Se uma Mailza já é forte, imagine várias, feitas “formiguinhas”…

Com 40 anos de jornalismo político, Tião Maia analisa a articulação do Progressistas em torno do nome de Mailza para 2026

Estive, com muitas outras pessoas que se interessam por assuntos da política, como também muitos jornalistas, no encontro com a vice-governadora Mailza Assis, na sede do Progressistas, na sexta-feira (11). A despeito de ter sido uma agenda convocada pelo coletivo de mulheres da sigla para ocorrer em março, relativo ao mês da mulher, acabou ocorrendo só em abril face à atribulada agenda de Mailza como mãe de família, com três filhos, e que é também a substituta imediata do governador Gladson Cameli e sua aliada in pectori desde os tempos de Senado da República, quando foi sua primeira suplente, razão pela qual, a partir de 2018, assumiu sua vaga na Casa do parlamento brasileiro por quatro anos.

Com tamanha agenda, ela ainda é secretária de Estado de Ação Social e, ao que tudo indica, a partir daquela agenda de sexta-feira na sede do PP, assumiu, de fato, o protagonismo de ser candidata ao Governo do Estado em 2026, esteja ou não no pleno exercício da governança estadual.

Mailza Assis no encontro do Progressistas, onde assumiu protagonismo como pré-candidata ao Governo do Acre em 2026/Foto: ContilNet

A despeito de ser uma agenda convocada por um coletivo de mulheres, lá também estava repleto de homens, num claro sinal de que, no Acre, o primeiro Estado da história do país a ter uma mulher no Governo (minha querida Iolanda Fleming), o machismo, pelo menos na política, já é – ainda bem! – coisa do passado.

Quando digo se ela estiver no exercício pleno ou não do Governo, o faço porque o governador Gladson Cameli, a quem conheço desde a juventude, quando costumava ser um exímio falador, dando palpites sobre o que bem entendia e que não escondia de ninguém que sonhava governar o Acre, na vida pública, a partir de seu primeiro mandato de deputado federal, conquistado em 2002, tornou-se uma espécie de esfinge da qual nem seus mais próximos assessores conseguem arrancar o que ele de fato pensa sobre estratégias políticas ou sobre o que vai fazer.

Gladson Cameli demonstrou apoio público à vice-governadora, fortalecendo o nome dela na sucessão estadual/Foto: Reprodução

Experientes homens da política no Acre, incluindo jornalistas com décadas de estrada, sempre registram que Gladson Cameli é um fenômeno eleitoral – que nunca perdeu uma eleição das que disputou, registre-se – exatamente por ninguém, e aí incluo as pessoas mais próximas, conseguir arrancar dele o que está realmente pensando ou que vai fazer sobre determinada coisa, inclusive as mais polêmicas.

Uma vez escrevi que, em momentos assim, Gladson se faz de besta, mas besta mesmo é quem pensa que o filho do Eládio e da dona Linda – mas sobretudo o neto do Rezene Lima, vereador de diversos mandatos em Cruzeiro do Sul e um hábil deputado estadual – é de fato besta. Resumo: besta é quem pensa que o governador é besta – do contrário, não teria tantas vitórias seguidas, e vitórias significativas sobre os chamados medalhões da política local.

Mas, em relação à Mailza Assis, a esfinge falou. E falou bem diferente do mito grego do “Decifra-me ou te devoro”, a expressão mítica que alerta para a falta de autoconhecimento humano. A frase seria o enigma proposto pela esfinge de Tebas no antigo mito grego, onde o viajante precisava resolver o enigma para evitar a morte ou recomeçar sua vida.

Movimento das “formiguinhas” ganha força e promete mobilizar o eleitorado feminino em torno de Mailza/Foto cedida

Com Gladson, no caso de Mailza Assis, a esfinge falou, e falou claro: ela é candidata natural à sua sucessão e com seu total apoio. No caso, a esfinge fica por conta do que deve sair, já na próxima semana, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em relação à Operação Ptolomeu na qual o governador é acusado. Qualquer decisão de lá vai influenciar, claro, na política local. Mas, para Mailza, o céu continuará sendo como o de brigadeiro – até porque, permanecendo ou não no Governo, Gladson Cameli já disse que ela é sua candidata e, pelo que o governador tem de gordura na aceitação popular, ainda que ele seja afastado, do que ainda duvido, continuará um cabo eleitoral muito forte de quem tiver a sorte de ele apontar o dedo na direção de suas candidaturas. É isso que confirma a figura do Gladson Cameli como fenômeno eleitoral.

Mas outro fenômeno na política local atende pelo o que a então vereadora Nabiha Bestene batizou de “As Formiguinhas”, um grupo de mulheres que, em 1988, saía do centro às periferias clamando pela eleição de Jorge Kalume – isso, na época em que o MDB estava no auge do poder, na presidência da República, no Governo do Estado e na Prefeitura. O então candidato do MDB, Ariosto Pires Migueis, um bom deputado estadual, aparecia bem na frente em todas as pesquisas que faziam, já era apontado como futuro prefeito. Abertas as urnas, deu Kalume – e, justiça seja feita, muito com a ajuda das chamadas formiguinhas.

E agora elas estão de volta. E já começaram a se movimentar, de acordo com aquela concentração de sexta-feira na sede do Progressistas. E, com certeza, o trabalho delas, agora, será bem mais fácil do que foi feito em relação a Jorge Kalume, já na época um idoso, cuja memória como aliado à ditadura militar era ainda muito forte, de perfil bem diferente do que se encontra agora em Mailza Assis.
Uma senhora de fala mansa, leve mas firme, de ideias claras, de passado irretocável, que consegue, a um só tempo, juntar a simplicidade de uma dona de casa com as atividades e ações de uma estadista. Para as “formiguinhas” do Progressistas e para quem se dispuser a fazê-lo, será fácil levar às ruas e vender bem, em troca de voto, o nome de Mailza Assis.

O Acre fez história ao eleger a primeira mulher governadora do país. Agora, Mailza pode repetir o feito/Foto cedida

E assim ela calará a todos quantos ousam dizer que ela seria uma candidata fraca por nunca ter tido um voto, por ter assumido o Senado como suplente e chegar – se chegar – ao exercício pleno do Governo como vice-governadora.

Talvez resida exatamente nisso aí a fortaleza e o diferencial de Mailza Assis: ela chegou ao centro do poder sem dever nada a ninguém e por isso estaria livre das amarras que muitas vezes caracterizam as lideranças tradicionais da política.

Tião Maia e a vice-governadora Mailza Assis durante o encontro na sede do Progressistas/Foto: ContilNet

Quem gosta de política, por certo gostou, e gostou muito, do que foi exibido naquela sexta-feira na sede do Progressistas…

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