Enquanto a Polícia Federal finaliza o relatório que deve levar ao indiciamento de Jair Bolsonaro por suposto envolvimento na trama golpista para impedir a posse de Lula, a equipe do procurador-geral da República, Paulo Gonet, pretende aguardar a conclusão dessa investigação para decidir sobre as denúncias que fará não só nesse caso, mas também nos outros que miram o ex-presidente da República e já estão em fase mais avançada.
Em outros dois inquéritos, a PF já indiciou Bolsonaro – o da fraude na carteira de vacinação, em março, e das joias sauditas, em julho – mas até agora Gonet ainda não fez nenhuma denúncia. Interlocutores do procurador-geral da República afirmam que é preciso “esperar tudo” e aguardar o “filme completo” antes de decidir.
Até a eleição municipal, o que se dizia na PGR era que Gonet não faria nenhuma denúncia antes da votação para não ser acusado de atuar politicamente e tentar influenciar o resultado.
Agora, relatos obtidos pela equipe da coluna dão conta de que Gonet prefere aguardar o relatório da trama golpista, que até mesmo aliados de Bolsonaro consideram a investigação mais delicada e grave de todas, para ter uma visão “panorâmica” de todas as acusações contra o ex-presidente. A expectativa na PF é fechar o relatório e produzir os indiciamentos ainda neste ano.
Na PGR, Gonet ainda tem sido visto pelos pares como um procurador centralizador, que não compartilha muitas informações com subordinados nem delega funções. Também tem adotado uma atitude mais meticulosa e cautelosa na condução de casos com forte repercussão política.
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Tanto nas joias quanto na carteira de vacinação, após a PF concluir o relatório pelo indiciamento de Bolsonaro, Gonet pediu o envio de mais informações para esclarecer pontos da investigação. Na PGR, há quem acredite que ele possa adotar a mesma postura no caso da trama golpista, se encontrar lacunas no relatório ou não estiver plenamente convencido da sua conclusão.
No caso da vacina, Gonet pediu à PF para esclarecer se algum certificado de vacinação contra a Covid-19 foi apresentado por Bolsonaro e os demais integrantes da comitiva presidencial, quando viajaram para os Estados Unidos, em dezembro de 2022, na véspera da posse de Lula.
Em todos os inquéritos, o acordo de colaboração premiada firmado pela PF com o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, teve papel-chave, destravando a investigação e fornecendo detalhes de bastidores.
Em sua delação, Mauro Cid disse que “recebeu a ordem” de Bolsonaro para “fazer as inserções dos dados falsos no nome dele e da filha” e que esses certificados fossem impressos e entregues em suas mãos.
Mas o Departamento de Justiça americano informou ao Ministério da Justiça brasileiro que o órgão que cuida da proteção das fronteiras (CBP, na sigla em inglês) não possui registro de que Bolsonaro e outros membros de sua comitiva tenham informado serem vacinados contra a Covid-19 quando chegaram aos Estados Unidos e nem em outras entradas e saídas do ex-presidente no país, entre janeiro de 2021 e março de 2023.
Para interlocutores de Bolsonaro, as informações das autoridades estrangeiras esvaziam a suspeita de que o ex-presidente teria fraudado a carteira de vacinação para ingressar nos EUA.
Conforme informou o blog, a expectativa no entorno bolsonarista é que a PF indicie o ex-presidente no relatório da trama golpista por crimes como golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e associação criminosa – que somam pena de ao menos 28 anos.
Apesar do pessimismo bolsonarista, há também esperança de que o ex-presidente escape de uma acusação formal sobre o esquema de fraude em registro na carteira de vacinação.
A demora de Gonet ajuda a manter essa esperança viva. Só não se sabe ainda até quando.