessa época”, diz um trecho do comunicado oficial de um dos coordenadores do estudo, Pontus Skoglund.
Lucas Soares é jornalista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e atualmente é editor de ciência e espaço do Olhar Digital.
