Apesar de a maior parte das capitais brasileiras subsidiar o sistema de ônibus para evitar aumentos superlativos na tarifa, ao menos sete delas começam o ano com reajustes no valor da passagem. Entre as 26, Florianópolis é a que tem a tarifa mais cara e uma das que apresentaram maior aumento neste começo de ano — R$ 0,90. O segundo e o terceiro lugares ficam com Porto Velho e Curitiba, municípios que não tiveram reajuste ainda e seguem com valor na faixa dos R$ 6. Rio Branco, por sua vez, conta com a passagem mais barata: R$ 3,50. (Confira ranking de preços no infográfico abaixo)
As cidades com valores já ajustados no início deste ano são Rio, São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Natal e Florianópolis. Os novos preços ainda ficam bem abaixo do que seriam caso não houvesse a subvenção estatal, mas representam incrementos de até 15% no custo para o cidadão — uma forma, argumentam os gestores, de arcar com o crescimento nas despesas de operação e não sobrecarregar as contas públicas.
Determinar esse tipo de medida logo no início do mandato desponta como uma forma de evitar eventuais perdas de popularidade em períodos próximos às eleições seguintes. Com capital político reforçado pela vitória nas urnas poucos meses antes, prefeitos aproveitam para, agora, emplacar medidas duras, mas vistas como importantes do ponto de vista econômico.
Das sete cidades com mudanças definidas, seis têm prefeitos reeleitos. Alguns deles — como Eduardo Paes (PSD) no Rio, João Campos (PSB) no Recife e Bruno Reis (União) em Salvador — são cotados para disputar as eleições estaduais em 2026.
Orçamento equilibrado
Florianópolis teve neste início de ano não só o maior acréscimo percentual, de 15%, como também é a cidade com tarifa mais alta: R$ 6,90 no valor cheio, pago em dinheiro ou via QR Code. A capital de Santa Catarina, contudo, conta com cartões municipais específicos que conferem descontos.
Na outra ponta, Rio Branco, no Acre, tem a passagem mais barata quando se analisa o preço cheio: R$ 3,50. Mas, com diferença de apenas um centavo, a capital alagoana Maceió ostenta o título se a viagem é paga com um cartão municipal de transporte: sai a R$ 3,49, em vez dos R$ 4 do valor original — lá, não há, por ora, discussão para reajustar.
Cidade mais populosa do país, São Paulo vai cobrar R$ 5 a partir de 6 de janeiro, divulgou o prefeito Ricardo Nunes (MDB). São 60 centavos a mais do que o valor atual, um aumento de 13,6% depois de cinco anos sem oscilações. O emedebista classificou a medida como um “reajuste inflacionário”.
No Rio, a tarifa passa de R$ 4,30 para R$ 4,70 no próximo domingo, variação de 9,3%. Ao falar sobre o encarecimento da passagem, Paes evocou a existência dos subsídios, implementados por ele em 2021, e defendeu a “cultura do reajuste anual” para manter o orçamento equilibrado. Durante a campanha do ano passado, uma das principais promessas do prefeito foi a “revolução” nos ônibus convencionais, nos moldes do que foi feito nos últimos anos no BRT.
— Estamos aplicando o IPCA do período em que não houve ajuste. Quero sempre lembrar: o município passou a subsidiar a passagem. É o orçamento municipal que é gasto se a gente não faz esse reajuste, e é importante se ter essa cultura do reajuste anual, sim, para que a gente não venha a ter orçamento do município desequilibrado — disse.
A capital paulista foi pioneira, na década de 1990, na adoção de subsídios robustos, durante a gestão de Luiza Erundina — à época do PT, hoje do PSOL. Para 2025, são previstos R$ 6,4 bilhões com essa finalidade. Mesmo assim, segundo a SPTrans, os custos de operação subiram, enquanto a quantidade de passageiros pagantes caiu, o que motivou o aumento da passagem.
Causas como o preço do diesel e a alta do dólar são consideradas decisivas para os reajustes recentes nas capitais. É importante separar a tarifa “pública” da “técnica”, observa o presidente-executivo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Francisco Christovam. A pública é aquela repassada ao passageiro — e que, se fosse igual à técnica, calculada para pagar toda a operação, ficaria caríssima.
Os subsídios, diz Christovam, cresceram na esteira do reconhecimento de que, mesmo operado por empresas privadas, o ônibus é um serviço público fundamental. Por meio de decisões políticas, prefeitos entenderam que o sistema não pode depender apenas das tarifas desembolsadas pelos passageiros.
— Quando a tarifa pública não é suficiente para equalizar com a técnica, tem que subsidiar. Antes da pandemia tínhamos apenas três cidades que subsidiavam: São Paulo, Curitiba e Brasília. As outras não o faziam, e todo começo do ano era aquela briga — lembra. — Hoje, são 370. Começamos a mudar a consciência. Lá fora, em outros países, isso existe desde a década de 1970.
As necessidades de ajustes, contudo, seguem necessárias por causa da complexa matemática usada para calcular o custo da operação, explica Christovam. São levados em conta o preço do combustível e as mudanças nas remunerações dos trabalhadores, por exemplo, além de melhoras de infraestrutura.
Estreantes evitam aumento
Em Salvador, o prefeito Bruno Reis (União) anunciou ontem a mudança de R$ 5,20 para R$ 5,60. A prefeitura de Fuad Noman (PSD), em Belo Horizonte, passou de R$ 5,25 para R$ 5,75 — segundo a gestão, o preço deveria chegar a R$ 9,40 para arcar com todos os custos, se não houvesse subsídio. No Recife, o conselho estadual que define as passagens dos ônibus metropolitanos determinou aumento de R$ 4,10 para R$ 4,28. Por fim, Natal subiu o valor de R$ 4,50 para R$ 4,90.
Na maioria das capitais em que o prefeito não é um político reeleito, e sim gestor de primeiro mandato, não haverá mudanças tarifárias. A exceção é justamente Natal, onde Paulinho Freire (União) sucede Álvaro Dias (Republicanos), que o apoiou na campanha. Foi ainda na reta final da gestão de Dias, no entanto, que o aumento de 40 centavos foi determinado, sem deixar o ônus político da iniciativa para o novo prefeito.
Outras capitais populosas com prefeitos estreantes, como Fortaleza, Goiânia e Belém, garantem que não haverá aumento por enquanto. O mesmo se dá em Cuiabá e Aracaju. As demais prefeituras com gestores novos não responderam à reportagem.