Salvador enfrenta uma situação de calamidade devido às intensas chuvas que assolam a cidade desde o início da semana. Com um volume pluviométrico que já ultrapassa 319 milímetros no mês de novembro — quase o triplo da média histórica de 108 mm —, a capital baiana lida com alagamentos, deslizamentos de terra, interrupções no transporte e perda de vidas. Na manhã desta quarta-feira (27), uma pessoa morreu e pelo menos quatro estão soterradas em decorrência dos deslizamentos em áreas de risco. A Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros permanecem mobilizados para minimizar os impactos dessa tragédia, mas o cenário é de alerta máximo.
Chuva em Salvador – Foto: TV Bahia
A cantora Ivete Sangalo, um dos ícones culturais de Salvador, também foi afetada pelas chuvas. Moradora do Corredor da Vitória, ela relatou em suas redes sociais a invasão de água em seu apartamento, chamando atenção para a gravidade do evento. O drama enfrentado pela artista reflete a dificuldade que milhares de moradores da cidade têm vivido nos últimos dias.
As autoridades municipais confirmaram que bairros como San Martin, Retiro, Cabula, Saboeiro e Pau Miúdo foram duramente atingidos, com volumes de chuva acima de 360 mm em apenas três dias. A prefeitura acionou sirenes em áreas de risco, abriu abrigos para acolher as famílias desalojadas e intensificou o trabalho de equipes nas ruas para atender às demandas da população. No entanto, o solo saturado e a continuidade das chuvas tornam os esforços ainda mais desafiadores.
Diversos serviços interrompidos e vias interditadas
A situação em Salvador está longe de ser controlada. A travessia marítima entre Salvador e Mar Grande permanece suspensa pelo terceiro dia consecutivo, devido às más condições climáticas na Baía de Todos-os-Santos. O transporte público também foi afetado, com suspensões de linhas do BRT e interrupções nos elevadores e planos inclinados da cidade, como o Elevador do Taboão e o Plano Inclinado Gonçalves.
As vias principais de Salvador estão tomadas por alagamentos. Locais como a Avenida Bonocô, Avenida Suburbana, Pernambués, Jequitaia e Vasco da Gama estão entre os mais prejudicados, registrando congestionamentos e áreas intransitáveis. Na BR-324, principal ligação entre Salvador e Feira de Santana, motoristas enfrentam longos engarrafamentos, agravando o caos urbano.
Deslizamentos de terra e operações de resgate
A chuva incessante tem causado deslizamentos de terra, colocando em risco moradores de áreas mais vulneráveis. Em Saramandaia e Pernambués, dois dos bairros mais afetados, equipes do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil trabalham intensamente no resgate de vítimas soterradas. As operações são desafiadas pelo terreno encharcado e pelo risco iminente de novos deslizamentos. Uma vítima fatal já foi confirmada, e os bombeiros tentam localizar outras quatro pessoas desaparecidas.
Os relatos de moradores dessas áreas evidenciam o desespero da situação. Imagens de um homem soterrado, mas ainda com vida, circularam pelas redes sociais, mostrando a solidariedade da comunidade local na tentativa de resgate antes da chegada das equipes de emergência. No entanto, o coronel Adson Marchesini, comandante-geral do Corpo de Bombeiros, reforçou os perigos do cenário atual, alertando para a possibilidade de novos deslizamentos.
Impacto nos serviços e infraestruturas urbanas
Além das vias alagadas, árvores caídas e imóveis danificados compõem o cenário de destruição em Salvador. Na região de Ondina, uma árvore caiu sobre uma academia, que estava em funcionamento no momento do acidente. Felizmente, não houve feridos, mas o incidente evidencia os perigos ocultos que a cidade enfrenta durante este período de chuvas extremas.
Na Baixa dos Sapateiros, um imóvel desabou parcialmente, levando ao fechamento da área para evitar mais tragédias. A Defesa Civil está monitorando de perto outros imóveis com risco estrutural, recomendando que moradores dessas áreas procurem abrigos seguros.
Dados alarmantes e medidas emergenciais
O acumulado de chuvas em Salvador nos últimos três dias já ultrapassa 200 mm, de acordo com a Defesa Civil. Isso representa o dobro do volume esperado para todo o mês de novembro e coloca a cidade em uma situação crítica. Áreas como Flamengo, Cassange e Subúrbio Ferroviário registraram índices pluviométricos superiores a 30 mm em apenas algumas horas.
Com o objetivo de mitigar os danos, a Prefeitura de Salvador ativou abrigos para receber famílias que precisaram deixar suas casas. Sirenes de alerta foram acionadas em diversas localidades, e as equipes da Defesa Civil intensificaram as ações para reduzir os riscos de novos desastres. O diretor-geral da Codesal, Sosthenes Macêdo, destacou que a população deve permanecer atenta e buscar locais seguros sempre que possível.
Consequências para a mobilidade e o comércio local
O setor de transporte público é um dos mais afetados. A suspensão de linhas de ônibus e o fechamento de terminais prejudicam a mobilidade de milhares de pessoas. Além disso, o comércio local enfrenta dificuldades com as inundações, especialmente nas regiões centrais da cidade, como a Avenida Sete de Setembro e o Comércio.
Comerciantes relatam prejuízos significativos devido ao fechamento de lojas e à perda de mercadorias. A economia da cidade, que já enfrentava desafios, sofre um impacto ainda maior com os transtornos causados pelas chuvas.
Recomendações para a população
Diante do cenário atual, as autoridades emitiram diversas orientações para garantir a segurança da população. Entre as principais recomendações estão:
- Evitar transitar por áreas alagadas ou próximas a encostas.
- Buscar abrigos seguros em caso de alerta de deslizamento.
- Manter-se informado por meio dos canais oficiais da Defesa Civil.
- Acionar os serviços de emergência sempre que necessário.
Riscos climáticos e o futuro de Salvador
Especialistas alertam que eventos climáticos extremos, como os registrados em Salvador, tendem a se tornar mais frequentes devido às mudanças climáticas globais. A urbanização desordenada e a falta de infraestrutura adequada em algumas áreas da cidade agravam a situação, expondo milhares de pessoas a riscos iminentes.
Embora a Prefeitura e outras entidades estejam trabalhando para minimizar os impactos, a cidade enfrenta um desafio contínuo de adaptação e resiliência frente aos fenômenos climáticos cada vez mais intensos.
Solidariedade e ações comunitárias
Em meio ao caos, iniciativas solidárias emergem como uma luz de esperança para os moradores afetados. Grupos comunitários e organizações locais têm se mobilizado para arrecadar alimentos, roupas e outros itens essenciais para as famílias desalojadas. Essas ações, embora limitadas, fazem a diferença no apoio às vítimas.
As redes sociais também têm desempenhado um papel crucial na disseminação de informações e no pedido de ajuda. Hashtags relacionadas ao evento alcançaram milhares de interações, destacando a gravidade da situação e mobilizando internautas de diversas partes do país.
Reflexos históricos e desafios futuros
Salvador já enfrentou chuvas intensas em anos anteriores, mas o evento atual destaca a necessidade urgente de investimentos em infraestrutura urbana e estratégias de mitigação de desastres. O histórico de eventos climáticos extremos reforça a importância de medidas preventivas e políticas públicas voltadas à sustentabilidade e ao planejamento urbano.
Com as chuvas ainda persistentes e a previsão de mais temporais nos próximos dias, Salvador vive um momento crítico que exigirá esforços conjuntos de autoridades, sociedade civil e moradores para superar a crise atual.
