O advogado Thiago Felipe de Souza Avanci, que matou a mãe, o cachorro e cometeu suicídio nessa terça-feira (17/9) no Guarujá (SP), estuprava o sobrinho autista há pelo menos um ano e planejava deixar seus bens para a família. O Metrópoles teve acesso aos boletins de ocorrência e revela o que se sabe até agora sobre o caso.
Thiago era advogado, professor universitário e secretário de Modernização e Transformação Digital (Semod) da Prefeitura do Guarujá. Na terça-feira, ele foi exonerado do cargo público a pedido.
O primeiro BO
O primeiro boletim de ocorrência sobre o caso foi registrado no dia 7/9, quando o irmão de Thiago procurou a polícia para registrar o desaparecimento do advogado.
De acordo com o registro, o ex-secretário municipal entregou um envelope com documentos e objetos pessoais para o irmão na noite de 6/9. Entre os documentos, estavam um cartão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), cartões bancários, relógio de pulso, documento e chave do carro.
No envelope, também havia um documento de transferência de veículo – passando o carro de Thiago para o nome do irmão – e uma carta manuscrita em que o advogado afirma ter deixado uma apólice de seguro de vida para os sobrinhos, bem como a informação de valores relativos a ações judiciais em curso, além de outras instruções relativas a benefícios na universidade de um dos sobrinhos.
Ao registrar o boletim de ocorrência, o irmão afirmou à polícia que Thiago tinha quadros de depressão, mas que não usava drogas e que a relação com a família era harmoniosa.
Estupro de vulnerável
Dois dias depois do primeiro registro (9/9), a mãe do sobrinho de Thiago, um adolescente de 17 anos, procurou a polícia para denunciar o cunhado por estupro de vulnerável.
De acordo com a declaração da mulher, o menino é diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA) e ansiedade. Por isso, passou a morar com a avó paterna e o tio em setembro do ano passado, pois na casa havia um quintal grande, com animais e acesso à praia, coisas que tranquilizavam o adolescente.
No boletim, a mãe do garoto afirma que o filho passava boa parte do tempo na edícula em que o tio morava, no terreno da avó. Além disso, os dois dormiam na mesma casa.
A suspeita de abuso surgiu quando a vítima relatou no Centro de Atenção Psicossocial onde faz acompanhamento que estava com dor e sangramento no ânus. A partir disso, o adolescente voltou a morar com os pais.
Neste boletim, a mãe também cita a carta deixada por Thiago para seu marido, mas revelando um novo teor. Segundo o BO, o advogado escreveu que iria cometer suicídio por ter uma relação amorosa com o adolescente de 17 anos.
Além da carta, também havia um pen drive, contendo cenas de sexo explicito em vídeos e imagens. No BO, a mulher afirma que ela e o marido fizeram o primeiro boletim de ocorrência na delegacia sem conhecer o conteúdo do pen drive.
A mãe diz ainda que, pelo que sabe, o filho vinha sofrendo esses abusos desde que foi morar na casa da avó, mas também já teria sido abusado pelo tio na casa dos pais.
Busca e apreensão
Na manhã dessa terça-feira (17/9), a Polícia Civil cumpriu na residência de Thiago e da mãe dele um mandado de busca e apreensão expedido pela 2ª Vara Criminal do Guarujá.
Foram apreendidos uma caixa de munições, cinco cartuchos calibre 32, 24 cartuchos 9mm, um simulacro de arma de fogo com carregador, dois coldres de arma de fogo, dois carregadores de pistola 9 mm, um porta carregador, um revólver calibre 32 enferrujado e uma pistola calibre 390 em bom estado.
Os policiais também encontraram nota fiscal e registro de arma de fogo, bem como uma maleta de pistola da marca Taurus contendo em seu interior apenas o manual de instruções. A tarde, ainda nessa terça-feira, Thiago se dirigiu espontaneamente à Delegacia de Defesa da Mulher do Guarujá para entregar a arma em questão.
O advogado estava acompanhado de um representante da OAB Guarujá e foi liberado. A arma foi apreendida e encaminhada para perícia.
Crime bárbaro
À noite, por volta das 20h45, Thiago matou a mãe, o cão da família e tirou a própria vida. De acordo com o boletim de ocorrência, horas antes, ele e a mãe teriam encaminhado um vídeo por aplicativo de mensagens para o irmão, pai do adolescente.
No vídeo, segundo descreve o BO, Thiago e a mãe tomavam vários comprimidos e falavam em pôr um fim ao sofrimento e às próprias vidas. O advogado teria dito ainda ter convênio com plano de assistência funerária do litoral paulista.
Após receber o vídeo, o irmão de Thiago contatou a investigadora responsável pelo caso. Foi então que os policiais civis se dirigiram à casa onde mãe e filho moravam.
Quando chegaram, os policiais encontraram a mãe de Thiago, Sueli Nastri de Souza Avanci, de 72 anos, morta sobre a cama. Ela tinha um ferimento na região temporal direita provocado por disparo de arma de fogo. Ao seu lado estava o cão da família, também morto, mas sem sinais de ferimento.
No chão, ao lado da cama, os policiais encontraram o corpo de Thiago deitado. Ele também apresentava um ferimento na cabeça por arma de fogo. Um revólver calibre 38, sem numeração aparente, estava entre as pernas do ex-secretário municipal.
No local do crime, os policiais encontraram três telefones celulares e uma caixa de munição calibre 38. Na edícula em que Thiago residia, foi localizado ainda um notebook e um telefone celular.
O caso foi registrado no Distrito Policial Sede de Guarujá como homicídio e suicídio consumado. A DDM da cidade investiga o caso sob sigilo.