Nova pesquisa diz que desmatamento aumenta a aridez no verão e causa inundações no período de chuvas

Estudo enfatiza a necessidade urgente de combater a rápida e extensa perda de floresta na Amazônia

Uma pesquisa publicada na revista Nature alerta para os impactos sociais e econômicos decorrentes das variações no volume de chuvas na região amazônica. Segundo o estudo, essas mudanças podem alterar a pressão atmosférica, ampliando as chuvas em áreas desmatadas, o que gera desequilíbrios, inundações e aumento das secas no período estival.

Pesquisa brasileira alerta para combate urgente do desmatamento/Foto: Reprodução

A aridez e as inundações são consequências do desmatamento ilegal na Amazônia, um problema persistente no Brasil e em países vizinhos. Em fevereiro deste ano, por exemplo, foram registrados 81 km² de áreas desmatadas no bioma — um número preocupante, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

O estudo publicado na Nature revela mais um impacto da perda florestal: além de agravar as secas em períodos naturalmente áridos, a remoção das árvores pode aumentar o volume de chuvas durante a estação chuvosa. “Nossas descobertas destacam o equilíbrio complexo entre efeitos locais e não locais na relação entre desmatamento e precipitação em diferentes estações e escalas. O estudo enfatiza a necessidade urgente de combater a rápida e extensa perda de floresta na Amazônia”, explicam os cientistas citados pela revista.

A pesquisa indica que o desmatamento pode provocar tanto secas mais severas quanto tempestades mais intensas, dependendo da época do ano. As razões para cada fenômeno, no entanto, são distintas. No caso das secas, a remoção da vegetação reduz a evapotranspiração (ET) — processo pelo qual as árvores liberam umidade para a atmosfera. Com menos umidade disponível, a região se torna mais seca. Além disso, durante períodos de estiagem, as árvores retêm mais água para sobreviver, agravando ainda mais a redução da umidade.

“A diminuição da precipitação regional pode gerar perdas econômicas significativas na agricultura, reduzindo a produtividade das colheitas em 0,5% para cada ponto percentual de redução na chuva”, apontam os cientistas.

Já no caso do aumento das chuvas, a explicação está na circulação atmosférica. Durante a estação chuvosa, a remoção das árvores cria áreas de baixa pressão nos espaços desmatados. Essas áreas acabam atraindo mais umidade, intensificando as tempestades.

Nesse aspecto, o estudo simulou um aumento de 0,96 mm por mês para cada ponto percentual de floresta perdida. “Se forem substanciais o suficiente para influenciar eventos extremos ou aumentar a umidade da bacia, esses incrementos podem agravar inundações em certas regiões desmatadas, afetando a agricultura e a economia local”, explicam os pesquisadores.

Para os cientistas, a variação da precipitação em áreas desmatadas exige estratégias específicas para reduzir os impactos ambientais sobre a biodiversidade, o manejo florestal e a produção agrícola. Segundo o estudo, a importância da Amazônia na regulação do clima regional e global exige esforços urgentes para proteger a floresta remanescente.

“A compreensão da relação entre desmatamento e precipitação requer um manejo florestal dedicado, que leve em consideração práticas como o reflorestamento e o planejamento da expansão agrícola em áreas de conversão florestal. Além disso, é essencial monitorar as fronteiras do desmatamento para evitar sua expansão descontrolada”, recomendam os especialistas.

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