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Em artigo, porta-voz da Rede diz que governos do PT souberam investir em reserva no Acre

Reserva Chico Mendes/Foto: Lalo de Almeida, Folhapress

Na Amazônia brasileira, há uma grande tradição de uso da floresta por muitas comunidades rurais e indígenas, apresentando práticas e conhecimentos para garantir o manejo de seus recursos, onde manejar a floresta significa usá-la com cuidado. Assim, a exploração deve ser manejada e deve contemplar o uso múltiplo dos recursos, que inclui madeira, frutas, frutos e plantas medicinais. Amplia-se esta lista ao enumerar as oleaginosas e as sementes florestais, como um anseio dessas famílias em diversificar sua produção, garantindo mais uma fonte de renda.

Um terço das florestas do mundo tem sido utilizado para a produção de madeira e de Produtos Florestais Não Madeireiros (PFNMs), pouco mais de 2,1 bilhões de hectares. Veremos a seguir que existem cadeias produtivas viáveis.

Reserva Chico Mendes/Foto: Lalo de Almeida, Folhapress

A Cadeia Produtiva da Madeira

Estruturada no governo de Jorge Viana, que construiu um Complexo Industrial Florestal em Xapuri, conhecido popularmente como Fábrica de Taco, tem capacidade para beneficiar, em média, 100 mil m³ de madeira por ano, gerar mais de 200 empregos diretos e cerca de 600 indiretos, com infraestrutura e equipamentos de última geração.

A matéria-prima utilizada pelo Complexo pode ser totalmente manejada, proveniente da Reserva Extrativista Chico Mendes, da Floresta Pública Estadual do Antimary e de Planos de Manejos Privados. Destacam-se, como os maiores detentores de áreas de manejo florestal comunitário, os projetos de assentamento Porto Dias, São Luiz do Remanso, Riozinho Granada e Chico Mendes, todos localizados no município de Xapuri e certificados pelo Forest Stewardship Council (FSC).

A Cadeia Produtiva da Borracha

O governo de Jorge Viana construiu uma moderna Fábrica de Preservativos Masculinos de Xapuri – NATEX. Mas, infelizmente, este empreendimento encontra-se fechado, mesmo com capacidade de produção anual de 100 milhões de preservativos e consumo médio de látex de 500.000 litros, o que equivale a aproximadamente 250 toneladas de borracha seca.

Na unidade industrial, composta por uma usina de centrifugação de látex e uma fábrica de preservativos, eram gerados 170 empregos. Do total de colaboradores empregados na fábrica, 93% são naturais do Estado do Acre e, destes, 76% de Xapuri, o que gerava desenvolvimento de competência técnica e social para a região. Cerca de 700 famílias extrativistas de 30 seringais, localizados na Reserva Extrativista Chico Mendes e em projetos extrativistas no entorno da fábrica, foram cadastradas e treinadas para a coleta e fornecimento de látex para a produção de preservativos, gerando benefícios sociais e econômicos.

Felizmente, o atual prefeito de Xapuri, Maxsuel Maia, já se reuniu com a presidente da Agência de Negócios do Acre (Anac), Waleska Bezerra, com quem conversou sobre a intenção de reabrir a Fábrica de Preservativos Masculinos de Xapuri. Na conversa, o gestor se informou sobre os avanços de uma possível parceria público-privada para retomar as operações da indústria, o que pode gerar empregos e fortalecer a economia local.

A Vert, que produz tênis no Rio Grande do Sul com lona de algodão ecológico do Ceará, látex do Acre e couro com curtimento ecológico, vende os calçados há dez anos na Europa e recentemente avança no mercado brasileiro. Para produzir esses calçados, a Vert conta com apoio de três comunidades extrativistas do Acre: Resex Chico Mendes, em Assis Brasil, e Curralinho e Parque da Cigana, em Feijó.

