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Facção promete invadir frigorífico e sequestrar dono após operação ambiental

Na madrugada da última terça-feira (17), um grupo de criminosos invadiu um frigorífico localizado em Brasiléia e levou diversas cabeças de gado que haviam sido apreendidas durante a Operação Suçuarana, conduzida pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Os animais estavam sob custódia do Estado por serem criados de forma irregular em uma área protegida, a Reserva Extrativista Chico Mendes.

Invasores roubaram dezenas de cabeças de gado que haviam sido apreendidas durante a Operação Suçuarana, realizada pelo ICMBio. Foto: Reprodução

Na quarta-feira (18), a reportagem do ContilNet teve acesso a áudios atribuídos a membros de facção criminosa, nos quais são feitas ameaças diretas à administração do local responsável pela guarda dos bovinos. Em um dos registros, um homem que se apresenta como integrante do Comando Vermelho relata o estado emocional de um dos donos do rebanho apreendido e faz ameaças veladas:

“Colabora, pô. Colabora, bicho. Se tu matar o gado do cara e não devolver pro dono, a polícia não vai te proteger a vida toda não, bicho, tá ligado? Nós é mundo todo, pô. Nossa família é grande, nós é o Comando Vermelho. Só tô te falando, irmão. Pega a visão. Não deixem ninguém atirar mais nenhuma pistola na cabeça do gado do cara, irmão. Porque o cara tá morrendo e infartando nos hospitais por aí, porque o gado é dele, irmão” (sic).

Gados serão abatidos e doados a escolas para produzir a merenda dos alunos/Foto: Reprodução

Ainda no mesmo áudio, o indivíduo afirma que agirá com violência:

“Ele trabalhou a vida toda pra construir, tá ligado? E o Estado foi lá, meteu a mão, levou pra vocês e vocês tão matando. Então nós vamos fazer igual com vocês, mano. Nós vamos entrar e nós vamos metralhar tudo, porra. Tá ligado? Só pega a visão, mano. Mostra meu ódio pra polícia, pra federal, pro caralho. Eu tô revoltado com vocês, mano. Com vocês e com a polícia, vocês são comédia, caralho”.

De acordo com o ICMBio, os criminosos teriam danificado a estrutura do frigorífico, destruindo parte do muro e arrombando o cadeado para acessar os animais. O gado apreendido tinha como destino o abate e posterior distribuição da carne em merendas escolares de instituições públicas da região.

Em outro áudio, o mesmo indivíduo volta a ameaçar ações diretas caso os animais não sejam devolvidos:

“Solta o gado do cara, porra. Libera o gado do cara, porque senão nós vamos cair pra dentro. Tu pega a visão, solta o gado do trabalhador, porque senão nós vamos invadir essa porra desse frigorífico. Se a polícia ficar fazendo escolta aí com vocês até vocês matarem, na hora que ela sair nós vamos derrubar o frigorífico de vocês na bala e na bomba”.

Ele exige ainda contato direto com o responsável pelo frigorífico, e intensifica o tom das ameaças:

“Oportunidade pra vocês colocar o dono da merda desse frigorífico na voz comigo, tá ligado? Porque senão o bagulho vai ficar doido. Vocês podem matar o gado do trabalhador todinho aí, mas o bagulho vai ficar doido pra cima do dono desse frigorífico aí. Nós vamos sequestrar ele, nós vamos levar ele pra Bolívia, nós vamos conversar com ele pessoalmente. Ou ele dá atenção pra nós, ou o bagulho vai ficar doido, irmão, tá ligado? Nós não tem medo de Estado nem de polícia não, porra. Vocês tão mexendo com o trabalhador, pai de família, e nós é do lado deles, porra, tá ligado? Era pra polícia tá protegendo os trabalhadores. Pô, vocês tão oprimindo os trabalhadores, que ralou a vida toda, caralho”.

O ICMBio interpretou o episódio como uma tentativa de impedir as ações de combate à criação ilegal de gado em áreas públicas federais. O órgão também informou que o proprietário do frigorífico, que vinha colaborando com as investigações e com a operação, passou a ser alvo de ameaças de morte.

Por envolver crimes federais e tentativas de obstruir a fiscalização ambiental, o caso será apurado pela Polícia Federal. O ICMBio reforçou que está adotando providências para assegurar a continuidade da operação e punir os envolvidos na invasão e no furto dos animais.

 

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