Na manhã desta terça-feira, 17 de dezembro de 2024, uma cena de violência chocou a população de Natal, no Rio Grande do Norte. Uma estudante de 19 anos disparou uma arma de fogo contra um colega de 18 anos dentro da Escola Estadual Berilo Wanderley, localizada no bairro Neópolis, Zona Sul da capital potiguar. A agressão, que também envolveu uma tentativa frustrada de ataque a uma professora, levanta preocupações sobre a segurança no ambiente escolar e o crescente número de incidentes violentos em instituições de ensino em todo o país.
O jovem ferido foi atingido por um disparo na cabeça, mas, surpreendentemente, a bala atravessou sem se alojar, e ele estava consciente durante o atendimento médico. Ele foi socorrido por uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e encaminhado para o Hospital Walfredo Gurgel, onde passou por exames de tomografia e foi avaliado pelo setor de neurocirurgia. Seu quadro clínico é considerado estável.
Detalhes do ocorrido e depoimentos
Segundo testemunhas presentes no local, a estudante teria entrado na escola com uma arma de fogo e três facas, demonstrando comportamento alterado. O relato de uma técnica de enfermagem do Samu, Ilzeany Dilis, descreveu a cena como caótica. “Ele relatou que uma colega entrou armada, atirou e saiu disparando. O tumulto foi grande, ele não soube dar mais detalhes do ocorrido”, afirmou a profissional.
Outro estudante, que estava na sala no momento do ataque, deu um relato impressionante. Segundo ele, após ouvir o disparo, a agressora entrou na sala e tentou atirar contra a professora, mas a arma falhou. Nesse momento, um colega agiu rapidamente e conseguiu imobilizá-la. “Ela apontou para a professora, mas a arma falhou. Quando virou as costas, o menino pulou em cima dela e conseguiu segurar a arma”, descreveu o aluno, que preferiu não se identificar.
A polícia militar confirmou que, além da arma utilizada, a agressora portava também três facas e um bilhete, cujo conteúdo ainda está sob investigação. O material foi apreendido e será periciado.
Resposta imediata e manifestação da Secretaria de Educação
A Secretaria de Estado da Educação, do Esporte e do Lazer (SEEC) emitiu uma nota lamentando profundamente o ocorrido e garantiu que está colaborando com as autoridades competentes. A pasta reforçou que a segurança dos alunos e professores é uma prioridade e que medidas adicionais serão tomadas para evitar novos incidentes.
O contexto da violência escolar no Brasil
Casos de violência em escolas não são mais uma realidade isolada no Brasil. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o país registrou um aumento de 32% nos incidentes violentos em escolas entre 2022 e 2023. Apenas no último ano, mais de 6,7 milhões de estudantes relataram ter sofrido algum tipo de violência no ambiente escolar.
Ainda mais alarmante, o Atlas da Violência 2024 aponta que 49 mortes ocorreram em decorrência de ataques em escolas desde 2022. A maioria dos casos envolveu armas de fogo, trazendo à tona discussões sobre o controle de armas e o papel das famílias e do Estado em identificar comportamentos de risco.
Impacto social e psicológico nos estudantes
A violência no ambiente escolar tem efeitos devastadores sobre a comunidade acadêmica. Para os estudantes, presenciar ou vivenciar um ataque pode resultar em traumas psicológicos profundos, como ansiedade, síndrome do pânico e transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). Especialistas afirmam que a exposição a eventos violentos prejudica não apenas a saúde mental dos alunos, mas também afeta o desempenho acadêmico.
Medidas de prevenção e políticas de segurança
O governo federal lançou, em abril de 2024, o Sistema Nacional de Acompanhamento e Combate à Violência nas Escolas (Snave), com o objetivo de fortalecer as medidas de prevenção e oferecer apoio às instituições afetadas. O programa inclui:
- Monitoramento de escolas com histórico de violência
- Capacitação de profissionais para identificar comportamentos agressivos
- Apoio psicossocial para estudantes, professores e familiares
Exemplos de prevenção que funcionaram
Algumas escolas brasileiras e internacionais implementaram programas de mediação de conflitos e técnicas de cultura de paz com êxito. Entre as medidas destacam-se:
- Rodas de conversa: Criação de espaços seguros para o diálogo entre alunos e professores.
- Monitoramento de redes sociais: Identificação de comportamentos de risco entre estudantes.
- Psicólogos nas escolas: Atendimento regular para identificação de problemas emocionais e comportamentais.
- Segurança reforçada: A presença de guardas escolares e o uso de sistemas de monitoramento.
Curiosidades e histórico de violência escolar
Embora ataques escolares tenham sido mais comuns nos Estados Unidos, o Brasil registrou um aumento significativo nas últimas duas décadas. Um dos primeiros casos documentados no país foi em 2011, em Realengo, Rio de Janeiro, quando um atirador invadiu uma escola e matou 12 estudantes antes de ser neutralizado.
Em 2019, outro ataque violento ocorreu em Suzano, São Paulo, deixando 10 mortos, entre eles cinco estudantes, dois funcionários da escola e os próprios agressores. Desde então, o tema tem ganhado relevância e mobilizado autoridades a adotarem medidas mais rigorosas.
Linha do tempo de ataques recentes no Brasil
- 2019: Ataque na Escola Raul Brasil, em Suzano-SP, deixa 10 mortos.
- 2022: Atentado em Aracruz, Espírito Santo, com quatro vítimas fatais.
- 2023: Escola estadual em São Paulo registra ataque com faca, ferindo três alunos.
- 2024: Caso na Escola Berilo Wanderley, em Natal, reacende os debates sobre segurança escolar.
Dados relevantes sobre segurança e educação
De acordo com o Ministério da Educação (MEC), 78% das escolas públicas brasileiras não contam com equipes especializadas para atender alunos em situação de vulnerabilidade. Além disso:
- 62% das escolas possuem sistema de monitoramento de segurança inadequado.
- Apenas 15% possuem profissionais de apoio psicossocial.
Impacto econômico e social
O aumento da violência escolar também tem impactos econômicos. Segundo o Banco Mundial, a evasão escolar relacionada a casos de violência gera prejuízos anuais de até R$ 2 bilhões para o Brasil, além de reduzir oportunidades para milhões de jovens.
Depoimento de especialistas e famílias
Psicólogos alertam que o acompanhamento emocional dos jovens é essencial para evitar que casos como o de Natal se repitam. Mães e pais de alunos da Escola Berilo Wanderley, ainda abalados, clamam por mais segurança.
A busca por soluções
O incidente na Escola Estadual Berilo Wanderley deve servir de alerta para que o poder público, escolas e famílias trabalhem juntos em soluções eficazes para enfrentar a violência nas escolas. Medidas preventivas, educação emocional e reforço na segurança são caminhos necessários para proteger os jovens brasileiros.