PF encontrou plano do golpe em pendrive de kid preto que vigiou Moraes

Arquivo detalhava, conforme a PF, série de ações a serem tomadas para “suposta defesa da democracia”. Execução de ministro é citada

O relatório da Polícia Federal (PF) sobre as investigações do plano de golpe de Estado no final de 2022 aponta que uma planilha detalhava toda a trama. O documento estava em um pen drive que foi apreendido em poder do tenente-coronel do Exército Hélio Ferreira Lima. O militar, diz a PF, monitorou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

 Alexandre de Moraes /Foto: Igo Estrela/Metrópoles @igoestrela

O arquivo com o nome “Desenho Op Luneta.xlsx”, conforme a PF, tinha mais de 200 linhas e abordava “fatores estratégicos do planejamento”. São eles: fisiográfico, psicossocial, político, militar, econômico e produção.

Dentro de cada um dos fatores havia subtópicos. Para cada subtópico, o documento apresentava uma definição de fator, que era acompanhada de colunas para os seguintes itens: “definição, explicações e aspectos”, “apreciações e conclusões”, “consequência do empreendimento”, “fato”, “dedução” e “conclusão”.

Esta parte da planilha se assemelha a uma análise de Swot, uma ferramenta de planejamento e gestão utilizada para apontar pontos fortes e vulnerabilidades na execução de determinada meta.

A missão descrita no plano era “reestabelecer a lei e a ordem por meio da retomada da legalidade e da segurança jurídica e da estabilidade institucional”. Isto seria para impedir um cenário de ameaça “em suposta defesa da democracia, (objetivaria) controlar os 3 poderes do país e impor condições favoráveis para apropriação da máquina pública em favor de ideologias de esquerda ou projetos escusos de poder”.

O plano tem, conforme o relatório da PF, um “robusto detalhamento das (três) etapas” de implantação. Elas são denominadas como “eleições limpas, legalidade e informacional”. Dentro de cada uma das três etapas havia subtópicos.

Na etapa “legalidade”, por exemplo, há a previsão de emissão de “mandados de prisão contra envolvidos em indícios de irregularidades no processo eleitoral publicados”. O documento da PF mostra que os autores do plano acreditavam ter havido fraude nas eleições de 2022, pois era prevista a necessidade de “investigar e emitir relatório, em caráter de urgência, o processo completo do pleito eleitoral de 2022”.

Em dado momento, o arquivo do pendrive descreve a necessidade de “neutralizar os elementos geradores de instabilidade do STF”.

A PF aponta que Ferreira Lima participou, no dia 12 de novembro de 2022, de uma reunião na residência do general Braga Netto, ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL). No encontro, o plano golpista teria sido discutido e aprovado, concluiu a investigação.

Vigiando Moraes

Ferreira Lima monitorou o então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro do STF Alexandre de Moraes. “Hélio Ferreira Lima viajou do Rio grande do Sul para Goiânia/GO e se deslocou juntamente com Rafael de Oliveira para a cidade de Brasília/DF no dia 21/11/2022 para iniciar as atividades de monitoramento do ministro Alexandre de Moraes‘, diz o relatório da PF.

Rafael de Oliveira atuou Núcleo Operacional formado por militares das Forças Especiais, os “kids pretos”, que fica em Goiânia.

A PF chegou à conclusão de que Ferreira Lima monitorou Lula e Moraes, entre outros indícios, pelo monitoramento da localização de um celular que estava com ele e pelo monitoramento de um carro alugado pelo militar.

O relatório da PF mostra que no dia 12 de dezembro de 2022, Ferreira Lima e Oliveira estavam nas imediações do Parque da Cidade, em Brasília, onde também estava Moraes, para “executar a prisão/execução” do ministro do STF.

Ferreira Lima, Rafael de Oliveira e Braga Netto estão entre os 37 indiciados no relatório da PF. O documento da investigação foi entregue ao STF, direcionado ao ministro Moraes. O ministro direcionou o arquivo para a Procuradoria Geral da República (PGR),

A PGR vai analisar todos os indícios e emitir um parecer, distribuído a Moraes, sobre a consistência da investigação. Moraes é quem vai decidir se o caso vai adiante e os indiciados se tornam réus.

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