Cadeia Produtiva da Castanha

A COOPERACRE, que nasceu como uma cooperativa de comercialização, transforma-se em uma cooperativa de processamento graças à concessão comum e à doação de usinas de processamento feitas no governo de Jorge Viana e ampliadas e modernizadas no governo de Tião Viana. Atualmente reconhecida por concentrar a maior produção de castanha beneficiada do Brasil, a Cooperacre quer se consolidar como referência mundial. Atualmente, a cooperativa beneficia, em média, 1.200 toneladas de castanha-do-brasil por ano, seu principal produto.

Em 2023, a cooperativa movimentou mais de R$ 73 milhões em bioeconomia, envolvendo cerca de quatro mil famílias extrativistas. A comercialização de castanha rendeu R$ 24,5 milhões com cerca de 350 toneladas vendidas. A produção de borracha gerou R$ 8,6 milhões, com 720 toneladas comercializadas.

A Cadeia Produtiva de Animais de Pequeno Porte

A cadeia produtiva de aves foi estruturada no governo de Binho Marques e está organizada através do Complexo Acreaves, que é composto por um incubatório que tem, atualmente, a capacidade para incubar 640.000 ovos por mês. O frigorífico atualmente abate 25 mil aves/dia e tem capacidade para abater até 41 mil/dia, o que, transformado em produto como: frango inteiro, cortes de frango, miúdos de frango e CMS (carne mecanicamente separada), chega a aproximadamente 6,8 toneladas/ano de produto, com capacidade de expansão para 2016 de 9,8 toneladas/ano de produto final. Com a expansão de mercado, o objetivo é que o abate salte para 50 mil aves/dia em 2028.

A fábrica de embutidos tem uma produção atual de 2,8 toneladas/ano que gera os produtos da marca Sabbor. São produtos como mortadela, mortadela light, salsichão, apresuntado e linguiça, entre outros. A fábrica de ração, com capacidade de produção de 2 mil toneladas/mês, totalizando 24.000 toneladas/ano, está em fase de expansão para 37 mil toneladas por ano.

O complexo de suinocultura, Dom Porquito S.A., estruturado no governo de Tião Viana, é composto de uma Unidade de Produção de Leitões com capacidade para 2.000 matrizes. A empresa está investindo nesta unidade para aumentar sua capacidade para até 6.000 matrizes. O frigorífico tem capacidade de abater 1.600 animais por dia com peso médio de 120 kg. É um dos mais modernos do país, com tecnologia importada da Alemanha, produzindo carcaças, cortes finos e embutidos. Está em operação cinquenta e cinco Unidades de Terminação de suínos para pequenos produtores rurais, em uma parceria público-privada. Como referência, o integrado padrão possui uma granja com capacidade de alojamento para 500 suínos por ciclo de engorda de 90 dias. A meta da empresa é chegar a 100 produtores integrados, assegurando capacidade suficiente para suprir a unidade industrial de suínos para abate de até 800 animais/dia.

A criação da Cordeiros da Amazônia S.A., pelo governador Tião Viana, é outra cadeia produtiva de proteína animal que tem um ambiente favorável para que os produtores façam da atividade mais um complemento da renda e, com isso, possam garantir a produção de animais com melhor qualidade e padronização para abastecer a indústria.

Cadeia Produtiva de Frutas

A Cooperativa Central de Comercialização Extrativista do Estado do Acre (Cooperacre) está investindo R$ 60 milhões na construção de uma nova planta agroindustrial voltada ao processamento de frutas tropicais da região Norte. As obras, iniciadas no começo de 2023, devem ser concluídas até junho deste ano. Desse total, R$ 35 milhões já foram aplicados no projeto.

A nova planta terá capacidade para processar até 10 mil toneladas de polpa concentrada por ano, dez vezes mais que a estrutura atual. O foco será em dez espécies prioritárias: açaí, cupuaçu, cajá, graviola, acerola, maracujá, caju, manga, abacaxi e goiaba.

