Ednaldo Vieira, o dono do lugar, relembrou diversos momento do espaço e se sente orgulhoso do caminho trilhado
O fechamento de um espaço de cultura sempre é triste, ainda mais quando é reconhecido como espaço de inovação em seu meio. A Confraria Gastrobar encerrou recentemente suas atividades, depois de uma década de serviços, mas o seu legado na cultura e boemia acreana ficará marcado na memória daqueles que tiveram a oportunidade de visitar o local.

A Confraria da adeus as noites acreanas/Foto: Vitor Paiva/ContilNet
Como maneira de homenagear a história do local, o ContilNet foi procurar o homem por trás da Confraria, Ednaldo Vieira, para contar histórias dos anos de operação e revelar um pouco de como será o seu futuro. Além dele, artistas que passaram pelo lugar também dividiram suas experiências na casa conosco.
Ednaldo conta que a ideia inicial não era de construir um bar, mas sim um hostel, para turistas que passam pelo Acre rumo ao Peru, e também para receber estrangeiros que estariam vindo de países para o Brasil, mas que devido a mudanças nas regras da prefeitura à época, decidiu transformar o projeto em um espaço de cultura.
“O propósito não vingou tendo em vista a redução da prefeitura de liberar a construção de três andares no canal da maternidade. Então o Gastrobar foi a fórmula pensada para compensar a ideia inicial, focando em clientes específicos, que gostassem de rock, MPB, gastronomia diversificada e ambiente aconchegante”, revelou.
Ao longo do tempo, além do ambiente intimista e os shows especiais focados em MPB e Rock, a Confraria ficou marcada por ser um local que abria espaço para novos artistas e comediantes.

Ednaldo sempre foi reconhecido como ótimo anfitrião para os artistas que foram se apresentar na Confraria/Foto: Reprodução
“Queríamos agregar na cena cultural da região, fomentando a cultura e o surgimento de novos talentos locais. Ainda trouxemos, ao longo do tempo, bandas e artistas nacionais com o objetivo de também contribuir nessa construção”, disse Ednaldo.
Dito Bruzugu foi o primeiro artista a se apresentar ao vivo na Confraria e diz que ela sempre foi um espaço para o surgimento de novos artistas no estado.
“A primeira vez que teve música ao vivo na Confraria fui eu. Então era um espaço muito legal, assim, também para os artistas. Ednaldo sempre foi um cara de portas abertas pra quem quisesse realizar um projeto, um show, quem tivesse realmente uma coisa sólida, uma coisa bem feita. Não importa se você já tá anos na estrada ou se você tá começando, se ele sentisse na conversa que a coisa era profissional, era levada a sério, ele realmente abria as portas”, destacou Dito.
Uma das artistas que tocou no espaço é Débora Muniz e diz que o local fará muita falta para o cenário musical de Rio Branco, destacando que é importante ter um espaço que esteja de braços abertos para aqueles que estão começando a carreira.

Débora Muniz disse que a Confraria foi importante espaço para mulheres artistas/Foto: Vitor Paiva/ContilNet
“Eu faço parte desses novos artistas, o Ednaldo sempre estava de braços abertos para acolher novos talentos. Um espaço como A Confraria, vai fazer uma falta inefável, tanto para nós artistas, quanto para o público que é carente da qualidade que o lugar oferecia”, disse Muniz.
Dito fala ainda sobre a diversidade cultural do local, que tinha sim um estilo marcado, mas que podia transitar muito bem entre diversos gêneros, sem perder as características que faziam a Confraria ser a Confraria.
“Tínhamos principalmente o rock, mas também tinha roda de samba, tinha de tudo lá, era muito legal, tudo sempre de muito bom gosto, com uma curadoria muito boa do próprio Ednaldo. Ele gostava muito da coisa do show, da coisa de ser uma atração que realmente, né, acrescentasse, assim, culturalmente pras pessoas. Era uma casa que se importava com o show que vai ser oferecido pro seu público”, destacou o músico.
Muniz reforçou ainda que, para além de eventos temáticos, focados em artistas em específico ou noites com outros gêneros, como o sertanejo rais ou samba, as noites voltadas para artistas mulheres foram um marco na cultura local e que potencializava as vozes femininas do estado.
“Para Nós, mulheres, sempre foi/é um grande desafio estar nos holofotes da vida, então, por saber que A Confraria é um lugar que estava sempre apoiando essa causa, esse movimento, nos sentíamos em casa. Sempre muito respeitadas e acolhidas por todos na casa, desde o segurança até o dono do local. E isso faz com que todas as mulheres tenham mais esperança na arte, na vida, na humanidade em geral, se sentindo parte de um todo, é algo indescritível a gratidão que sinto por ter tido experiências naquele lugar”, complementou ela.
Mas nem só de música vive a Confraria. Geovany Calegario, conhecido nas redes sociais como Mlk Sorriso, que é comediante de Stand Up, já realizou apresentações no local e falou sobre a importância do suporte dado pelo dono aos artistas locais.

