Cientistas de seis países embarcaram nesta sexta-feira para uma expedição de dois meses na Antártica. Os 61 pesquisadores do Brasil, Argentina, Chile, Peru, China e Rússia estão na cidade de Rio Grande (RS), e seguem de navio para o continente gelado no Polo Sul. A viagem deve durar seis dias a bordo do navio quebra-gelo Akademik Tryoshnikov, do Instituto de Pesquisa Ártica e Antártica, da Rússia. A Expedição Internacional de Circum-Navegação Costeira Antártica vai percorrer mais de 20 mil quilômetros em toda a costa da Antártica.
A equipe conta com 27 brasileiros, vinculados a instituições ligadas ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT) e ao Programa Antártico Brasileiro (Proantar/CNPq). Dois deles são mineiros e professores do departamento de solos da Universidade Federal de Viçosa (UFV): Márcio Rocha Francelino e José João Lélis de Souza.
José João Souza é geógrafo, doutor em agronomia. Ele já esteve em outras quatro expedições na Antártida. Ele conta que o diferencial dessa viagem é a possibilidade de explorar locais novos ao redor do continente.
— E a segunda vez na história da humanidade que essa expedição é feita. Nós vamos visitar áreas que nunca foram estudadas ou com muito pouco estudo. A Antártica é extremamente importante porque ela basicamente controla todas as condições climáticas que a gente tem, tanto marítimas quanto atmosféricas da América do Sul – diz o cientista.
O projeto dos pesquisadores mineiros avalia há 14 anos a permafrost, a camada de solo que permanece congelada. São mais de 30 pontos que monitoram a variação de temperatura. Com essa expedição, serão instalados mais quatro sítios.
— Se o permafrost começa a se aquecer por causa das mudanças climáticas, a gente tem a emissão de gases de efeito atmosférico, efeito estufa, que pode acelerar a temperatura não só na Antártida, mas também no planeta. Agora vamos para zonas mais frias e secas, clima de deserto polar. Esperamos que a atividade biológico seja menor e com características extremas como as encontradas só em Marte ou outros planetas – explica o doutor José João Souza.
Treinamento psicológico
Para a expedição, os cientistas passam por treinamento físico e psicológico. São dois meses longe da família e em local, muitas vezes, sem nenhuma comunicação. As condições são realmente extremas. Mesmo nesta época do ano, quando há mais incidência de sol, a temperatura pode chegar a 10 graus negativos. Em algumas áreas o solo perde a cobertura de gelo, o que facilita a coleta de material. Mesmo assim é necessário percorrer uma longa distância a pé e carregar peso.
— Muitas vezes a gente vai caminhar, em um mesmo dia, seis quilômetros para chegar a um ponto e depois mais seis quilômetros para voltar. A volta é mais pesada porque tem 10 ou 15 quilos de solo nas costas, bem a ideia dos bandeirantes no passado — compara o pesquisador.
Ao final dos estudos, todos os dados serão unificados para uma análise global do cenário e do impacto das mudanças climáticas. O retorno dos pesquisadores está previsto para o dia 25 de janeiro de 2025.