A Cadeia de Valor do Bambu

A cadeia de valor do bambu torna-se uma potencial economia no Estado do Acre, visto que possuímos a maior reserva de bambu do mundo. Se considerarmos somente as famílias residentes na Reserva Extrativista Chico Mendes e na Floresta Estadual do Antimary, que podem ser envolvidas nesse processo, a participação seria de mais de 2.000 famílias.

Cadeias de Valores de Óleos Fixos e de Oleaginosas

Na busca pela utilização sustentável da biodiversidade amazônica, foram testados dois produtos: um sabonete de melão-de-são-caetano, para escabiose, e um shampoo de quina e andiroba, para pediculose, ambos desenvolvidos pelo Laboratório de Produtos Naturais (LPN) e produzidos pela Saboaria Xapuri.

A capacitação de comunitários, principalmente da Floresta Estadual do Antimary, da Reserva Extrativista Chico Mendes, da Floresta Nacional Macauã e da Reserva Extrativista Cazumbá-Iracema, obteve resultados tão positivos que acabaram por se estender para a área urbana, principalmente para localidades mais carentes do interior e da capital. Estas capacitações focaram na construção do processo de rastreabilidade, destacando as espécies oleaginosas: copaíba (Copaifera paupera), castanha (Bertholletia excelsa), açaí (Euterpe oleraceae), buriti (Mauritia flexuosa), patauá (Oenocarpus bataua), murumuru (Astrocaryum murumuru) e cocão (Attalea tessmannii). Na região do Juruá ocorre o maior número de espécies oleaginosas, sobretudo palmáceas, como o cocão (Attalea tessmannii), jaci (Attalea phalerata), patauá (Oenocarpus bataua), tucumã (Astrocaryum aculeatum), castanha-de-macaco (Couroupita guianensis) e andiroba-de-rama (Fevillea cordifolia).

Meliponicultura

A criação de abelhas sem ferrão no Estado do Acre foi iniciada em 2012, com incentivos e capacitações promovidos pelo Governo do Estado do Acre, como uma alternativa viável para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental, assegurando aos produtores familiares um serviço educativo e sustentável, onde a floresta é vista como a principal riqueza, assim como a população que dela vive, que tem como desafio a sua exploração e conservação.

Claro que todas essas oportunidades de negócios necessitam de investimento, que precisam de programas e projetos aptos para se credenciarem nos editais do Fundo Amazônia, Fundo do Clima, Plano de Aceleração do Crescimento – PAC e, principalmente, para receber emendas parlamentares, tanto de vereadores, deputados estaduais, federais e senadores que tomaram de assalto o orçamento do Executivo.

Portanto, a pecuária bovina na RESEX, além de ir de encontro com o Plano de Utilização da Reserva, que estabelece no Art. 30º: “Além das atividades extrativistas, os moradores da Reserva poderão realizar atividades complementares, tais como agricultura, criação de pequenos animais, peixes e atividades agroflorestais”; e no Art. 36º: “A criação de grandes animais, como o gado, será permitida até o limite máximo de 50% da área da colocação destinada para atividades complementares.” Como as terras são públicas, a pecuária, que historicamente foi utilizada como uma forma de demarcação de área de terra, sobrevive mais à custa de especulação imobiliária e de subsídios governamentais do que em função da sua viabilidade econômica.

Vejamos: o PIB de um hectare de produção de carne é de R$ 500,00/ano. O café, R$ 20.000,00/ano. Esses cálculos estão associados, na maioria das situações, à produção de mercadorias de baixo valor agregado ou de baixa complexidade. Essa simplificação da produção tem, na maioria das situações, correlação com fatores de valor, peso e distância. Ficando claro que introduzir agropecuária na reserva é espalhar a pobreza monetária, ecológica e, principalmente, política.

Inácio Moreira é porta-voz Estadual da Rede Sustentabilidade – Acre.

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