O humorista afirma que a Confraria vai fazer falta no cenário local/Foto: Reprodução
“Ele ajudou muito! O nosso grupo estava sem um local adequado pra apresentar, quando o Ednaldo abriu as portas pra gente, e misturou tanto o nosso público fixo com o público da Confraria, deixando o movimento da comédia mais forte”, disse o Mlk Sorriso.
Dito Bruzugu relembra ainda diversos momentos importantes vividos no local, com certo tom de saudosismo enquanto passeia pelas boas lembranças do que viveu junto à Confraria.
“Houve vários momentos legais lá. O show dos discordantes (banda da qual Dito fez parte) pra arrecadar dinheiro pro segundo disco foi lá, isso é uma memória legal. Tivemos várias noites legais que a gente curtiu muito lá, vários shows históricos muito bacanas, vários especiais muito legais. Acho que muita gente tem boas memórias, muita gente passou por ali e tem memórias maravilhosas daquele lugar”, relembra ele.
“Pro estilo de show que a gente fazia lá, pro público que tinha na Confraria, por enquanto a gente vai ficar off, realmente vamos ficar sem”, finaliza Dito, comentando que, atualmente, não existe uma casa intimista, que comporte shows com a mesma atmosfera que ocorriam no local.
O comediante de Stand Up também comenta sobre a falta que um local como a Confraria fará, devido a sua pluralidade de públicos e estilos diferentes, além de momento que iam além das apresentações musicais.
“Foram mais de 15 apresentações realizadas e com uma receptividade do público sendo bem bacana. Além disso, era um dos poucos espaços da cidade que dava espaço para música autoral e para o público alternativo de todas as idades, então de fato, vai fazer falta”, completou ele.
Ednaldo comenta que o encerramento das atividades vai deixar saudades na equipe, e disse que foi uma década de atendimentos muito felizes e que se sente bem com a contribuição cultural que pode deixar para o estado.
“Nós da Confraria somos imensamente gratos aos nossos clientes que angariamos, felizes por lhes proporcionar momentos ímpares. Causar uma sensação de felicidade em todos sempre foi nosso objetivo. E temos certeza de que contribuímos significativamente para que essa cena cultural fosse valorizada”, disse ele.

Dito Bruzugu foi o primeiro artista a realizar uma apresentação ao vivo na Confraria/Foto:Reprodução
Sobre uma possível volta no futuro, a resposta fica com um ar de mistério, deixando a entender que um revival pode acontecer em um futuro.
“Na vida nada é definitivo. De repente podemos presentear nossos milhares de clientes com algumas surpresas vindouras”.
O empresário encerra deixando uma mensagem de despedida, mas afirmando que explorar territórios desconhecidos pode ser necessário na vida.
“Claro que, após uma década de existência, fica a pontinha de saudade dos grandes momentos vividos mas a vida é cíclica e navegar por outros mares é preciso”, encerra Ednaldo, dando seu adeus (ou até logo), ao mundo cultural acreano.
