Quem nunca se acomodou na posição de cócoras, atrás de um sofá ou de uma cortina, na casa da avó, brincando de esconde-esconde com os primos? Cada vez mais rara na vida adulta, a postura que remete à infância tem atuação direta na longevidade e pode atuar em aspectos da saúde que a gente nem imaginava.
— A posição de cócoras é importante para um assoalho pélvico saudável, isto é, o conjunto de músculos, ligamentos e tecidos que sustentam os órgãos pélvicos, como a bexiga, o útero, o intestino e o reto. Passar um tempo agachado é sinônimo de boa mobilidade na pelve, no quadril e na coluna — diz a fisioterapeuta Laura Della Negra, pioneira no estudo da fáscia e do assoalho pélvico no Brasil.
Adepta do método Rolfing, técnica manual que visa melhorar o equilíbrio, a fluência e a liberdade de movimentos, baseada na relação entre o corpo e a gravidade, Laura entende a posição como a que oferece maior relaxamento da musculatura do assoalho pélvico desde que sejam mantidas as curvaturas naturais da coluna.
— Quando ficamos de cócoras, liberamos os músculos dessa parte do corpo (assoalho pélvico) e consequentemente temos a melhora da respiração e do funcionamento do intestino — explica.
Segundo ela, isso acontece porque existe uma relação embriológica que faz com que, quando o diafragma respiratório funciona bem, o assoalho pélvico responde da mesma forma. E vice-versa.
Além disso, a postura garante firmeza na articulação do joelho e do quadril. Prova disso é a facilidade com que as crianças descansam nessa posição.
— Ficar de cócoras traz muitos benefícios. Acalma, traz agilidade para o corpo, faz bem ao intestino, melhora a flexibilidade dos membros inferiores — afirma a fisioterapeuta Erika Tejima Blanco.
Segundo ela, a postura age como um auxiliador na redução da dor lombar crônica miofascial, diminuindo a sobrecarga dos músculos da coluna. Com impacto direto no dia a dia, contribui ainda para o alinhamento da postura corporal e melhora a performance em caminhadas e corridas.
— É uma atividade essencial para quem não abre mão de manter uma coluna saudável, sem dores e desconfortos – conta Erika.
No caso das mulheres, o exercício de ficar de cócoras também ajuda a pelve a se preparar para o parto, alongando os músculos e estimulando a flexibilidade e a mobilidade.
Mas isso não é tudo. Estudos apontam que o simples ato de agachar-se e manter-se nessa posição durante alguns minutos por dia pode auxiliar na evacuação, melhorando as funções intestinais e auxiliando em problemas como constipação, hemorroidas, diverticulite, diverticulose e até câncer de cólon. Tudo isso porque, com o agachamento, ocorre o alinhamento do intestino, facilitando o processo digestivo.
Questão de treino
Quem se deixou enrijecer com o tempo e não consegue mais se manter agachado, como na infância, não precisa se preocupar. Recuperar essa habilidade é questão de treino.
Uma forma de começar a mudar esse quadro é sentando-se em cadeiras e bancos baixinhos, abaixo da linha do quadril, ou mesmo no chão.
— Essa é uma forma eficiente de ativar os músculos, melhorar a estabilidade e o equilíbrio do corpo — explica Erika.
Segundo ela, criar essa rotina diária trará consciência corporal, fortalecimento dos músculos das pernas e da pelve, melhora do equilíbrio, das funções intestinais e da mobilidade do quadril.
O ideal é que a prática da postura de cócoras seja feita descalço, com as plantas dos pés totalmente apoiadas no chão.
Por fim, é importante ressaltar que nunca devemos dispensar o acompanhamento profissional. Ele garante a segurança das práticas e o fortalecimento seguro da musculatura, levando em consideração as capacidades e limitações de cada paciente.