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Review Like a Dragon Pirate Yakuza in Hawaii: pirataria, caos e bom humor

Review Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii: Pirataria, caos e muito bom humor — Foto: Reprodução/Daniel Trefilio

Like A Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii é uma expansão standalone de Like a Dragon: Infinite Wealth (2024), e dá sequência aos acontecimentos do game anterior. No entanto, para ter mais liberdade criativa, a desenvolvedora adotou uma receita manjada, mas excelente, para ignorar a maioria dos acontecimentos de Infinite Wealth – e de praticamente toda a franquia -, escolhendo como protagonista o veterano Goro Majima, mas dando ao personagem uma amnésia bastante conveniente. Ao acordar completamente desmemoriado em uma ilha do Pacífico após um naufrágio , Majima sequer se lembra ter sido um dos tenentes mais importantes do Clã Tojo e um dos responsáveis pelos dos eventos do final do game anterior.

Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii chega nesta sexta-feira (21) para PlayStation 4 (PS4), PlayStation 5 (PS5), Xbox OneXbox Series XXbox Series S e PC, via Steam, custando a partir de R$ 299,90 na versão padrão ou R$ 374,50 na versão Deluxe. Mesmo com cara de expansão, aproveitando a maioria dos assests dos títulos anteriores, o novo Like a Dragon é um game completo, incrivelmente divertido, que faz referência a dezenas de elementos da cultura pop atual, transformando tudo em motivo de piada, e você confere a review completa nas próximas linhas.

Review Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii: Pirataria, caos e muito bom humor — Foto: Reprodução/Daniel Trefilio
Review Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii: Pirataria, caos e muito bom humor — Foto: Reprodução/Daniel Trefilio

O melhor de duas décadas de Yakuza

Resgatar o carismático Goro Majima foi uma das melhoras escolhas da Ryu Ga Gotoku, e fazê-lo apagando a memória do personagem foi ainda melhor. Isso permite que Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii sirva tanto como uma sequência para fãs, como uma porta de entrada para toda uma nova geração de jogadores que ainda não conheciam a franquia, e podem, logo de cara, ter um gostinho de tudo de melhor que o estúdio produziu em 20 anos. Ainda que sem memória, a personalidade forte, senso de honra e o toque especial para resolver tudo no braço – ou na faca – permanecem, criando a receita perfeita para começar uma aventura tão doida quanto o próprio Majima.

Além do personagem presente desde os primeiros jogos da série, agora com 60 anos, mas com a mesma energia de sempre, o game também resgata o combate originai, deixando de lado alguns elementos de RPG apresentados em Yakuza: Like a Dragon, de 2020, mas mantendo o humor escrachado e até um pouco non-sense, fazendo com que ser um Yakuza pirata em pleno século XIX seja apenas um detalhe. Não é preciso ter jogado nenhum jogo anterior da série Yakuza para entender e se divertir em Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii, mas parte do fio condutor do jogo é consequência direta do final de Infinite Wealth, então alguns spoilers do game anterior são inevitáveis.

Ô Majima, iaiá, é Yakuza no Havaí!

Como forma de se redimirem dos atos de muitos de seus membros, algumas das principais famílias da Yakuza, decidem pela dissolução de seus respectivos clãs, entre elas o clã Tojo, deixando muitos membros “desempregados”. Isso fez com que vários ex-gangsters buscassem atividades para se legalizarem, e uma delas era lidar com o lixo tóxico que o clã Seiryu deveria ter descartado, mas apenas escondeu em uma pequena ilha no meio do pacífico, entre o Japão e o Havaí. No entanto, Goro Majima, que originalmente estava viajando de barco para a região justamente para inspecionar essa atividade, sofre um naufrágio no percurso e acorda completamente sem memória, sendo encontrado pelo pequeno Noah e seu filhote de tigre – que ele jura ser um gato.

Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii é bem-humorado do início ao fim, com direito até um tigre que acha que é gato — Foto: Reprodução/Daniel Trefilio

O garoto dá água a Majima, que mesmo sofrendo de amnésia ainda preserva seu senso de honra, se sentindo em dívida com Noah, e o defendendo de um bando de piratas que atormenta os moradores da região. Até então, Goro não lembra sequer de seu próprio nome, e o menino acaba levando o ex-tenente do clã Tojo para seu pai, Jack Rich, que lhe dá o que comer e oferece um teto temporário. Naturalmente os encrenqueiros da primeira briga saem procurando Majima para tirar satisfação, e depois de dar mais uma surra nos piratas, o ex-Yakuza decide que a única forma de fazer com que os ataques deixem de acontecer é derrotar o líder do bando.

