Jai Dhar Gupta se tornou um ativista quando sentiu no próprio corpo os efeitos da poluição do ar. O indiano era atleta de corrida e o ar poluído de Nova Déli o levou a um quadro grave de bronquite asmática. Depois de anos de dedicação para melhorar a qualidade do ar onde vivia e a fundar o movimento “Our Right to Breathe” (Nosso direito de Respirar), Gupta comemorou seu aniversário de 50 anos com um novo projeto: criar um paraíso de biodiversidade inspirado em Pandora, planeta fictício do filme Avatar.
Longe de ser um cenário de filme, o ecossistema planejado por ele é bem real. O ambientalista comprou uma área de 32 acres que está se tornando a primeira reserva natural privada da Índia. A propriedade foi comprada em 2021 pelo seu potencial e localização privilegiada entre a Reserva de Tigres e o Rio Raghati. O lugar ganhou o nome de Rajaji Raghati Biosphere.
Mas, o cenário encontrado por lá estava longe de ser cinematográfico. Anos de cultivo de espécies de eucalipto haviam empobrecido o solo, causado erosões e feito com que a fauna e flora nativas fossem praticamente eliminadas do local.
“Sempre sonhei em ser um chowkidar (vigia) das florestas na Índia. Não tenho esperança de melhores condições de vida em Déli ou Mumbai. O ar é tóxico em todos os lugares. Quero melhorar minha própria qualidade de vida, e a maneira de fazer isso é vivendo com a natureza”, revela Jai.
Como morador de Déli, ele frequentemente visitava a Reserva de Tigres Rajaji, onde desenvolveu uma profunda afeição pela vida selvagem. Naturalmente, quando chegou a hora de encontrar um lugar para se estabelecer, ele foi atraído para a área que se tornou quase um segundo lar para ele na última década.
Para começar a reconstruir o seu paraíso de biodiversidade, Gupta se uniu ao renomado especialista indiano em reintrodução de espécies selvagens, Vijay Dhasmana.
“A propriedade havia passado por uma terraplanagem, destruindo a paisagem natural e agravando a erosão do solo, empobrecido pelo cultivo de eucaliptos”, conta Dhasmana. “Cinco mil árvores de eucalipto foram removidas poucos dias após a aquisição da terra. Posteriormente, o terreno ganhou contornos para garantir retenção de água, evitar erosão e promover a recarga de águas subterrâneas.”
Uma vez que a água voltou a se infiltrar no solo, a dupla de ambientalistas realizou uma grande pesquisa, observando como as diferentes espécies nativas de plantas interagiam e eram distribuídas nas paisagens florestais preservadas.
“Coletamos sementes, criamos um banco de sementes e apoiamos parques florestais no plantio e cultivo de diversas espécies de árvores e arbustos nativos, como haldu, rohini, mala, saal, jamun e pangana. Depois, essas espécies foram replantadas em nossa reserva” explica Gupta.
Segundo ele, a reserva é uma biosfera, um microambiente. “É uma zona de vida. Estamos trabalhando para criar um ambiente puro, cultivando apenas o que a natureza pretendia para esta área”, garante. “Estou perseguindo o que vi naquele filme Avatar ”.
Depois desta primeira fase do reflorestamento, Gupta e Dhasmana planejam introduzir até 40 novas espécies de plantas na área.
Humanos não são prioridade
Como toda a paisagem é de propriedade privada de Gupta, ele decidiu proibir a entrada de todos os veículos motorizados ao local, garantindo que todas as espécies possam tomar seu lugar dentro do ecossistema, sem nenhuma perturbação ou ameaça.
Leopardos, veados, elefantes, lagartos, e diversas espécies de aves, incluindo águias, gostaram da ideia e circulam em segurança pela biosfera criada pelo ativista.
“Já me sinto a pessoa mais rica do planeta. Criei mais riqueza nos últimos 2,5 anos do que nos 50 anos anteriores. É preciso perceber que a riqueza não está em nossas mansões e apartamentos nas cidades. A riqueza está na paz mental, que eu encontrei”, diz Jai.
As 132 espécies de plantas nativas são protegidas por regras rígidas que proíbem os visitantes de trazer qualquer plástico de uso único e quaisquer alimentos que contenham sementes.
Um único veículo utilitário elétrico de fazenda que funciona como um jipe de safári. Duas pequenas casas foram construídas no local, caso haja a necessidade de alguma hospedagem para humanos, mas a ideia de ecoturismo não está nos planos. “A regra nesta biosfera é que a natureza vem primeiro, não os humanos”, diz Gupta.
Outra conquista são as ligações de pessoas de todo o país interessadas em replicar essa iniciativa, que se tornaram rotina para os dois ambientalistas. A mensagem que a dupla quer passar é clara: “Vamos voltar às coisas mais simples e nos reconectar com a natureza.”