Seringueiro da Reserva Chico Mendes, em Xapuri, relata presença dos animais em caça inclusive no terreiro de casa e esturros à noite; Ibama proíbe caça e morte das onças
O noticiário nacional sobre ataque de uma onça a um caseiro no interior do Mato Grosso do Sul, na região do Pantanal, e o encontro macabro de seus restos mortais escondidos numa toca na floresta, serviram como um sinal de alerta para quem vive em áreas da Amazônia, notadamente no Acre, onde é comum a proliferação dos felinos rondando inclusive as casas na zona rural. Não é difícil se encontrar na zona rural da Amazônia relatos de encontros, perseguições e ataques dos animais a humanos.
Jorge Avalo trabalhava como caseiro em um pesqueiro no Pantanal, onde foi atacado/Foto: Divulgação/PMA e Reprodução/Redes Sociais
Na Reserva Chico Mendes, em Xapuri, interior do Acre, por exemplo, é comum o encontro de pegadas dos animais nos terreiros das casas a cada amanhecer, revela o ex-vereador e sindicalista Raimundo de Barros, o “Raimundão”, morador da comunidade Rio Branco, dentro da reserva. “Elas passam a noite esturrando ao redor das casas da gente”, disse o velho seringueiro.
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Segundo ele, em todo o Acre é comum o registro de pessoas perseguidas pelos felinos, embora não tenha havido, até aqui, ocorrências trágicas como a que foi registrada no Mato Grosso. Ali, numa comunidade conhecida como “Touro Morto”, quem acabou morrendo foi o caseiro Jorge Avalo, o “Jorginho”, que trabalhava numa fazenda onde foi atacado na segunda-feira (21). O corpo foi encontrado em uma região chamada de “Touro Morto”, após buscas da Polícia Militar Ambiental (PMA).
As equipes da PMA encontraram, na terça-feira (22), o corpo do caseiro de 60 anos, que morreu após ser atacado por uma onça no pesqueiro onde trabalhava, às margens do rio Miranda, no Pantanal de Aquidauana (MS). Imagens mostram parte das buscas pela vítima. A polícia confirmou que Jorge morreu após o ataque da onça na madrugada de segunda-feira (21), quando encontrou partes do corpo da vítima ao lado de pegadas do animal, na beira do rio. Durante as buscas feitas na terça, outras partes do cadáver foram encontradas em uma toca do felino, em uma área de mata fechada, a cerca de 300 metros de onde a vítima foi atacada.
O resto do corpo de Jorge foi recolhido pela equipe da PMA e encaminhado para perícia técnica, no Núcleo Regional de Medicina Legal de Aquidauana. Helicópteros e drones foram utilizados durante a operação pelo local do ataque, que é de difícil acesso. Além dos policiais, familiares da vítima ajudaram nas buscas pelo corpo de Jorge, que trabalhava como caseiro no pesqueiro onde sofreu o ataque.
Uma semana antes de morrer, homem já temia ataque de onça no Pantanal. Jorge apareceu em um vídeo alertando sobre a presença de onças no pesqueiro onde trabalhava como caseiro. Nas imagens, outro homem grava o vídeo chamando a vítima de “cunhado” e mostra rastros de duas onças ao lado da casa onde Jorge trabalhava. Os dois relatam nas imagens que os animais pareciam estar brigando.
O homem brinca dizendo que o animal pode atacar Jorge: “Vou mandar para o Dão. A onça vai comer o Jorge, Dão!”, diz ele. “Não vai comer, não!”, responde Jorge, que estava enganado. Na aposta, venceu a onça.
Apesar do risco em potencial para quem habita os biomas infestados por onças, caso do Pantanal e da Amazônia, é proibido por lei a morte desses e outros animais no Brasil. A Lei de Crimes Ambientais estipula pena mínima de seis meses a um ano de detenção e multa por matar e perseguir fauna silvestre sem a devida autorização. Um projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional busca aumentar essa pena para um intervalo entre três e cinco anos de reclusão.
Em janeiro deste ano, no Piauí, por exemplo, o Ibama (Instituto Nacional dos Recursos Naturais Renováveis) multou três pessoas que mataram uma onça-parda e permitiram que cães atacassem o animal. O crime, filmado e divulgado nas redes sociais, ocorreu em 16 de dezembro do ano passado em Alto Longá (PI). A multa, para cada pessoa, é de R$ 20 mil.
O caso gerou até indignação e levantou questionamentos sobre a possibilidade de os responsáveis serem presos, além de pagar multa. A pessoa que filmou as cenas da morte da onça é irmã da responsável pelos tiros. Outro participante é o pai das duas mulheres, um senhor de 73 anos. Fiscais do Ibama no Piauí estiveram no local e abriram procedimento contra a família responsável pelo abate do animal.
Para caçar, as onças preferem o período da noite. As onças-pintadas, assim como outros felinos, marcam território para evitar a aproximação de animais indesejados. As onças caçam se esgueirando ou emboscando suas presas. Elas preferem caçar à noite. Além disso, marcam território para evitar a aproximação de animais também desejosos em sua dieta alimentar.