Daí em diante, a história avança para uma sequência de eventos aleatórios: Majima se apropria do navio dos piratas, se tornando capitão da tripulação, promete levar Noah para conhecer o mundo fora da ilha, e ainda convence (no soco) o pai do garoto a se tornar seu imediato em uma caça a tesouros sem muito propósito aparente. A trama segue essa linha até sua conclusão, e mesmo com algumas surpresas e reviravoltas, de maneira geral ela acaba sendo um pouco rasa e até previsível.

Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii – Review – 2 — Foto: Reprodução/Daniel Trefilio

Como a própria essência do jogo é não se levar a sério, essa abordagem não chega a ser um problema, e reforça a noção de que os roteiristas tiveram liberdade para trabalhar sem restrições. Contudo, o desenvolvimento superficial de situações que desencadeiam eventos importantes podem dividir a opinião de fãs mais puristas.

Minigames para todos os gostos

Como já era de se esperar, os minigames, outra marca registrada da franquia, estão presentes e são quase sempre muito divertidos, sendo fácil passar horas jogando sinuca para conquistar tesouros, fama e até aliados especiais. Por outro lado, eles podem ser um problema para jogadores complecionistas buscando platinar o novo Like a Dragon no PlayStation, já que para obter todos os tesouros é preciso terminar todas as dificuldades de todos os minigames, até os meio bobos.

Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii – Minigame de delivery de comida é versão aprimorada do modo de coletar latinhas de Yakuza: Like a Dragon — Foto: Reprodução/Daniel Trefilio

A lista de minigames é enorme e ainda inclui jogos de dardos, campeonatos de kart com direito a modalidade arena de combate, golf, baseball e provavelmente alguns que precisei pular para conseguir avançar na história mais rapidamente. No PlayStation 5, algumas dessas atividades aproveitam recursos específicos do DualSense, como os gatilhos hápticos no minigame de entrega de comida no estilo Crazy Taxi – só que em uma bicicleta. É uma pena que isso quase não tenha sido mais utilizado no game principal.

Uma grande sátira na qual nada é sagrado

Apesar de trazer muitos aspectos dos primeiros games da série Yakuza, Like a Dragon Pirate Yakuza in Hawaii embarca com tudo na viagem meio non-sense de Yakuza: Like a Dragon (2020) e Like A Dragon Infinite Wealth (2024), funcionando como uma grande sátira escrachada não apenas de jogos do estilo de ação e RPG, mas de dezenas de aspectos da cultura pop atual. O game tira sarro desde a violência exagerada às missões paralelas desconexas, tudo com uma narrativa principal que só é séria no conceito, mas, na prática, serve de escada para ainda mais piadas.

Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii passa longe de se levar a sério, e isto é sensacional — Foto: Reprodução/Daniel Trefilio

Salvo por pouquíssimos personagens pontuais, praticamente todos que Goro encontra ao longo da sua busca por se tornar o rei dos piratas – ou quase isso -, são uma paródia degenerada de grupos sociais ultra-estereotipados, de mascotes de rua a cultos apocalípticos, em uma lista que aumenta a cada capítulo. Inclusive, boa parte dessas figuras enxerga na honra Yakuza de Goro uma inspiração, “mudando de vida” para se unir a sua tripulação de piratas do Havaí.

Falando em capítulos, pela própria temática de navegação, pirataria, inclusive com combates navais extremamente divertidos, o novo game leva a sério a arte de não se levar a sério. Os próprios nomes dos capítulos são tirados de obras literárias famosas, como “O Velho e o Mar”, “A Ilha do Tesouro”, e “O Coração das Trevas”, mostrando que a equipe criativa do estúdio estava empenhada, praticamente utilizando os assets técnicos do game anterior como uma grande caixa de blocos de montar.

Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii – Capitulos trazem títulos de obras literárias com temática marítima — Foto: Reprodução/Daniel Trefilio

Mecânicas excelentes na terra ou no mar

Como de costume na série, quase tudo se resolve com diplomacia envolvendo socos, chutes, facadas, tiros e assim por diante. Por se tratar de um game da nova era da franquia, imaginei que Pirate Yakuza in Hawaii teria o combate em estilo JRPG implementado em Yakuza: Like a Dragon (2020), e foi uma feliz surpresa ver o retorno do sistema de luta original, com combos e as super violentas “heat actions”, ataques especiais que causam danos devastadores em chefes e derrotam “de primeira” inimigos mais fracos. Tanto que os exageros em algumas construções de personagens, que em outros games quebrariam a imersão, se tornam elementos essenciais para preservar o contexto divertidamente caótico do novo Like a Dragon.

Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii – Caçar tesouros é parte essencial do novo Yakuza — Foto: Reprodução/Daniel Trefilio

Em meio a um mar de referências, inspirações e homenagens, o ponto mais alto de Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii é, sem dúvidas, o combate marítimo. A bordo do navio Goromaru, o jogo combina as caçadas ao tesouro de Sea of Thieves, mas com combates navais e abordagem de navios inimigos como os da série Assassin’s Creed. Na terra, Majima caça criminosos procurados para coletar recompensas e ampliar sua fama, melhorando sua reputação como um pirata moderno, enquanto recruta mais membros para sua tripulação. Inclusive, uma tripulante específica abre uma longa série de missões secundárias para desbloquear habilidades especiais que facilitam bastante algumas lutas do fim do jogo.

As lutas em si são igualmente excelentes, retomando o estilo “Cachorro Louco”, e adicionando a nova variedade de “Bucaneiro” com dois sabres e uma pistola antiga. Diferente dos dois games anteriores, o protagonista não tem uma equipe no modo exploração, por isso o retorno do combate tradicional faz mais sentido. Por outro lado, praticamente tudo do game gira em torno das missões de pirataria, e durante essas missões principais é possível ter até quatro membros da sua tripulação em algumas lutas cumprindo papéis diferentes, como suporte, tanque ou ataque a distância. Já em brigas maiores, como ao atacar navios ou bases de piratas rivais, é possível ter até quatro equipes adicionais completas, criando grandes batalhas campais.

Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii traz até uma arena entre todos os piratas da região — Foto: Reprodução/Daniel Trefilio

Um destaque especial é o coliseu de Madlantis, liberado logo nos primeiros capítulos, que permite desafiar outros piratas da região em duelos que vão desde apenas combate naval, até batalhas invadindo os barcos adversários e enfrentando sua tripulação inteira. Neste modo também é possível enfrentar novamente algumas missões específicas contra chefes do jogo.

Trilha sonora, arte e localização

Passando um pouco para quesitos técnicos, a trilha sonora da série nunca foi um grande destaque, exceto por alguns clássicos de karaokê, como Baka Mitai em Yakuza 5, e Pirate Yakuza in Hawaii não foge muito disso. A diferença é que nem as trilhas de karaoke são exatamente marcantes no novo game, ficando bem longes de serem memoráveis. A localização do game também segue o padrão de sempre, com dublagem em japonês, inglês e chinês, apenas com as legendas e menu trazendo a opção em português brasileiro.

Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii tem combate naval muito divertido — Foto: Reprodução/Daniel Trefilio

Visualmente falando, o jogo é muito bem trabalhado, mas também não surpreende em termos de direção de arte, já que ele utiliza boa parte dos assests gráficos de Infinite Wealth. Por outro lado, é bastante satisfatório ver como a equipe do Ryu Ga Gotoku Studio incorporou um simulador de batalhas marítimas com tanta qualidade utilizando praticamente os mesmos recursos do game anterior.

Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii vale a pena?

Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii é um ótimo jogo, muito divertido e com diversos momentos que fazem o jogador rasgar boas risadas, mergulhando fundo no ar caótico que a franquia já teve em momentos anteriores, mas que foi adotado como fio condutor a partir de Yakuza: Like a Dragon (2020). Pirate Yakuza in Hawaii foi pensado como uma expansão independente, nos mesmos moldes que Marvel’s Spider-Man: Miles Morales (2020) foi para Marvel’s Spider-Man (2018), utilizando o final de Infinite Wealth para se afastar da trama central da série.

Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii investe tanto no senso de humor que se afasta bastante da narrativa central da franquia — Foto: Reprodução/Daniel Trefilio

A diferença é que enquanto o jogo da Marvel acrescenta elementos que serviram de ponte para sua sequência, o novo Like a Dragon até estabelece alguns ganchos para um eventual jogo principal da franquia, mas essencialmente se coloca como um spin-off. Analisando isoladamente, Like a Dragon: Pirate Yakuza in Hawaii vale muito a pena e tem potencial para proporcionar muitas horas de diversão, mas quem estava esperando uma continuação direta e gloriosa do arco de redenção de Majima pode acabar bastante frustrado, principalmente considerando que os eventos mudam definitivamente a percepção do personagem.

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