Com índice de chuva de deserto, Rio deve fechar fevereiro como mês mais seco já registrado

Dados da empresa de meteorologia e oceanografia AtmosMarine mostram que alguns bairros não receberam uma só gota de chuva durante todo o mês

Fevereiro terminará como o mês mais seco já registrado no município do Rio de Janeiro. A média de chuva não passou de 0,6 mm, segundo o Alerta Rio. A precipitação média de fevereiro é de 123,3 mm, isto é, 205 vezes mais do que o registrado este mês. O Brasil tem sofrido com ondas de calor e domos quentes, que bloqueiam a chuva. Mas o Rio parece sob o efeito de um domo carioca. Até aconteceram chuvas isoladas nos demais municípios da Região Metropolitana, enquanto a capital não recebeu quase nenhuma gota para chamar de sua.

Grama do Aterro do Flamengo amarelada por falta de chuvas — Foto: Alexandre Cassiano/ Agência O Globo

A falta de chuvas pode deixar o mar com águas de Caribe, mas aumenta a sensação de calor, pois são os temporais de verão que ajudam a aliviar a temperatura.

— É a primeira vez que registramos um mês com menos de 1 mm de chuva no município. Este fevereiro foi o mês mais seco de nossa série histórica, iniciada em 1997 — afirma a meteorologista-chefe do Alerta Rio, Raquel Franco.

Dados da empresa de meteorologia e oceanografia AtmosMarine mostram que alguns bairros não receberam uma só gota de chuva durante todo o mês de fevereiro. É o caso até mesmo do Jardim Botânico, um bairro conhecido pelos altos índices pluviométricos. Também estão na lista da chuva zero: Copacabana, Tijuca, Grajaú, Barra da Tijuca, Vidigal, Rocinha e Sepetiba.

Os “maiores” índices registrados pela AtmosMarine foram a Grota Funda, com míseros 3 mm, e Bangu, que recebeu 2,2 mm.

Até este ano, os menores índices de chuva do município, segundo o Alerta Rio, tinham sido em abril e maio do ano passado e no verão de 2014/15, quando ocorreu a grande crise hídrica do Sudeste.

A marca histórica de fevereiro chama mais atenção ainda porque fevereiro faz parte da estação chuvosa. Os meses mais secos costumam ser os de inverno, quando a baixa precipitação não incomoda tanto porque a temperatura é normalmente mais baixa.

O Rio pode estar com mar de Caribe, mas o índice de chuva é de deserto. No Saara, por exemplo, choveu neste fevereiro 22 mm. E no Atacama, o deserto mais seco do mundo, 2 mm.

Além do calor, a falta d’água tem castigado a vegetação. O chão da Floresta da Tijuca está seco e os gramados dos parques da cidade, esturricados. Só não tem faltado água para abastecimento porque esta vem de fora do município, do Sistema Guandu.

Com 0,6 mm por metro quadrado — a medida usada para a precipitação —, consegue-se no máximo regar um vasinho de planta ou tirar um pouco da poeira da calçada em frente de casa.

De forma geral, tem chovido bem menos no estado do Rio de Janeiro do que no vizinho São Paulo. O motivo é o já conhecido bloqueio causado por um anticiclone que estagnou sobre o Brasil e não deixa as frentes frias chegarem ao Rio.

Mas isso sozinho não explica o domo carioca. Na verdade, já há algum tempo pesquisadores do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) observam que nuvens de chuva parecem se desintegrar sobre a cidade sem despejar uma gota. Uma explicação seria a combinação de ilha de calor urbana e a geografia complexa do Rio. Mas isso ainda precisa ser investigado.

A situação do município do Rio é peculiar porque nem as chuvas isoladas _ aquelas de fim de dias quentes, não associadas a frentes frias _ têm caído na cidade. Chove em todo o entorno, mas na Cidade Maravilhosa nem uma gota. São Gonçalo e municípios da Baixada Fluminense, por exemplo, registraram chuvas de isoladas nos últimos dias.

— As nuvens até se formam, mas não chegam a chover — diz Franco.

Nenhum meteorologista se arrisca a prever quando a chuva virá para o Rio. O Carnaval será na seca. Franco diz a primeira quinzena de março tem previsão de chuva abaixo da média. Ou seja, ainda sem as águas de março. Pode ser que temporais isolados deem o ar da graça, mas chuvas mais consistentes mesmo, só quando alguma frente fria maior conseguir romper o bloqueio, que tem se mostrado extremamente poderoso e persistente.

E 2025, um ano sem El Niño ou La Niña para levar a culpa do clima em desequilíbrio, tem superado todas as piores expectativas no Brasil e no mundo. O ano mal começou e janeiro já foi o janeiro mais quente da História. Fevereiro, segundo projeções do serviço europeu do clima Copernicus, poderá figurar também entre os mais tórridos.