Queimadas na Amazônia aceleram derretimento das geleiras na Antártida

Estudo revela que a fuligem das queimadas na Amazônia contribui para o degelo na Península Antártica, um efeito global com consequências ambientais graves.

Um estudo recente publicado na Science Advances aponta que a fuligem gerada pelas queimadas na Amazônia está diretamente ligada ao derretimento das geleiras na Península Antártica, localizada a milhares de quilômetros de distância. A pesquisa indica que, embora o aquecimento global seja a principal causa do degelo, partículas de fuligem provenientes das queimadas estão acelerando esse processo no continente gelado.

Desde os anos 1970, as queimadas na Amazônia e em outras partes da América do Sul têm liberado até 800 mil toneladas de fuligem por ano na atmosfera. Esses resíduos, impulsionados por ventos fortes, podem percorrer mais de 6 mil quilômetros e chegar à Antártida em menos de duas semanas. As partículas de fuligem, invisíveis a olho nu e cerca de 100 vezes mais finas do que um fio de cabelo, depositam-se sobre o gelo, aquecendo-o e acelerando o derretimento.

Pinguins na Península Antártica, onde o derretimento das geleiras é acelerado por partículas de fuligem provenientes das queimadas na Amazônia/Foto: Reprodução/Getty Images

Segundo Márcio Cataldo, coautor do estudo da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a fuligem absorve calor de forma intensiva devido à sua cor escura, o que provoca o aquecimento do gelo, formando pequenas poças de água. Esse processo parece insignificante a princípio, mas é extremamente significativo considerando a vastidão da região.

Além das queimadas, a pesquisa revelou que o aumento do turismo na Antártida também contribui para a intensificação desse problema. Navios, aviões e geradores a diesel utilizados na região liberam grandes quantidades de fuligem, elevando os níveis dessas partículas, que têm o mesmo efeito de aquecimento nas geleiras. Com o crescimento do turismo polar, que já atingiu 123 mil visitantes na temporada 2023-24, a preocupação com os impactos ambientais se intensifica.

Uma geleira se desprendendo da plataforma de gelo Larsen C, na Antártida, impactada pelo aumento das emissões de fuligem e aquecimento global/Foto: Reprodução/Getty Images

Uma geleira se desprendendo da plataforma de gelo Larsen C, na Antártida, impactada pelo aumento das emissões de fuligem e aquecimento global/Foto: Reprodução/Getty Images

A Antártida, que concentra 90% do gelo global, está experimentando as temperaturas mais altas em 2 mil anos. A perda de gelo nas plataformas antárticas contribui para o aumento do nível do mar, um fenômeno com repercussões globais. Se geleiras como a Thwaites, conhecida como “a geleira do fim do mundo”, continuarem a se desintegrar, o nível do mar poderá subir entre 90 cm e 3 metros, o que afetaria milhões de pessoas em áreas costeiras vulneráveis.

Essa pesquisa destaca a complexidade do impacto humano no meio ambiente e a interconexão entre eventos em diferentes partes do mundo, com consequências que podem ser rápidas e irreversíveis para o clima global.

FonteBBC News Brasil, Marcelo Lima Loreto, De Nova York (EUA), há 5 horas.