Conforme noticiado anteriormente pelo ContilNet em 19 de maio, o almirante Alvin Holsey, comandante do Comando Sul dos Estados Unidos (Southcom), estava prestes a iniciar uma visita ao Brasil, com compromissos estratégicos que incluíam uma passagem pelo Acre. No entanto, segundo informações da Folha de S.Paulo, o interesse do militar em conhecer Rio Branco gerou desconforto entre autoridades brasileiras.
Especulações indicam que a motivação por trás do desejo norte-americano estaria ligada ao posicionamento estratégico da tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Bolívia. Em análise publicada nas redes sociais pelo coronel da reserva Gerson Gomes, levantou-se a possibilidade de que o objetivo estivesse relacionado a preocupações envolvendo segurança internacional e inteligência. Ele mencionou potenciais indícios de atuação de células terroristas e o suposto financiamento do Hezbollah por meio de operações ilegais de extração de ouro na região. O conteúdo, veiculado em seu canal no YouTube e no X (antigo Twitter), acumulou mais de 200 mil visualizações e ganhou repercussão entre militares da reserva, como o general Eliezer Girão, que compartilhou o material.

Holsey esteve na capital do país na semana de 19 de maio para reuniões/Foto: Reprodução
A hipótese levantada sugere que recursos advindos do garimpo ilegal no Peru e na Bolívia estariam sendo desviados para financiar grupos extremistas, com possíveis conexões na região acreana.
Durante a estadia em Brasília, Holsey se reuniu com o ministro da Defesa, José Múcio, e com os altos comandos das Forças Armadas — Tomás Paiva (Exército), Marcos Olsen (Marinha), Marcelo Damasceno (Aeronáutica) e Renato Rodrigues de Aguiar Freire (Estado-Maior Conjunto).
Segundo a reportagem, “Os Estados Unidos pediram que Holsey visitasse uma base do Exército em Rio Branco, no Acre. A embaixada dos EUA em Brasília chegou a divulgar um comunicado no qual afirmava que, na capital acreana, o almirante se reuniria ‘com a liderança militar brasileira no quartel do 4º Batalhão de Infantaria do Exército’. Uma correção do comunicado foi enviada em seguida, na qual não mais constava menção à visita ao Acre”.
O desejo de visitar a unidade militar em Rio Branco causou estranheza entre os generais brasileiros. “A unidade militar é comandada por um tenente e não costuma receber autoridades estrangeiras”, observa o jornal.
O motivo declarado para o interesse da comitiva norte-americana era conhecer de perto a atuação do Exército no combate ao tráfico de armas e entorpecentes — missão que está sob responsabilidade do 4º Batalhão de Infantaria de Selva, encarregado da vigilância das fronteiras com Peru e Bolívia.
A matéria da Folha destaca ainda que “O pedido foi feito com pouco tempo de antecedência, e os militares brasileiros sugeriram que o chefe militar dos EUA visitasse o Comando Militar da Amazônia, em Manaus, sob o argumento de que poderia ter uma visão mais ampla sobre o trabalho do Exército brasileiro na região”.
A sugestão brasileira, no entanto, não foi acolhida. “O Exército, de outro lado, negou a ida do chefe militar estrangeiro para Rio Branco, sob o argumento de dificuldades logísticas e operacionais”, completa a reportagem.
Além das divergências sobre o roteiro da visita, outra situação sinalizou o distanciamento entre as partes. “Outro episódio visto como sinal de pouco entusiasmo com a agenda de Holsey foi um jantar organizado pela delegação americana. Múcio e os três comandantes das Forças Armadas foram convidados para o encontro, mas nenhum deles compareceu. Foram representados por oficiais-generais subordinados”.
