A intervenção precoce, realizada nos primeiros anos de vida, tem efeitos significativos para o desenvolvimento das crianças
O mês de abril é voltado para a campanha Abril Azul, uma iniciativa criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para promover a conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Para falar sobre o tema, o ContilNet conversou com a psicóloga Mirla Dias, especialista em Intervenção Precoce no Autismo, baseada no Modelo Denver e pioneira do Projeto ImPACT no Brasil, modelo que treina pais para aplicarem estratégias de desenvolvimento com os filhos em casa.
Segundo a profissional, a psicoterapia tem papel essencial no processo terapêutico de crianças com autismo, estimulando o aprendizado de novas habilidades voltadas para diversas áreas, como interação social, cognição, regulação emocional e comportamento adaptativo, promovendo mais autonomia, independência e qualidade de vida para essas pessoas.
A importância do acompanhamento adequado
A especialista alerta para os riscos quando não há suporte terapêutico desde cedo. “Crianças autistas podem apresentar atrasos no desenvolvimento, como na comunicação verbal e gestual, nas habilidades de brincar e de imitação. A imitação, por exemplo, é uma importante via de aprendizado, já que parte do nosso conhecimento vem da observação e repetição do que vemos”, diz.
Os atrasos, caso não sejam acompanhados e trabalhados, tendem a se acumular, explica.
“Se uma criança tem dificuldades para se comunicar e não recebe suporte, ela enfrenta desafios maiores para ser compreendida no dia a dia — o que pode gerar frustração, crises e impacto no comportamento”, afirma a psicóloga.
O tipo de acompanhamento necessário varia de acordo com o perfil de cada criança. Entre as terapias mais recomendadas estão a psicoterapia baseada em abordagens com evidência científica, a exemplo, o treinamento parental, a terapia fonoaudiológica, terapia ocupacional, fisioterapia, musicoterapia, terapia alimentar com nutricionista e o acompanhamento psicopedagógico.
No caso do Projeto ImPACT, por exemplo, a intervenção é centrada nos pais. “A ideia é que os responsáveis aprendam estratégias práticas e eficazes para aplicar com a criança em casa, nos momentos de brincar ou nas rotinas diárias — como banho, alimentação e hora de escovar os dentes”, explica a profissional.
Intervenção precoce
A intervenção precoce, realizada nos primeiros anos de vida, tem efeitos significativos para o desenvolvimento das crianças. “É quando o cérebro está mais apto a aprender, com grande potencial de formar novas conexões. Aproveitar esse momento é fundamental. O que se aprende nessa fase tem impacto para a vida inteira”, pontua Mirla.
Apesar da importância do diagnóstico e das terapias precoces, a especialista fez questão de ressaltar que o Brasil ainda está longe de garantir esse direito de forma ampla e eficaz.
“Infelizmente, essa ainda é uma triste realidade no nosso país. Muitas famílias não têm acesso ao diagnóstico precoce, aos atendimentos especializados nem ao apoio necessário na escola ou em casa”, lamenta a psicóloga.
Ela destaca experiências positivas utilizadas em outros países. “Em Portugal e na Espanha, o serviço de intervenção precoce é centrado na família. Os pais são apoiados e capacitados para ajudar seus filhos, inclusive nas atividades do dia a dia. Isso precisa ser realidade por aqui também”, defende.
Evolução acompanhada de perto
A evolução das crianças em acompanhamento é medida por avaliações trimestrais. Após casa avaliação, são traçadas metas e ajustados os objetivos para que sejam alcançados novos resultados. Para a psicóloga, o progresso das crianças é muito visível.
“Quando a intervenção é feita com qualidade e começa cedo, os ganhos são enormes. A criança desenvolve mais habilidades, fica mais preparada para interações sociais e ganha autonomia. E a família também cresce junto nesse processo”, conclui.