O Dia Mundial de Conscientização do Autismo é comemorado nesta quarta-feira (2), e representa um momento para compreender as dificuldades e especificidades de pessoas com autismo e também daqueles que estão ao redor, sendo o suporte para este grupo dentro do espectro.

O pai conta dos desafios enfrentados pelos pais de autistas/Foto: Cedida
O médico Pedro Mariano, pai de Pierre, garoto de 10 anos dentro do espectro autista, relata que lidar com a criança autista começa já no momento do diagnóstico, que para muitos é um momento complicado, em que o futuro da criança é posto em cheque.
“O diagnóstico é sempre difícil porque você começa a pensar muito no futuro do seu filho, no meio das dificuldades que você vai enfrentar. Muitas vezes acaba entrando na fase do luto”, comenta ele sobre o momento da notícia.
“Com pouca informação sobre o tema foi difícil primeiramente aceitar o autismo. Aceitar que aquele serzinho tão pequeno não receberá as mesmas oportunidades, os mesmos direitos ou a mesma humanidade. Tive que olhar todos os dias nos olhos do meu bebê aos prantos sem entender o porque ele se sentia de tal forma”, complementou a mãe de Pierre, Sherlli Felini.
Ele ainda diz que o diagnóstico nunca vem só para o indivíduo, mas também para toda a família, e que as pessoas que estão em volta da criança que está dentro do espectro também necessitam de apoio.
“Dependendo do espectro das dificuldades que encontramos, esse caso se agrava, não só para o filho, mas para a família. Então eu vejo que realmente tem que ter um entendimento por parte da sociedade, dos profissionais e dos nossos representantes, secretários, governantes, para entender realmente o contexto geral de um diagnóstico do autismo, não só da para a criança, mas para a família em si”, destacou.
“Foi preciso que nós pais estudássemos sobre autismo, buscamos referência de pais através das redes sociais. Entrávamos em contato, assistíamos conteúdo, podcast e consumíamos tudo o que estava a disposição. E aos poucos íamos aplicando e observando, dia após dias íamos analisando a evolução e reajustando estratégias. Estratégias que nunca foram ensinadas por profissionais que nos atendiam nas terapias. Jamais fomos orientados a como ajudar nosso filho”, continuou ainda.
“Não é só pra criança, o diagnostico é pra família em si” diz o pai/Foto: Cedida
O pai conta que, após o momento inicial de luto, passado por muitas famílias atípicas, começam as dificuldades e adaptações necessárias para as pessoas que convivem com uma criança dentro do espectro.
“A luta, no caso do Pierre, que está no grau três do espectro, é a comunicação. Ele ainda tem dificuldade com a interação social, devido aos problemas de comunicação. Mas cada um, cada ser humano, cada criança ou adulto tem a sua particularidade, o seu espectro individual”, destacou ele.
Pedro Mariano pontua ainda que é necessário entender que não somente aquelas pessoas dentro do espectro com níveis maiores de suporte precisam serem atendidas e amparadas, mas que muitas vezes as pessoas com níveis menores também passam por grande sofrimento interno, pois são, muitas vezes, consideradas “menos autistas”, que aqueles que precisam de maiores apoios.
“Às vezes a pessoa está no grau um de suporte e pouco se percebe as alterações e às vezes acaba que a pessoa até tem um sofrimento a mais, porque as pessoas falam ‘ah, ele é normal, isso é frescura’, mas não é bem assim. Quem convive todo dia sabe a diferença e as estereotipias que a criança, adolescente ou adulto tem”, destacou.
Sobre as dificuldades do filho, a mãe ressalta que muitas coisas precisam ser introduzidas aos poucos, já que muitos itens demandam longos processos de aceitação e adaptação para serem absorvidos de maneira mais orgânica.
“Aos poucos vamos dessensibilizando, introduzindo determinados objetos, odores e texturas para que ele vá se adaptando e superando suas próprias limitações”
O pai conta ainda que é preciso cuidar de todos os autistas, não só aqueles com maior grau de suporte/Foto: Cedida
Ele ainda conta que, apesar de todas as dificuldades, o contato com crianças autistas é visto por ele como uma missão de vida, mas de maneira positiva, e não como um fardo. “É uma missão muito linda e maravilhosa, em que nos tornamos seres humanos melhores. O amor em primeiro lugar e amar essas crianças incondicionalmente, e ter empatia pelas outras também e ajudar toda a família que precise porque é um sofrimento grande para algumas pessoas”.
Por fim, o médico conta qual foi o principal lição aprendida com o filho foi a ter mais empatia com os outros e entender o real significado do amor.
“O Pierre me ensinou a ter mais empatia pelo ser humano, a conhecer de verdade o que significa amar, superação de limites, ver que o amor supera todos os limites e ser um ser humano melhor com certeza, só agradeço a Deus pela sabedoria que o Pierre me dá todos os dias”, encerrou o pai atípico.
“Com carinho deixo aqui o conselho de uma Mãe que vive o espectro. Não tema o autismo, ele vai machucar muito muito mesmo. Vai tirar seus amigos e a família que você acreditava ter. Não aceitem quando disserem que seu autista não é capaz, pois ele é! Acredite, ore, estude e trabalhe o seu milagre. Crie atividades com EVA, tampas de garrafa, papelão, pregadores de roupa e etc. Você tem tudo nas mãos, não espere que o serviço público faça algo”, complementou a mãe.