Serpentes venenosas do Acre: onde vivem e como evitar encontros perigosos

Segundo o biólogo Adriano Martins, especializado em herpetologia, essas serpentes possuem glândulas venenosas e presas adaptadas para injetar o veneno de forma eficaz

Nas profundezas da floresta amazônica, o estado do Acre é lar de algumas das serpentes mais perigosas do país. Entre as espécies que mais despertam atenção de especialistas estão a jararaca-da-Amazônia (Bothrops atrox), a surucucu-pico-de-jaca (Lachesis muta) e a coral-verdadeira (Micrurus spp.). Esses animais representam risco significativo para a saúde humana devido ao alto grau de toxicidade de seus venenos e são responsáveis por boa parte dos acidentes ofídicos registrados na região.

A Jararaca-da-Amazônia é a principal responsável por acidentes com cobras em toda a região amazônica, incluindo o Acre / Reprodução

Segundo o biólogo Adriano Martins, especializado em herpetologia, essas serpentes possuem glândulas venenosas e presas adaptadas para injetar o veneno de forma eficaz. De acordo com ele, o conhecimento sobre a biologia dessas espécies, seus habitats e formas de evitar acidentes é essencial para a prevenção de casos graves.

A jararaca-da-Amazônia é frequentemente associada a incidentes envolvendo humanos. Essa serpente terrestre é comumente encontrada em áreas de floresta, plantações, margens de rios e até regiões urbanizadas. Seu veneno pode causar efeitos como dor intensa, inchaço, necrose e hemorragias, e em situações mais críticas, pode desencadear choque e comprometimento renal. Por ter hábitos noturnos e comportamento defensivo, tende a atacar quando se sente ameaçada.

Surucucu-pico-de-jaca chama atenção por ser a maior serpente peçonhenta das Américas, podendo ultrapassar 3 metros de comprimento / Reprodução

A surucucu-pico-de-jaca, por sua vez, é a maior serpente venenosa das Américas, com indivíduos que podem ultrapassar três metros. Ela prefere regiões de floresta mais conservadas e tem comportamento reservado. Seu veneno, semelhante ao da jararaca, afeta o sistema circulatório e pode provocar quedas bruscas de pressão e hemorragias. Um fato curioso é que, ao contrário da maioria das cobras venenosas da região, essa espécie põe ovos.

Coral-verdadeira, uma serpente de pequeno porte e coloração vibrante, com anéis vermelhos, pretos e brancos / Reprodução

A coral-verdadeira, reconhecida pelas cores chamativas — anéis vermelhos, brancos e pretos —, raramente provoca acidentes, mas quando ocorrem, o risco é elevado. Seu veneno atua no sistema nervoso e pode levar à paralisação muscular e respiratória, exigindo atendimento médico imediato. É uma espécie que vive enterrada, evitando o contato com humanos, o que reduz a frequência de picadas.

Essas serpentes se distribuem em diversos ambientes do Acre, como florestas alagadas, clareiras, campos e margens de matas. A maioria dos casos de envenenamento ocorre em áreas rurais, durante atividades como plantio, pesca, caça ou coleta de alimentos. Apesar do perigo que representam, essas espécies têm papel vital no ecossistema, controlando populações de roedores e servindo de alimento para predadores naturais, como aves e felinos.

Além da relevância ecológica, o potencial científico dos venenos dessas cobras é notável. O captopril, remédio utilizado para tratar pressão alta, foi desenvolvido a partir de toxinas da jararaca. Pesquisas recentes investigam ainda usos terapêuticos na regeneração de tecidos, coagulação e tratamento de doenças neurológicas.

Para evitar acidentes, recomenda-se o uso de equipamentos de proteção como botas e perneiras, evitar caminhadas noturnas em áreas de mata e manter atenção redobrada ao pisar em locais com folhas secas, buracos ou troncos. Também é importante não tentar capturar ou matar serpentes avistadas.

Caso ocorra uma picada, os procedimentos corretos incluem lavar o local com água e sabão, manter o membro elevado e buscar atendimento médico urgente. A pessoa deve permanecer calma e imóvel até chegar ao hospital. Não é indicado aplicar torniquetes, cortar o local ou utilizar tratamentos caseiros. Se possível, registrar uma imagem do animal ajuda na identificação para o uso do soro adequado. Após o atendimento, o repouso recomendado varia entre 10 e 14 dias.

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