Pela primeira vez na história, um fígado de porco geneticamente modificado foi transplantado para um paciente humano. O procedimento foi conduzido por pesquisadores da Quarta Universidade Médica Militar da China e representa um avanço significativo na busca por alternativas ao transplante hepático tradicional.
O transplante, realizado em um paciente com morte cerebral, ocorreu em 7 de março de 2024 e os resultados do experimento foram divulgados nesta quarta-feira (26/3) na revista Nature. Durante os 10 dias de observação, o órgão funcionou normalmente sem apresentar sinais de rejeição pelo organismo do receptor.
Pela primeira vez na história, um fígado de porco geneticamente modificado foi transplantado para um paciente humano / Foto: Repordução
Modificações genéticas e adaptação ao corpo humano
Para reduzir os riscos de rejeição e aumentar a compatibilidade com o corpo humano, o fígado transplantado passou por seis edições genéticas. Genes responsáveis por reações imunológicas adversas foram removidos, enquanto genes humanos foram incorporados ao organismo do porco doador, permitindo melhor aceitação pelo sistema imunológico do paciente.
O transplante foi do tipo auxiliar, ou seja, o fígado original do paciente não foi retirado. O órgão do porco foi implantado em outra parte do abdome e monitorado de perto. Durante o estudo, a função hepática se manteve ativa, com produção de bile e albumina, indicando um funcionamento adequado do enxerto.
Xenotransplante: uma alternativa promissora
A escassez de órgãos para transplante é um dos principais desafios enfrentados pela medicina. O xenotransplante — técnica que utiliza órgãos de animais geneticamente modificados — tem sido estudado como uma solução viável. Até o momento, os testes mais avançados foram realizados com rins, já com resultados positivos em pacientes vivos.
No caso do fígado, os desafios são maiores devido à complexidade do órgão. As funções hepáticas envolvem a produção de diversas substâncias que podem desencadear uma intensa resposta imunológica, dificultando a aceitação pelo organismo humano. No entanto, os pesquisadores chineses destacam que a experiência demonstrou avanços na redução da rejeição.
Próximos passos e desafios a serem superados
Apesar dos resultados encorajadores, ainda há muitas questões a serem respondidas. Como o paciente manteve seu fígado original funcionando, não foi possível determinar se o órgão suíno seria capaz de substituir completamente as funções hepáticas em um quadro de insuficiência total. Além disso, o estudo envolveu apenas um paciente, o que limita as conclusões sobre a eficácia do procedimento em larga escala.
A pesquisa foi encerrada a pedido da família do paciente, mas os cientistas ressaltam que o experimento abre caminho para novas investigações. A expectativa é que, no futuro, o xenotransplante possa se tornar uma alternativa real para pacientes que aguardam transplantes e não possuem outras opções de tratamento.
