O ex-presidente Jair Bolsonaro cometeu um ato falho nas declarações que deu após o indiciamento pela Polícia Federal no inquérito da trama golpista para impedir a posse de Lula.
Bolsonaro foi indiciado na última quinta-feira (21) por golpe de Estado e abolição do Estado Democrático de Direito, além de organização criminosa. Somadas, as penas máximas para esses crimes chegam a 28 anos de prisão.
Em entrevista à colunista do UOL Raquel Landim, publicada nesta quinta-feira, o ex-presidente disse que “o golpe de Estado não é o que o presidente quer. Ele tem que se articular com as Forças Armadas, com políticos, classe empresarial, como fizeram em 1964. Ter recurso, tropa na ruas…”.
É a primeira vez que Bolsonaro admite que o que houve em março de 1964 foi sim um golpe — e não uma “revolução” ou um ato institucional do Congresso.
Veja quem são os indiciados pela Polícia Federal
Até hoje, toda vez que foi questionado sobre o golpe que instituiu a ditadura militar no Brasil, Bolsonaro sempre argumentou que tudo foi feito de acordo com a Constituição, baseando-se no fato de que, no dia seguinte à tomada do poder pelos militares, com as tropas nas ruas, o Congresso declarou a Presidência da República vacante, embora João Goulart ainda se encontrasse no país, e nove dias depois chancelou a posse do marechal Castello Branco.
A insistência de Bolsonaro nessa versão levou seu governo a enviar um telegrama à ONU em abril de 2019 afirmando que “não houve golpe de Estado” em 1964 e justificando os 21 anos de ditadura pela necessidade de “afastar a crescente ameaça de uma tomada comunista do Brasil e garantir a preservação das instituições nacionais, no contexto da Guerra Fria”.
Agora, diante das acusações da Polícia Federal, Bolsonaro parece ter esquecido do que sempre disse. Ou então abandonou sua convicção porque viu na diferença entre o seu golpe (que não deu certo) e o de 1964 a chance de tentar se safar na Justiça.