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MPF dá 90 dias para Governo do Acre criar comissão para apurar crimes cometidos durante ditadura

MPF dá 90 dias para Governo do Acre criar comissão para apurar crimes cometidos durante ditadura

O Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao governo do Acre a criação e efetivo funcionamento da Comissão Estadual de Memória e Verdade. A iniciativa deve ser implementada no prazo de até 90 dias, conforme solicitado pelo procurador da República Lucas Costa Almeida Dias, com o objetivo de promover a apuração e o reconhecimento de violações de direitos humanos ocorridas durante o regime empresarial-militar (1964-1985) no estado.

A recomendação é resultado de um levantamento feito pelo MPF sobre a ausência de medidas concretas, por parte do estado, no enfrentamento das consequências da ditadura militar no Acre. O documento destaca que o território acreano foi cenário de perseguições políticas, prisões arbitrárias e até assassinatos, como o do ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia, Wilson Souza Pinheiro, que foi reconhecido pela Comissão Nacional da Verdade como vítima do regime.

O documento destaca que o território acreano foi cenário de perseguições políticas, prisões arbitrárias e até assassinatos/ Foto: Reprodução

Apesar de reconhecer a importância do tema, o governo estadual afirmou ao MPF que não há, no momento, iniciativa formal para instituir a comissão, alegando que a Comissão Nacional da Verdade (CNV), criada em âmbito federal, teve sua atuação encerrada e o decreto que a regulamentava foi revogado.

O procurador Lucas Dias, no entanto, rebate a justificativa ao destacar que, embora a CNV tenha finalizado seus trabalhos em 2014, suas 29 recomendações continuam válidas como diretrizes para o fortalecimento da democracia e para políticas públicas de reparação histórica. Ele cita como exemplo a criação recente de comissões semelhantes nas universidades federais do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, além da reativação da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), em 2024.

Entre os objetivos propostos para a Comissão Estadual estão o esclarecimento de graves violações de direitos humanos no estado, a identificação de estruturas e instituições envolvidas, a sugestão de políticas públicas de reparação e a promoção de ações de memória voltadas às vítimas. Também foi recomendada a realização de audiências públicas para coleta de depoimentos, com a participação de familiares, pesquisadores, representantes da sociedade civil e instituições acadêmicas.

O governo do Acre tem 30 dias para informar se acatará a recomendação e relatar as medidas tomadas. Caso não haja resposta ou manifestação contrária, o MPF poderá adotar medidas judiciais cabíveis para garantir a criação da comissão.

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