Pesquisadores revelam que macacos-prego utilizam pedras e galhos de árvores como ferramentas para conseguir alimentos

Animais “trabalham” em atividades anteriormente atribuídas somente à espécie humana; seringueiros relatam até acidentes nessa atividade em que pedras são utilizadas como ferramentas

O ouriço da chamada castanha-do-Pará, agora justamente batizada de castanha-do-Brasil, mesmo quando cai de maduro das castanheiras, é um produto fechado hermeticamente que o ser humano não consegue quebrar sem o uso de ferramentas, terçados ou machados. Alguns tipos de macacos, como o chamado macaco-prego, endêmico da floresta amazônica, conseguem utilizando técnicas como assoprar o ouriço por um pequeno orifício da casca dura e, em seguida, com o dedo sobre o orifício assoprado, batê-lo contra algo fixo, como madeira ou pedras.

O problema é que, para a atividade, o animal, no topo das árvores, utiliza a cauda como se fosse uma quinta garra, a qual, enrolada no galho da árvore, lhe permite ficar com as duas garras dianteiras livres para bater o ouriço contra o objeto fixo. Não raro, nessa atividade, como um perfeito operário, o macaco bate o ouriço, acidentalmente, contra a própria cauda. Seringueiros e outras pessoas que já testemunharam a cena dizem que os gritos dos macacos, após esse, digamos assim, acidente de trabalho, podem ser ouvidos a quilômetros de distância, floresta adentro.

Macaco-prego utikiza pedras como ferramenta em atividades que eram apontadas como exclusivas do ser humano/Foto: Reprodução

O que era relatado de forma até duvidosa por quem vive na floresta agora foi comprovado pela ciência: na densidade das matas brasileiras, um dos primatas mais inteligentes do nosso continente exibe um comportamento que já foi considerado exclusivo dos humanos: o uso de ferramentas. Esse primata é o nosso conhecido macaco-prego, o qual, com expressão curiosa e mãos habilidosas, aprendeu a utilizar pedras para conseguir alimento de maneira surpreendente. Essa estratégia engenhosa revela muito mais do que apenas adaptação: ela nos leva a repensar o que sabemos sobre inteligência animal.

É fascinante observar como o macaco-prego (do gênero Sapajus) desenvolveu a habilidade de usar pedras como martelos e bigornas naturais para quebrar alimentos duros, como castanhas, sementes e até caramujos. Esse comportamento, chamado cientificamente de “litoclastia”, foi documentado por pesquisadores em várias regiões do Brasil, especialmente no Parque Nacional da Serra da Capivara, no Piauí.

Com precisão impressionante, o macaco escolhe uma pedra de formato ideal, coloca o alimento sobre uma rocha maior e o golpeia repetidamente até conseguir acessá-lo. Eles fazem isso com técnica apurada, usando força suficiente para quebrar a casca, mas sem danificar a parte comestível.

O mais intrigante é que esse comportamento não é instintivo — ele é aprendido. Filhotes observam os adultos por muito tempo até dominar o uso das pedras. Os jovens passam anos testando, errando e imitando os mais experientes. Isso configura um verdadeiro processo de transmissão cultural, algo antes atribuído quase exclusivamente aos humanos e grandes primatas, como chimpanzés.

Em outras palavras, o conhecimento sobre as ferramentas é herdado não geneticamente, mas socialmente. Cada grupo de macaco-prego pode, inclusive, desenvolver variações técnicas próprias, como o uso de suportes diferentes ou tipos específicos de pedra — o que dá indícios de uma forma rudimentar de “tradição” entre grupos.

Ao contrário do que muitos poderiam imaginar, o macaco-prego não usa qualquer pedra que encontra pelo caminho. Ele avalia o peso, a forma e a textura do objeto antes de decidir se ele é adequado para o trabalho. Algumas pedras, inclusive, são levadas de um local a outro e reutilizadas, mostrando uma espécie de planejamento.

Já foram encontrados “locais de processamento”, onde pedras e restos de alimentos quebrados indicam que o local é utilizado há muito tempo como “cozinha” coletiva pelos membros do grupo. É um exemplo claro de organização e uso consciente de ferramentas no mundo selvagem.