Há exatos 50 anos, em 1975, o então presidente da República, general Ernesto Geisel, nomeava o advogado e político Adauto Brito como interventor federal para comandar o município de Rio Branco, capital do Acre. A decisão ocorreu após a Assembleia Legislativa do Estado rejeitar o nome de Adauto, numa das poucas manifestações de resistência institucional da época. Mesmo assim, a Presidência impôs sua escolha com base nos poderes excepcionais concedidos pelo Ato Institucional nº 5 (AI-5).

General Ernesto Geisel/Foto: Reprodução
O AI-5, editado em 1968, foi o mais severo dos atos institucionais do regime militar, permitindo ao Executivo federal fechar o Congresso, suspender direitos políticos, cassar mandatos e nomear autoridades sem consulta popular — inclusive governadores e prefeitos de capitais. Com base nesse instrumento, Geisel ignorou a decisão da Assembleia Legislativa e nomeou Adauto Brito de forma direta, centralizando ainda mais o poder no Planalto.
Adauto Brito assumiu o comando da capital acreana em meio a polêmicas e resistências políticas. Sua gestão ficou marcada por obras de infraestrutura e reorganização da máquina pública, mas também foi alvo de críticas severas por práticas autoritárias. Denúncias da época relatam perseguições a adversários políticos, censura à imprensa local e repressão a movimentos populares, refletindo o padrão de repressão do regime.

Primeira Página da Folha de 19 de abril de 1975/Foto: Reprodução
Já Ernesto Geisel, embora posteriormente reconhecido por iniciar a chamada “abertura política” — a distensão “lenta, gradual e segura” —, continuou mantendo o aparato repressivo do regime em funcionamento. Documentos desclassificados revelam que Geisel tinha conhecimento das práticas de tortura e execuções sumárias de opositores, e que teria autorizado a continuidade dessas ações mesmo no início da transição política.
A nomeação de Adauto Brito, apesar da rejeição do Legislativo estadual, evidencia o poder quase absoluto do governo federal durante a vigência do AI-5. No contexto do Acre, que havia sido elevado à categoria de estado da federação pouco mais de uma década antes, o episódio foi um símbolo do autoritarismo e da submissão das esferas locais ao controle do regime militar.
			        
			        
								