Recentes estudos têm aumentado a nossa compreensão sobre o microbioma oral. Formado pelo conjunto de microrganismos, como bactérias, fungos e vírus, que vivem na nossa boca, ele pode afetar a nossa saúde física e mental.

Estes trabalhos associaram problemas nesta região com o transtorno do espectro do autismo, demência, doença de Parkinson e esquizofrenia, por exemplo. Agora, um novo trabalho aponta que a ansiedade e a depressão podem ser transmitidas de uma pessoa para outra pelo beijo.

Casais foram avaliados em experimento

  • Na pesquisa, a equipe investigou se o microbioma oral poderia ser transferido entre pessoas por meio do beijo e o que isso implicaria para a nossa saúde.
  • No total, 268 casais foram analisados.
  • Todos eles haviam se casado nos últimos seis meses.
  • Um dos cônjuges era saudável, enquanto o outro tinha sintomas de ansiedade e depressão.
  • Os participantes tiveram sua composição do microbioma oral e níveis de cortisol salivar (hormônio do estresse) medidos durante o estudo.
  • A conclusão foi que, após seis meses de casamento, os cônjuges saudáveis apresentaram aumento dos níveis de depressão e ansiedade, além de pior qualidade do sono.
  • Os resultados foram descritos em estudo publicado na revista Exploratory Research and Hypothesis in Medicine.

A conclusão resumida do artigo é a seguinte: “a transmissão da microbiota oral entre indivíduos em contato próximo media parcialmente os sintomas de depressão e ansiedade”.

Sinais de depressão foram identificados em cônjuges saudáveis (Imagem: Aonprom Photo/Shutterstock)

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Beijo teria sido o responsável pela “transferência”

Ao mesmo tempo, os pesquisadores observaram que a composição das bactérias encontradas na boca de cônjuges saudáveis mudou consideravelmente, tornando-se cada vez mais semelhante aos seus parceiros. Eles concluíram que a transferência da microbiota oral entre indivíduos em contato próximo, como casais, pode causar depressão e ansiedade.

Ainda de acordo com o estudo, “as mudanças na composição da microbiota oral estão associadas a mudanças na gravidade da insônia, nos níveis de cortisol salivar e nos escores de depressão e ansiedade”. As descobertas podem ajudar na criação de novos tratamentos contra estas doenças.

Descoberta pode ajudar no desenvolvimento de novos tratamentos contra a depressão e a ansiedade (Imagem: Motortion Films/Shutterstock)

Há oposição!

Cientistas que não participaram do trabalho, no entanto, contestam os resultados. Segundo eles, existem algumas limitações na pesquisa, como o uso de relatos próprios para medir insônia, depressão e ansiedade. Além disso, devido a restrições financeiras, as amostras bacterianas foram coletadas apenas das amígdalas e da faringe, em vez de todo o microbioma oral.

Por conta disso, eles afirmam que seriam necessários novos estudos para efetivamente confirmar as hipóteses levantadas neste trabalho. De qualquer forma, a pesquisa levanta uma importante discussão de saúde.

Colaboração para o Olhar Digital

Alessandro Di Lorenzo é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e atua na área desde 2014. Trabalhou nas redações da BandNews FM em Porto Alegre e em São Paulo.

Bruno Capozzi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero e mestre em Ciências Sociais pela PUC-SP, tendo como foco a pesquisa de redes sociais e tecnologia.