Javier Milei tentou imitar Donald Trump, mas não correu bem. Esta sexta-feira, os utilizadores da rede social X foram surpreendidos com uma mensagem do presidente argentino, que publicitava uma criptomoeda denominada $Libra.
Javier Milei é acusado de fraude financeira depois de promover criptomoeda que desvalorizou em minutos. Foto: Agustin Marcarian/Reuters
“A Argentina Liberal cresce. Este projeto privado será dedicado a estimular o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empreendimentos argentinos”, escreveu às 19:01 horas locais, acrescentando um link que remetia para o website do projeto.
O resultado foi praticamente imediato. Em poucos minutos, a $Libra valorizou em milhões de dólares. Segundo o jornal “El País”, o preço da criptomoeda passou dos 0,3 cêntimos de dólar para os 4,7 dólares minutos depois da mensagem de Milei. Contudo, a velocidade com que o criptoativo valorizou foi a mesma com que caiu. Pouco tempo depois, o presidente argentino apagou o post.
A $Libra é mais uma memecoin – uma criptomoeda ou um ativo virtual que têm origem em momentos ou imagens cómicas ou em tendências na internet, que ficaram muito populares na altura da pandemia. Em janeiro, Donald Trump, o presidente dos Estados Unidos, lançou a $TRUMP que passou a valer mais de 15 mil milhões de dólares em cerca de três dias. Estes criptoativos são conhecidos por valorizarem muito rapidamente, mas também pelo seu contrário.
Por detrás da criação da $LIbra está a KIP Network, uma empresa focada no desenvolvimento de soluções tecnológicas para sistemas financeiros digitais, como é o caso das criptomoedas. Segundo o jornal argentino “La Nacion”, Milei já se tinha encontrado com o fundador e presidente-executivo da empresa em outubro do ano passado, no Fórum Tecnológico da Argentina.
AS REAÇÕES E A TENTATIVA DE ESCLARECIMENTO
As reações à mensagem de Milei no X não tardaram. De acordo com o relatado pelo “El País” houve quem achasse que a conta do presidente argentino estava a ser alvo de um ataque informático, outros acreditavam que se tratava de uma estratégia para angariar investimento estrangeiro e “salvar a Argentina”.
Já a oposição acusou o político de ser um vigarista. O deputado socialista Esteban Paulón escreveu nas redes sociais que na segunda-feira iria apresentar um pedido de destituição do presidente, acrescentando que “o que aconteceu é muito sério”.
Também a ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner manifestou-se sobre o sucedido. “A partir da vossa conta oficial X, promoveram uma criptomoeda privada, criada sabe-se lá por quem. Inflacionou o seu valor tirando partido da sua investidura presidencial. Milhares de pessoas confiaram em si, compraram alto e, numa questão de horas, perderam milhões, enquanto alguns (aposto que eram todos libertários) fizeram fortunas com informações privilegiadas”, escreveu.
Depois de várias críticas, comentários e suposições, Milei decidiu revelar o seu lado da história. “Há algumas horas, publiquei um tweet, como já fiz inúmeras vezes, a apoiar um projeto supostamente privado com o qual, obviamente não tenho qualquer ligação. Não conhecia os pormenores do projeto e, depois de o ter lido, decidi não continuar a divulgá-lo (foi por isso que apaguei o tweet), esclareceu.
“Aos ratos imundos da casta política que querem aproveitar-se desta situação para fazer mal, gostaria de dizer que todos os dias confirmam a baixeza dos políticos e aumentam a nossa convicção de os expulsar a pontapé”, acrescentou.
Do lado da KIP Network, também houve pronunciamento. “Hoje foi o lançamento do projeto Viva La Libertad. O presidente Milei não esteve e não está envolvido no desenvolvimento deste projeto, como ele próprio referiu. Trata-se de uma empresa totalmente privada”.
Não é a primeira vez que o presidente argentino é associado a escândalos com criptomoedas. Em 2021, na altura ainda deputado, Milei promoveu a plataforma de investimento CoinX. A empresa prometia retornos financeiros significativos por meio de investimentos em criptomoedas e operações de trading assistidas. Mais tarde, a CoinX foi denunciada por alegada fraude e quatro dos seus diretores acabaram presos.