A força-tarefa do Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público para o caso Marielle Franco denunciou três pessoas pelo vazamento de informações da operação que prendeu os executores da vereadora e Anderson Gomes. Entre os denunciados, que já viraram réus, está um PM.
O trio é acusado de vazar informações da operação de março de 2019 que prendeu os ex-PMs Ronnie Lessa e Elcio de Queiroz, que hoje respondem pela execução.
Os novos denunciados foram:
- o policial militar Maurício da Conceição dos Santos Júnior, conhecido como Mauricinho;
- Jomar Duarte Bittencourt Júnior, o Jomarzinho, – filho de um policial federal aposentado;
- Maxwell Simões Corrêa, o Suel – que é réu e está preso por outro processo do assassinato. No caso Marielle, ele é acusado de monitorar os passos da vereadora e ajudar no desmanche do carro usado no crime.
A denúncia já foi aceita pela Justiça. Os réus vão responder pelo crime de obstrução de investigação envolvendo organização criminosa. Se condenados podem pegar até 20 anos de cadeia. O Ministério Público pediu, mas a justiça negou o pedido de prisão dos acusados. No entanto, decidiu suspender o PM da função pública e o porte de arma dele.
De acordo com a denúncia do Ministério Público, foram encontradas trocas de mensagens em celulares que mostram que os três souberam da operação que culminou na prisão de Ronnie Lessa horas antes de ela começar.
Os promotores de Justiça destacaram que o vazamento causou prejuízo não apenas à operação Lume, mas também à apuração dos homicídios e de outros crimes a ele relacionados.
“De uma certa forma não tem como mensurar o número de pessoas atingidas, receptores dessas mensagens de vazamento, é óbvio que isso prejudicou o tempo de conclusão das investigações. A suspeita é justamente que o vazamento como esse faz com que as pessoas que receberam essas mensagens se articulem, pra conseguir eliminar as provas mais cabais. Foi uma investigação longa. Caso não tivessem ocorrido esses vazamentos, poderia ser concluído mais rapidamente”, diz a promotora da Força-Tarefa MPRJ Patrícia Costa.
A denúncia foi recebida pela 33ª Vara Criminal. Foi determinando, ainda, que o denunciado Jomar Junior não mantenha contato com as testemunhas arroladas no processo ou com os demais denunciados, se apresente bimestralmente em Juízo e fique proibido de se ausentar do Rio de Janeiro sem prévia autorização judicial.
Tentativa de fuga
Segundo o MP, outra prova do vazamento foi o fato de Ronnie Lessa ter tentado fugir do condomínio onde morava, na Barra da Tijuca, no momento da prisão.
De acordo com o registro de ocorrência da prisão em março de 2019, por volta de 04h20 da manhã do dia da Operação Lume, um carro importado de cor branca, foi visto saindo do condomínio de Lessa. O motorista viu a viatura da polícia, com giroflex ligado, e acelerou. Era Ronnie Lessa.
Em depoimento prestado na última segunda-feira no Supremo Tribunal Federal, Elcio de Queiroz confirmou que Ronnie Lessa repassou a informação de que a ação policial iria ocorrer em 12 de março de 2019.
Élcio de Queiroz em depoimento no STF sobre o caso Marielle — Foto: Reprodução
“Jomarzinho foi no dia anterior, ele ligou pro Lessa à noite, não sei se foi mensagem. Ronnie, ele falou pra mim que teria uma operação pra prender. Eu perguntei quem seria preso, ai ele falou que seria ‘doutor Rivaldo’. Se ele foge e eu sou preso, ameniza a situação, alguém tem que ser preso,’ avaliou Élcio de Queiroz no depoimento.
Assassino confesso de Marielle e Anderson, Ronnie Lessa foi preso em março de 2019, um ano após o crime, pelo Ministério Público estadual do Rio e pela Polícia Civil. Desde então, está em um presídio federal. Por quatro anos se manteve em silêncio e negando a participação no crime, mas posteriormente fechou uma delação premiada.
Em 2023, após a entrada da Polícia Federal no caso, o motorista do Cobalt, o ex-policial Élcio de Queiroz também fez uma colaboração premiada em que confessou a participação da dupla no crime.
Após as adelações, o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro Domingos Brazão e o irmão, o deputado federal Chiquinho Brazão foram presos, apontados como mandantes do crime. O delegado Rivaldo Barbosa, ex-titular da Delegacia de Homicídios, também foi preso, por ajudar a planejar o crime.
Os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão e delegado Rivaldo Barbosa sempre negaram qualquer envolvimento com os assassinatos de Marielle e Anderson.
Também foram presos Ronald Paulo de Alves, acusado de acompanhar os deslocamentos de Marielle e o ex-assessor Robson Calixto Fonseca, conhecido como Peixe. Ele vai responder por integrar a organização criminosa com os irmãos Brazão.
O que dizem os citados
A defesa de Maxwell Simões informou que só vai se pronunciar depois de ter acesso aos autos do processo. A produção do RJ2 não obteve contato com os outros recém-denunciados.
A corregedoria da PM informou que suspendeu o PM denunciado com medidas restritivas de porte de arma de fogo.