Motta alfineta governo: “Não pode gastar sem freio e passar volante para o Congresso”

A declaração ocorre dias após o Ministério da Fazenda anunciar um decreto do Executivo que altera o IOF, tributo que incide sobre crédito

O presidente da Câmara dos Deputado, Hugo Motta (Republicanos-PB), disse nesta segunda-feira (26/5) que o Brasil “não precisa de mais imposto”, dias depois do anúncio do governo de aumento da cobrança em alguns casos do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

Marina Ramos / Câmara dos Deputados

“A Câmara tem sido parceira do Brasil ajudando a aprovar os bons projetos que chegam do Executivo e assim continuaremos. Mas quem gasta mais do que arrecada não é vítima, é autor. O Executivo não pode gastar sem freio e depois passar o volante para o Congresso segurar. O Brasil não precisa de mais imposto. Precisa de menos desperdício”, declarou Motta na rede social X.

A declaração ocorre dias após o Ministério da Fazenda anunciar um decreto do Executivo que altera o IOF, tributo que incide sobre operações de crédito, câmbio e seguro, e um dia depois de o ministro Fernando Haddad responsabilizar o novo arranjo institucional – que chamou de “quase parlamentarismo” – pelas dificuldades encontradas pelo Planalto com as medidas de ajuste fiscal.

Em entrevista a O Globo, Haddad disse que “hoje nós vivemos um quase parlamentarismo” e que “quem dá a última palavra sobre tudo isso é o Congresso”, numa crítica indireta à fragmentação da base aliada e à necessidade de negociar cada projeto com lideranças da Câmara e do Senado.

As medidas provocaram repercussão negativa no mercado financeiro na semana passada: o Ibovespa apresentou retração, com baixa de 0,44%, o que fez o indicador fechar com 137.272 pontos. O dólar registrou alta de 0,32% e encerrou valendo R$ 5,66. Com a repercussão negativa, horas depois, o governo decidiu revogar parte das mudanças anunciadas.

A manifestação do presidente da Câmara vem a público semanas após os deputados terem aprovado um projeto que aumenta o número de deputados de 513 para 531 a partir de 2027. A proposta ainda precisa passar por análise do Senado, que registra alas com resistência ao texto.

A discussão é feita depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) determinar que a Câmara remaneje as bancadas estaduais de acordo com o Censo de 2022. A proposta manteria os 513, com alguns estados perdendo e outros ganhando deputados. Porém, os parlamentares só acrescentaram deputados onde a população cresceu e não cortaram onde houve queda populacional.

Entenda quais foram os aumentos que ficaram no IOF

IOF – Seguros

Segundo o Ministério da Fazenda, a mudança no setor de seguros corrige a distorção de plano do tipo Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL), usado como investimento de baixa tributação, e preserva o investidor que busca segurança previdenciária.

Antes:

  • Não havia alíquota para aportes mensais.

Como ficou:

  • Continua zero para aportes mensais até R$ 50 mil.
  • 5% de IOF para planos VGBL ou previdência com aportes mensais superiores a R$ 50 mil.

IOF – Crédito empresas

Cooperativa tomadora de crédito

Antes:

  • Não havia alíquota para aportes mensais.

Como ficou:

  • Continua zerada para cooperativa com operações até o valor de R$ 100 milhões ao ano.
  • Em operações acima dos R$ 100 milhões, elas serão tributadas como as empresas em geral.

Crédito pessoa jurídica

Antes:

  • 0,38% fixo + 0,0041% ao dia

Como ficou:

  • 0,95% fixo + 0,0082% ao dia

Empresas do Simples Nacional – com operação até R$ 30 mil

Antes:

  • 0,38% fixo + 0,00137% ao dia

Como ficou:

  • 0,95% fixo + 0,00274% ao dia

Entre as operações de IOF que continuam com alíquota zero ou isentos, estão crédito rural, Fies, programas de geração de emprego e renda, entre instituições financeiras e adiantamento de salário ao empregado.

IOF – Câmbio

Cartões internacionais e remessas ao exterior

Antes:

  • 3,38% em 2024; e
  • 1,1%.

Como ficou:

  • IOF unificado em 3,5%.

Como vai ficar:

  • Com o recuo, as remessas destinadas a investimentos continuarão sujeitas à alíquota atualmente vigente, de 1,1%.

Empréstimo externo de curto prazo

Antes:

  • Era de 6% até 2022.
  • “Curto prazo” chegou a ser de 1.080 dias.
  • Zerada a partir de 2023.

Como ficou:

  • 3,5%.
  • “Curto prazo”: até 364 dias.

Transferências relativas a aplicações de fundos no exterior

Antes:

  • Zero.

Como ficaria:

  • 3,5%.

Como vai ficar:

  • Com o recuo, o IOF volta a não incidir sobre esse tipo de transação.

Operações não especificadas

Antes:

  • 0,38%.

Como ficou:

  • Entrada: 0,38%.
  • Saída: 3,5%.