Oito pacientes perdem o globo ocular em mutirão de catarata no Rio Grande do Norte

Quinze pessoas que se operaram no dia 27 de setembro, em Parelhas, apresentaram endoftalmite - infecção ocular causada pela bactéria Enterobacter cloacae.

No interior do Rio Grande do Norte, oito pacientes perderam o globo ocular depois de um mutirão de cirurgia de catarata.

Luzia estava com a visão comprometida no olho esquerdo. No dia 27 de setembro, participou do mutirão para operar a catarata. Achou que iria resolver o problema. Cerca de duas semanas depois, perdeu o olho.

“O momento mais difícil foi quando disse que tinha perdido a visão do olho, porque a gente foi esperança de enxergar e, de repente, você ter a certeza de que você não vai mais enxergar…”, diz Iara Medeiros, filha de Luzia.

Oito pacientes perdem o globo ocular em mutirão de catarata no Rio Grande do Norte/ Foto: Jornal Nacional/ Reprodução

Luzia não foi a única. Maria Ernesto também perdeu um dos globos oculares.

“Faz uns dois anos que ela fez uma consulta de vista, e a médica orientou ela a fazer essa cirurgia. Aí ela ficou esperando na fila para ser chamada. Hoje, ela está sem o olho e enxergando só pelo olho esquerdo”, conta Silvania Alves, filha de Maria Ernesto.

O mutirão em Parelhas, a quase 250 km de Natal, foi nos dias 27 e 28 de setembro, a poucos dias da reeleição do prefeito Tiago Almeida, do PSDB. Ele contratou uma clínica privada para os procedimentos em uma maternidade para 48 pessoas. Quinze pessoas que se operaram no primeiro dia apresentaram endoftalmite, uma infecção ocular causada pela bactéria Enterobacter cloacae. Oito precisaram tirar o globo ocular para impedir que a infecção se espalhasse.

Enterobacter cloacae: bactéria que infectou 15 pacientes em mutirão no RN é comum no intestino

Enterobacter cloacae: bactéria que infectou 15 pacientes em mutirão no RN é comum no intestino/Foto: Reprodução

Representantes da Prefeitura de Parelhas se reuniram nesta quarta-feira (16) com a Anvisa e com autoridades sanitárias estaduais.

“Nós solicitamos ao município a confirmação de que esses equipamentos foram realmente esterilizados e com qualidade. Então, nós estamos esperando essa informação. E aí sim a gente vai poder dizer o que aconteceu de diferente. Mas que aconteceu, aconteceu”, diz Diana Rego, coordenadora da Vigilância em Saúde/RN.

A Prefeitura de Parelhas informou, através de nota, que está ouvindo os profissionais que trabalharam no mutirão e que um inquérito civil foi aberto para investigar as condições da água, a esterilização dos equipamentos e, também, o local onde as cirurgias aconteceram. A prefeitura informou ainda que suspendeu o pagamento de cerca de R$ 52 mil para a empresa contratada.

Em nota, a Oculare Oftalmologia Avançada afirmou que o mutirão foi conduzido por oftalmologista experiente, seguindo os protocolos médicos e de segurança exigidos; que a equipe médica tomou as medidas necessárias para o tratamento imediato; que a Superintendência de Vigilância Sanitária está conduzindo uma apuração do caso; que os materiais utilizados foram lavados e entregues à equipe da maternidade para a devida esterilização; que a empresa não possui registros de infecções em cirurgias realizadas em outras oportunidades; e que medidas estão sendo tomadas para garantir a segurança e a saúde dos pacientes.

A direção da maternidade afirmou que o material foi levado pela empresa que fez a cirurgia; que a Oculare Oftalmologia pediu que tudo fosse colocado no esterilizador de equipamentos – o que foi feito por uma funcionária da maternidade.

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